Festival propõe reapropriação do espaço público pelo esporte

A psicóloga Tânia de Lima ensinou as Danças Circulares dos povos (imagem cedida por Maykell Araújo Carvalho).

Nos dias 5, 6 e 8 de novembro ocorreu a fase final do VI Festival de Ruas de Esporte, promovido pelo Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte (Prodhe) do Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP). O evento pretendia disseminar conceitos de autonomia e apropriação do espaço público através do esporte de qualidade. As oficinas e atividades foram realizadas em parceria com o Instituto Sou da Paz, a Fundação Gol de Letra, a Associação Esporte Solidário e o Laboratório de Estudos da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP, que promoveram práticas incomuns, como o Badminton, o Streetball, o Tchouckball, a Capoeira e as Danças Circulares.

Apesar de a 3ª fase do festival ser composta por práticas esportivas, a ideia principal era a de desenvolver os princípios defendidos pela Prodhe, que preza a “valorização do espaço público”. Através da promoção de atividades em locais públicos, buscou-se resgatar o que antes fazia parte do cotidiano dos jovens. Segundo Marcos Moura e Silva, coordenador da Prodhe, a apropriação desses espaços permite maior autonomia ao cidadão e contribui para o seu desenvolvimento ao longo da vida.

Marcos explica que o festival também vai contra o discurso da violência que faz com que “as crianças saiam das ruas”, seja pela restrição a condomínios e clubes privados, seja por processos públicos de institucionalização dos jovens. “A gente tem que saber conviver com esse espaço. Se não é mais a rua, pela questão da urbanização e outras transformações, resgatamos um pouco disso e usamos a praça, ou o parque”. Essa experiência, através do esporte, passa a ser importante em  todos os ciclos da vida.

Para o professor Reinaldo Pacheco, especialista em gestão pública da Educação e do Lazer, o rompimento do discurso “de um espaço público tomado pela violência” é importante para a defesa do Direito à Cidade, assim como o Direito ao Lazer, previsto pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Pacheco comenta que esse tipo de incentivo também contribui para ampliar “espaços de educação não formal” e de diálogo com a esfera pública, que deverá formular políticas nesse sentido.

Pensando nisso, Marcos critica a falta de atenção e de ações públicas relacionadas a prática esportiva de crianças e adolescentes. Para ele, o evento ajuda na discussão da USP como espaço público. “O Campus é fechado ou não?”. Sobre a restrição gerada pelo Bilhete USP, ele questiona se o recurso não deveria beneficiar aqueles que participam de programas esportivos ou culturais aqui dentro, e se isso não deveria se expandir para toda a cidade, através do Bilhete Único por exemplo. Reinaldo defende que a gratuidade para o transporte desses jovens garantiria a eles um deslocamento mais autônomo  e tornaria a cidade mais segura.

O Festival foi aberto ao público. Para Gregory Garcia, da Associação Esporte Solidário, e Mauricio Amatto da Fundação Gol de Letra,  a participação de jovens de fora dos próprios projetos foi muito pequena, mas o envolvimento dos educandos foi satisfatório.