Cresce oportunidade de intercâmbio na USP

Número de alunos que procuram experiências acadêmicas e culturais em universidades do exteriorcresceu 20% nos últimos quatro anos

“Interesso-me pela história da USP, que foi muito influenciada por pensadores franceses. Fui pesquisando as raízes da Universidade e percebi que estes intelectuais tinham uma formação francófana. A partir daí começou a surgir o interesse”, conta Arthur Hussne, mais conhecido como Tuca, do 3º ano do curso de História, sobre sua vontade de fazer intercâmbio. Ele estudava francês há um ano e meio e este ano começou a se preparar para viajar a França, para estudar na Paris IV da Universidade Sorbonne.

A documentação exigida pela Comissão de Cooperação Internacional (CCINT) da Filosofia, incluía seu histórico escolar, o curriculum e um projeto de estudos – todos estes com duas vias, uma em português e outra em francês. Ele também participou de uma entrevista, com um professor de seu departamento. “Eu estava bem nervoso, por que estava estudando francês há um tempo e fiquei nervoso em ter que falar ali por dez minutos. Mas ele me tranquilizou e disse que era algo bem simples”, relatou o estudante.

Internacionalização

Em várias unidades da USP, há cada vez mais oportunidades de vagas para alunos que desejam uma experiência acadêmica e cultural no exterior. Em 2011, 1190 alunos da graduação da USP fizeram intercâmbio, um aumento de 20% em relação a 2008. Seja pela Comissão de Cooperação Internacional (CCINT) central da USP, ou pelas Comissões de Relações Internacionais (CRINT) das unidades, o processo de internacionalização da USP expande-se principalmente após a recente divulgação da Reitoria de mais de 1.000 bolsas de estudos no exterior.

Outra estudante, Lara Vilela, do 3o ano da FEA aguarda a confirmação da Universidade Carlos III, em Madri, para embarcar. “Ainda não tenho visto nem documentos, porque ainda estou esperando a universidade fazer contato. Isso deve acontecer em maio porque oficialmente eles não me aceitaram”, conta a aluna, que quer fazer intercâmbio para a Espanha por interessar-se pela cultura e língua.

Atualmente, o CCINT tem 363 convênios ativos com 48 países, de acordo com dados do sistema Mundus. Estes números são ainda maiores quando são considerados os convênios que cada unidade tem autonomia para firmar com outros cursos do exterior. De acordo com o destino e necessidade do aluno, ele pode buscar o edital que mais lhe convém.
Foi o caso das alunas Denise Eloy, do quarto ano de jornalismo, e Renata Franco, do quinto ano de Publicidade e Propaganda da ECA. Ambas queriam viajar para a América Latina e procuraram editais específicos para estes países. Tentaram pelo CCINT, que exige uma prova e uma entrevista, e pelo CRINT da ECA, onde acabaram escolhendo viajar para a Universidad de Desarrollo, em Santiago do Chile.

A USP e os convênios com Universidades no exterior (infográfico: Luiza Whitaker/Renata Rogé)

“Nos casos dos países que são mais procurados, como Espanha, rola uma seleção. Tem gente que fica de fora, porque tem mais inscritos do que vagas. No CRINT é mais tranquilo, porque não tem um processo seletivo de fato”, disse Denise.

Para viajar, é preciso montar um plano de estudos, explicando para o coordenador do convênio os seus motivos e expectativas para o intercâmbio, detalhando a grade e disciplinas a serem cursadas. Cada edital tem uma seleção própria e pode exigir documentos diferentes, como uma carta de recomendação, uma prova de tradução na língua do país de destino ou entrevista.

Luís Felipe Cirino, estudante do quinto ano de Direito em Ribeirão Preto, conta que quando se inscreveu para um edital com destino à França considerou a prova do CCINT fácil. Além desta, teve de fazer uma entrevista com um professor em francês para explicar sobre suas expectativas gerais e os recursos para se manter no exterior. Ele conta que em Ribeirão, os intercâmbios são intermediados apenas pelo CCINT central, pois lá não há um escritório específico para o curso, mas que os editais são amplamente divulgados por e-mail.

O estudante de Direito teve de deixar tudo preparado para cursar a Université Paris 8 , até receber a resposta confirmando a sua aceitação pela Universidade, apenas um mês antes do início das aulas.

Tuca também precisou apresentar provas de que teria recursos para se manter no exterior, principalmente na França,em que o custo de vida é estimado em cerca de 800 euros por mês. “No geral, o processo não é difícil, o que é difícil são pessoas que não tem como se manter lá. (As bolsas) Vão ajudar muita gente que conhece o idioma, mas não tem condições de se manter”, acrescentou.

Malas Prontas

Uma vez que a parte burocrática é resolvida, a viagem de fato começa. Denise e Renata, que estão no Chile há cerca de três meses, relatam o choque cultural que vivenciaram no novo país, apesar da proximidade com o Brasil. “Em um país da América Latina, a gente vê como não conhecemos nada [da região]. As pessoas têm um estereótipo do que é ser brasileiro, francês, mas tem que rolar essa desconstrução”, contou Denise. As estudantes da ECA cursam uma universidade privada no Chile e, segundo elas, muito diferentes do ambiente da USP. A faculdade é afastada do centro e próxima dos bairros nobres de Santiago, sendo o equivalente a uma ESPM, no Brasil, de acordo com Renata. Para elas foi um choque a princípio difícil e uma questão que a USP deveria refletir. “Acho que tem que ter certo cuidado nas escolhas de convênios. Se a gente quer enriquecer em trocas de experiências e produções, tem que ter cuidado para que sejam aquelas que tenham perfis mais abertos e democráticos”.

Na França, Luís montou sua grade para cursar disciplinas eletivas, mas tentou adaptá-las para que ficasse com dias livres para viajar pela Europa. Morador da residência da universidade destinada para estrangeiros, ele disse que esta foi a melhor experiência da viagem. “Os parisienses são mais fechados. Consegui fazer bons amigos, mas os melhores eram de fato estrangeiros – da Alemanha, da Itália, da Turquia”. Para o estudante de Ribeirão Preto, acostumado com a distância de casa, as saudades não foram tão difíceis. “A gente faz tanta coisa boa; eu viajei e estudei tanto que não deu pra morrer de saudades”.

Já para Renata, as saudades de algumas coisas do Brasil, como a comida, são grandes, porém saudáveis. Ela aproveita este tempo no exterior para fazer coisas que não tinha tempo em São Paulo, como estudar, ler livros e ver filmes que no Brasil não tinha oportunidade. “Estou fazendo o que sempre quis, me distanciei um pouco da Publicidade para pensar na parte mais artística”, acrescentando que já pensa em ideias para o seu Trabalho de Conclusão de Curso.
De volta ao Brasil, Luís também se baseou na disciplina “História das Repúblicas” que cursou na Paris 8 ,como inspiração para o seu TCC. Ele também tenta validar as disciplinas que cursou em Paris como créditos de optativas livres para sua graduação.

Mais de 1.000 bolsas para o exterior

No início de abril, um programa inédito entre universidades brasileiras concederá mais de 1.000 bolsas – 876 bolsas de estudos para alunos de graduação em universidades estrangeiras e 150 bolsas de estágio internacionais -, de acordo com o boletim da Reitoria, USP Destaques. Serão dois tipos de benefícios: Bolsa Mérito Acadêmico e Bolsas de Empreendedorismo, e segundo o informe, o diferencial do programa é que será destinada “a todos os ramos do saber”.

Dentre os possíveis destinos estão Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Reino Unido, América Latina, Japão e China. Segundo a Reitoria, as universidades estrangeiras conveniadas estão preferencialmente classificadas entre as 350 colocações nos principais rankings mundiais de universidades.

Para o programa, foi destinada uma verba de cerca de R$21 milhões do orçamento da USP, e segundo a assessoria de imprensa da Reitoria, “esse programa irá evidenciar ainda mais o potencial da Universidade em relação à sua reputação no exterior. Internamente, incentivará as Unidades a investirem mais em pesquisas e a buscarem o duplo diploma”. O valor das bolsas chegam a 1300 libras esterlinas, que arcam com custos de mensalidade e seguro de saúde, e podem incluir despesas de passagens aéreas e custos com material ou acomodação.

As inscrições começaram em 9 de abril, e a partir de então cada unidade da USP terá o prazo de 90 dias para encaminhar os nomes dos estudantes selecionados à Comissão Coordenadora do Programa de Bolsas.