Sindicatos comentam relevância de 1 º de maio

1,1 milhão de pessoas são esperadas apenas para as festas  da CUT e da Força Sindical; saiba mais sobre a história do feriado.

Próxima terça-feira, 1º de maio, é comemorado o Dia Mundial do Trabalho. Na cidade de São Paulo, ao menos duas grandes festas estão previstas para a data: uma promovida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outra por um grupo de sindicatos liderados pela Força Sindical. Outras manifestações acontecerão com participação de menos pessoas, como a passeata organizada pela Central Sindical Popular (Conlutas).

Para a festa que será promovida pela CUT, entre os dias 30 e 1º, são esperadas cerca de 100 mil pessoas no Vale do Anhangabaú. Está prevista para a festa seminários com representantes dos países dos Brics e do Mercosul, além de shows com nomes como Leci Brandão, Arlindo Cruz, Belo, Grupo Bom Gosto, Pixote, Paula Fernandes e Elba Ramalho.

A outra comemoração acontece dia 1º na praça Campo de Bagatelle, em Santana, e será organizada por um grupo de sindicatos liderados pela Força Sindical. São esperados cerca de 1 milhão de pessoas para a festa, que terá shows de Paula Fernandes, Eduardo Costa, Marcos Belutti, Edson & Hudson, João Netto & Frederico, Léo Magalhães, KLB, Daniel, César Menotti & Fabiano, Inimigos da HP, Padre Alessandro Campos e Latino. Haverá ainda, sorteio de prêmios.

Ambas as festas são patrocinadas por grandes empresas, dentre elas Bradesco, Petrobrás e Brahma. João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário geral da Força Sindical, não vê conflito nisso: “O Chico Buarque também é patrocinado. O 1º de maio hoje já não é mais o que era feito há outros tempos. Antes o 1º de maio era de confronto contra os integralistas em 1924, era outro momento político. Hoje o sentido melhor é o de se inserir na sociedade e ter influência. E você não faz isso só com palavras de ordem”.

Viviane Barbosa, assessora de imprensa da CUT, também não vê conflito. “Nós queremos reflexão e luta. O evento atrai as empresas porque 100 mil pessoas atraem merchandising, mas isso não siginifica que essas empresas influenciarão o nosso pensamento. A CUT continua autônoma e independente. Se houver greve dos petroleiros da Petrobrás nós vamos apoiá-los. Nós sabemos o nosso lado”, explica.

A história do feriado

O 1º de maio remete a 1886, quando trabalhadores de Chicago iniciaram greve geral pela redução da jornada diária de 13 para oito horas. Três dias depois, 12 trabalhadores foram mortos pela polícia. Três anos mais tarde a Segunda Internacional Socialista instituiu o 1º de maio como dia de protestos anuais, em homenagem aos trabalhadores de Chicago. Foram novamente reprimidos. Somente em 1919, o 1º de maio vira feriado, na França; em 1920, na Rússia, que é seguida por outros países. Estados Unidos e Canadá até hoje não reconhecem a data.

Instituído no Brasil em 1925, o Dia do Trabalhador é historicamente utilizado como palco para acontecimentos políticos do país. Foi assim em 1943, quando Vargas sancionou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), norma legislativa seguida até hoje no país. Na era Vargas e ainda hoje, a data é utilizada para anúncio de medidas trabalhistas, como o aumento do salário mínimo.

Durante a Ditadura Militar, ao menos dois eventos marcaram a data no país. O primeiro deles teve início em março de 1979, começou a greve dos metalúrgicos do ABC, retratado pelo documentário ABC da Greve. No feriado de 1º de maio, os trabalhadores em greve participaram de uma missa no Paço Municipal de São Bernando, com presença de mais de 150 mil pessoas.

Dois anos depois, o que marcaria a data seria um fato trágico. Insatisfeitos com as medidas de João Batista Figueiredo em direção à abertura política do regime, militares da ala linha dura puseram em curso o plano de explodir bombas durante o show de comemoração do Dia do Trabalho no Riocentro, Rio de Janeiro. O plano não deu certo.

O programa Arquivo N relembra o caso. Participavam do show, no dia 30, artistas como Gal Costa, Luiz Gonzaga e Chico Buarque. Quando Alceu Valença e Elba Ramalho estavam se apresentando, uma bomba explodiu no estacionamento. Ela estava num Puma, no qual estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário, morto com a explosão, e o capitão Wilson Luís Alves Machado, que ficou ferido. Outra bomba, que não chegou a explodir, foi encontrada embaixo do palco.

O Brasil de hoje

Atualmente o cenário é outro. O Brasil é democrático há cerca de 25 anos e sua economia vem se fortalecendo. As demandas dos trabalhadores também mudaram. “Hoje estamos defendendo a redução de carga horária para 40 horas, queremos o fim do fator previdenciário, que prejudica a aposentadoria, redução dos juros”, define João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.

Juruna também defende a greve, mas como último recurso de luta. “Busca-se negociação e, se não tiver acordo, parte-se para a greve. A greve sempre foi o último instrumento. A greve tem de ser articulada para ter o apoio da sociedade em geral, senão não adianta”, define. O sindicalista também ressalta a importância dos sindicatos: “O 1º de maio é um marco social, remete aos trabalhadores que lutaram pela redução da jornada nos Estados Unidos. Essa marca tem de ser reverenciada do ponto das conquistas que foram feitas. Mas nós temos de saber que eleições democráticas não substituem as lutas sociais através dos sindicatos e das unidades de classes”.

Na USP

Procurado pela redação do JC, o Sintusp informou, por meio de Neli Wada, que participará entre os dias 27 e 30 do Congresso Nacional da Conlutas, em Sumaré. Para o feriado, participarão do ato da Conlutas, que partirá do vão do Masp e seguirá em passeata até a Praça da República.

Apesar de ser associada à CUT, a Adusp, por meio de sua assessoria, informou não ter nada programado para a data.

(infográfico: Carolina Vilaverde)
(infográfico: Carolina Vilaverde)