Velódromo deve virar arena multiuso

Enquanto a reconstrução ainda está em fase de projeto, festas no local já estão proibidas
Obras na pista de atletismo já estão em andamento (foto: Gustavo Pessutti)
Obras na pista de atletismo já estão em andamento (foto: Gustavo Pessutti)

“O velódromo está condenado. Primeiro que ele já está fora das normas. Um velódromo adequado teria piso de madeira, cobertura, etc. Hoje tem até árvore crescendo no meio da pista, fora todo o comprometimento estrutural. Há locais que deveriam estar interditados, como aquela cobertura cheia d’água, que representa uma carga enorme.” É dessa maneira que Eduardo Castro Mello, um dos sócios da empresa resposável pelo projeto da reconstrução do velódromo da USP, descreve a situação atual do espaço que outrora serviu para competições de ciclismo. Construída para os Jogos Pan Americanos de 1975 (que foram transferidos para a Cidade do México devido a um surto de meningite no Brasil), a estrutura do velódromo será reformulada pela primeira vez.

Sob supervisão da COESF (órgão de engenharia da USP), o projeto arquitetônico da reforma é parte do novo Plano Diretor do Cepeusp e ainda está em fase de elaboração. O encargo foi assumido em junho pela Castro Mello, empresa de arquitetura esportiva que projetou, por exemplo, o Estádio Nacional de Brasília. Tanto Eduardo Castro Mello quanto o diretor do Cepeusp, Carlos Bezerra de Albuquerque, revelam que a ideia central é fazer uma arena multiuso que receba atividades esportivas e culturais da USP. Mais do que isso, o projeto não deve prever a inserção de um velódromo em si na nova estrutura. “Nós estamos imaginando um projeto que dê uma utilização melhor do espaço para o centro esportivo. Particularmente, eu acredito que um velódromo ali não tem nada a ver com a Universidade. Um velódromo tem a ver com a cidade”, afirma Castro Mello. A pista mais próxima do município São Paulo fica em Caieiras, a 40 km da capital.

Nesse sentido, Carlos Bezerra de Albuquerque considera que a construção do velódromo “foi um erro de planejamento estratégico (…) Nós herdamos uma situação. O que temos que fazer agora é cuidar de quem vem ao Cepeusp“. De acordo com Eduardo Castro Mello, nem é mais possível utilizar a estrutura atual como base para a “nova arena”, já que o custo seria altíssimo e o resultado muito aquém do esperado. O projeto já leva em consideração a demolição do velódromo e a construção de um espaço totalmente novo.

E o custo para consertar esse “erro” ainda é indefinido – não há estimativa de orçamento para a reforma. O prazo de entrega do projeto é dezembro deste ano. Quando ficar pronto, ainda precisará ser aprovado para que a licitação da construtora tenha início. A previsão particular de Carlos Bezerra – um “chute total”, conforme ele mesmo classifica – é que as obras comecem na metade de 2013.

Matheus Yamada, tesoureiro da Atlética Acadêmica Politécnica, afirma que a reforma é muito bem-vinda, e demonstra expectativas altas quanto ao que será construído, especialmente em relação à criação de novas quadras poliesportivas. “A procura por quadras pelas atléticas é muito maior do que a disponibilidade delas e a construção de novas áreas esportivas poderia colaborar muito para desafogar as reservas dos módulos. (…) Para uma atlética, é muito mais vantagem ter praças esportivas de qualidade suficientes dentro do campus do que um local onde seria possível realizar uma festa para arrecadar o dinheiro necessário para alugar quadras fora dele”.

Proibição para festas

No mês passado, o Cepeusp enviou a todos os órgãos, unidades e entidades da USP um ofício em que comunicava que a realização de festas no velódromo só seria permitida até o dia 31 de julho. Depois dessa data, festas naquele espaço passaram a ser proibidas. Segundo Carlos Bezerra de Albuquerque, o principal motivo da decisão foi a grande sensação de insegurança em relação ao que poderia acontecer durante as festas. “Havia um risco sério de morte, então a gente estava muito desconfortável. Se acontece alguma coisa séria, vão falar que o Cepe não deveria ter oferecido o espaço. Tem essa co-responsabilidade. A situação estava preocupando demais”, explica. A sensação de insegurança vinha principalmente do volumoso afluxo de pessoas sem controle de entrada e da grande quantidade de bebida alcoólica ingerida pelos frequentadores.

O velódromo está fechado para competições desde o início da década de 1990. A partir de então, a realização de festas passou a ser um uso alternativo para uma estrutura que deixou de poder abrigar as atividades para as quais ela foi concebida. Anualmente, as nove entidades acadêmicas da Escola Politécnica costumavam promover cerca de oito festas no velódromo. Além disso, o espaço também foi sede da FestECA nos últimos dois anos.

Para Matheus Yamada, “a proibição traz uma grande preocupação para essas entidades que, desde que perderam o repasse dos aluguéis das suas respectivas lanchonetes e xerox, dependem diretamente da realização de eventos do porte do velódromo para se sustentarem financeiramente.”

A solução a curto prazo foi recorrer a um espaço da própria Poli. No último dia 17 de agosto, a Festa Junina, organizada conjuntamente pelas nove entidades, foi realizada com as adaptações necessárias no estacionamento da Escola Politécnica.

Apesar dos problemas e das dificuldades que a proibição pode causar, Yamada reconhece que o velódromo não era o lugar ideal para a realização de eventos de grande porte. “Exigia uma atenção constante por parte da organização para que os poços e as bordas estivessem sempre fora do alcance do público. Isso, somado com a proximidade da reforma do Cepeusp, justifica a proibição, (…) mas a preocupação com o futuro das festas de grande porte se mantém.”

Reformas na pista de atletismo

A reconstrução do velódromo ainda está longe do início, mas a pista de atletismo do Cepeusp já começou a ser remodelada. Com orçamento de R$ 2.743.92,45, a reforma vai gerar uma nova pista de corrida de 400 metros e áreas específicas para saltos e arremessos. As obras tiveram início no dia 6 de agosto e, até o próximo dia 23, elas estarão totalmente cercadas pelos tapumes.

Carlos Bezerra de Albuquerque explica que o objetivo das reformas “é fazer a revitalização do centro e dos espaços para que as pessoas possam utilizá-los com mais qualidade. Não tinha mais como continuar, tanto o velódromo quanto a pista. Era correr no cimento com pedrinhas.” O diretor do Cepeusp ainda ressalta a importância da nova pista para os praticantes do atletismo: “É um resgate tanto da área que estava completamente abandonada quanto da própria modalidade atletismo, que é a base de tudo”. Sua previsão é que a pista seja entregue aos usuários do Cepeusp em janeiro de 2013.

Apesar do dicurso otimista de Albuquerque, a reforma demorou a começar. O projeto arquitetônico inicial, elaborado em 2007, foi finalizado apenas em abril de 2010. A licitação para a construtora, por sua vez, aconteceu somente no último dia 30 de maio, quando a Playpiso foi anunciada como responsável pela obra. O contrato foi assinado em 30 de julho.

Arthur Peão, vice-presidente externo da Atlética Acadêmica Visconde de Cairu, da FEA, reafirma a necessidade da construção de uma nova área de atletismo. “É muito bom, já que vai melhorar as condições de treino. A pista estava em um estado precário.” A FEA possui uma das melhores equipes de atletismo da USP. Segundo ele, os atletas terão que se adaptar e treinar na raia ou até mesmo na rua.

Peão espera que a reforma termine no tempo estimado. O tesoureiro da Atlética Politécnica, no entanto, tem uma visão mais pessimista. “Acreditamos que apesar dos esforços da diretoria do CEPEUSP a reforma pode atrasar o prazo de conclusão, pois toda obra está sujeita a imprevistos”, afirma Matheus Yamada.