Moradores consideram abusiva atuação da PM na São Remo

A comunidade Jardim São Remo, vizinha à USP, foi cenário de uma ação conjunta entre a PM e Rota, que tinha como objetivo a busca por dois suspeitos de terem executado o policial André Peres de Carvalho, no dia 27 de setembro. Além da prisão dos dois suspeitos, a operação também resultou na apreensão de entorpecentes, motos, armas, e na descoberta de uma refinaria de drogas e de um túnel que ligaria a São Remo à USP, que seria a porta de entrada do tráfico na Universidade.

Às quatro da manhã do dia 31 de outubro, os aproximadamente 120 policiais que participaram da ação se reuniram na entrada da comunidade e, só às 5h30, deram início às buscas. Givanildo Santos, vice-presidente da Associação dos Moradores do Jardim São Remo e funcionário do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), comenta que os policiais entraram nas casas de todas as pessoas que já tiveram passagem pela polícia, mas que não o fizeram de maneira adequada, forçando a entrada em algumas delas, sem terem mandado algum, derrubando portas, quebrando objetos e sem a presença de efetivo feminino que pudesse revistar outras mulheres. Ele também relata que, entre os muitos abusos cometidos por PMs durante a ação, dos quais ouviu falar, houve o de uma conhecida dele, também funcionária da Universidade, que foi agredida no rosto. “O pessoal ficou muito apavorado, aquele dia. O Circo-Escola fechou, as pessoas não podiam andar nas ruas e todos estavam com medo de ser agredidos”.

Quanto ao túnel que foi encontrado, Givanildo diz que o buraco atrás do campo de futebol já estava ali há muito tempo, embora a Associação já tivesse pedido para que ele fosse fechado, e que todos sabiam que ele existia, inclusive os policiais. “Não há como negar que na São Remo existem, sim, pessoas que estão inseridas no mundo do tráfico, mas a cobertura que a mídia faz desses eventos, acaba justificando ações absurdas da polícia e conquistando o apoio da sociedade”, uma vez que só o que se viu noticiado é que a PM estaria fazendo seu papel: caçando traficantes a qualquer custo. “Muita gente que mora em favela é gente correta e trabalhadora e paga pelas ações de uma minoria que age errado. Enquanto isso, a parte corrupta da polícia continua indo lá na comunidade pegar seu dinheirinho. São bandidos de farda”, completa.

Após a ação ocorrida na São Remo, viaturas da PM e da Rota têm feito rondas pelas ruas da comunidade diariamente. Com a Universidade se tornando cada vez mais fechada para quem é de fora, seus funcionários que moram na comunidade têm enfrentado algumas dificuldades para chegar ao trabalho, pois têm sido revistados a qualquer hora do dia, “fora o fato de não saber de quem a gente vai tomar algum tiro: se vai ser de um bandido ou de um PM. Quem deveria garantir a segurança das pessoas, acaba provocando mais medo”, conclui Givanildo.

Desde ação da PM em busca de suspeitos, Rota e Polícia Militar têm feito rondas diárias na comunidade (foto: colaboração Fernado Pivetti)