Cobertura da FAU é principal alvo de atual reforma

Obras no histórico prédio Vilanova Artigas fazem parte do Plano Diretor Participativo elaborado por alunos, docentes e funcionários da Faculdade

Está em curso a reforma da cobertura no prédio Vilanova Artigas, sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Na situação em que se encontra, a cobertura tem causado infiltrações, goteiras e tem debilitado a estrutura do edifício. A reforma tem previsão de dois anos e orçamento de mais de sete milhões de reais.

As ações da restauração atual são norteadas pelo Plano Diretor Participativo (PDP), elaborado entre 2009 e 2011 a partir de debates entre alunos, professores e funcionários. O guia tomou como base documentos internacionais sobre restauro e conservação de monumentos históricos e tem como objetivo central renovar o edifício sem alterar seu desenho original.

Ao longo de palestra realizada no dia 23, o diretor da PhD, consultoria que fiscaliza a obra, Paulo Helene, falou sobre os passos que já foram e que ainda serão dados ao longo da atual reforma.

São vários os fatores que tem contribuído para o mau escoamento da água da chuva no prédio, e sua consequente deteriorização, apontou Helene. Dentre eles, estão o baixo nível de caimento da cobertura, as alterações causadas pelo tempo e microfissuras no concreto.

“A água fica impregnada”, explica Maria Lúcia Bressan Pinheiro, professora da FAU e membro do Conselho Curador da instituição, “o que aumenta o peso da estrutura e corrói a armadura das vigas, criando novas fissuras e rachaduras no prédio”.

No planejamento da reforma atual, ao contrário das anteriores, consta a retirada das sucessivas camadas de impermeabilização aplicadas ao longo de décadas. Além de já obsoletas, elas aumentam muito o peso do fragilizado edifício. “Em alguns pontos, chega a haver 20cm de argamassa extra”, afirma Érika Kyushima, do Grupo Executivo de Gestão de Espaços Físicos (GEEF-FAU), um dos órgãos responsáveis por acompanhar a obra. “A estrutura do prédio é muito boa. Com tanto peso, já era para ter caído”, observa.

Está prevista também a drenagem das vigas que sustentam o teto, bem como a restauração da fachada do edifício. Com 110m de extensão, 66m de lado e 15m de altura, o paredão apresenta diversas rachaduras. “As pessoas passam lá embaixo correndo risco de vida”, alerta Helene, destacando o perigo oferecido pelo desplacamento de partes da estrutura de concreto.

A lavagem da empena, passo importante para sua recuperação, foi realizada com água e uma mangueira de alta pressão, e removeu a fuligem ácida que recobria a fachada e acelerava sua degradação. “Foi só depois de lavá-la que conseguimos ver a extensão do dano”, esclarece Érika.

Infográfico: Guilherme Speranzini. Fontes: GEEF-FAUUSP, Jatobeton e CONDEPHAAT. Fotos: GEEF-FAUUSP
Infográfico: Guilherme Speranzini. Fontes: GEEF-FAUUSP, Jatobeton e CONDEPHAAT. Fotos: GEEF-FAUUSP

A obra tem sido realizada entre as 23h e 6h, e do meio-dia às 14h, para evitar transtornos durante os horários de pico do edifício. Ainda assim, alguns alunos se queixam: “Às vezes o barulho da obra atrapalha o fim das aulas da manhã”, aponta Rodrigo Chedid, do primeiro ano de arquitetura. “A martelação incomoda”, declarou também Miho Kato, aluna do 3o. ano do curso. “Mas o pior é a camada de pó que fica nos estúdios, principalmente no 2”, completa ainda.

Para o Grêmio da FAU (GFAU) , a problemática está no “discurso superficial [que] fica preso apenas ao aspecto participativo do plano sem atingir de fato as questões que envolvem o espaço”. O Grêmio lamentou também que “o único momento de discussão sobre a reforma da cobertura com a comunidade FAU teve caráter somente ‘informativo’”.

Apesar disso, José Henrique de Mattos, da Jatobeton, empresa que realiza a obra, está otimista: “O que pode dar errado é se, após a conclusão dos serviços, não houver manutenção periódica, de acordo com o que ficou previsto”. Bruno Padovano, professor da FAU, concorda: “A reforma deve garantir a segurança estrutural do edifício e estabelecer um processo de manutenções periódicas capazes de resolver o problema de sua conservação”. “É importante manter um registro dessa reforma e dos processos de manutenção, com perícias técnicas sendo realizadas segundo intervalos regulares de tempo”, conclui Padovano.

Para Helene, é importante ressaltar que qualquer tipo de impermeabilização dura no máximo pouco mais de uma década. “Temos que aprender a conviver com isso, não há solução mágica”, declarou o professor. “Esse tipo de reforma é um processo lento e que até desanima, mas que apresenta um saldo muito grande”, completa Maria Lúcia.

“A cobertura é única, por isso sua reforma apresenta dificuldades únicas”, declara Maria Lúcia Bressan, membro do Conselho Curador. Foto: Guilherme Speranzini
“A cobertura é única, por isso sua reforma apresenta dificuldades únicas”, declara Maria Lúcia Bressan, membro do Conselho Curador. Foto: Guilherme Speranzini