Reitor escolhe nomes da Comissão da Verdade

A Reitoria da USP anunciou no Diário Oficial do Estado, no último dia 8, os nomes dos sete professores que irão compor a Comissão da Verdade da USP. São eles: o jurista Dalmo de Abreu Dallari, ex-diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, escolhido para presidir a Comissão, Erney Felicio Plessmann de Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas; Eunice Ribeiro Durham e Janice Theodoro da Silva, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida, do Instituto de Relações Internacionais; Silvio Roberto de Azevedo Salinas, do Instituto de Física; e Walter Colli, do Instituto de Química.

Porém, essa Comissão da Verdade tem causado grandes controvérsias dentro e fora da USP, uma vez que, de acordo com o Fórum Aberto pela democratização da Universidade, composto por entidades representativas de professores, funcionários e estudantes das áreas de graduação e pós-graduação, essa Comissão desrespeitou acordos anteriores, pelos quais as indicações seriam feitas de forma democrática e com o respaldo do Conselho Universitário.

Para o jurista Dalmo Dallari, eleito presidente da Comissão, o reitor elegeu nomes que lutaram abertamente e tiveram ampla participação no combate à ditadura. Ele ainda disse que não considera a atitude do reitor autoritária. “O fato dele ter criado uma Comissão da Verdade da USP é muito bem-vindo e será uma honra presidir a comissão”. Dallari completou que somente o trabalho dirá como se darão as investigações e que se for preciso ele mesmo poderá estender o tempo de um ano de vigência da Comissão.

Já o Fórum Aberto pela Democratização da USP viu a atitude da reitoria como uma ação autoritária, na contramão do que se espera de uma Comissão que defenda a democracia. O grupo ainda reconheceu, em nota em seu site oficial, que essa nomeação era um golpe da reitoria, a partir do momento em que interrompeu as negociações que vinham sendo feitas desde novembro do ano passado, quando foram entregues à reitoria aproximadamente 5 mil assinaturas de professores, funcionários e alunos da USP que reivindicavam a criação de uma Comissão da Verdade democrática.

De acordo com Renan Quinalha, membro da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, para a imprensa essa Comissão pareceu ter atendido à reivindicação do movimento da universidade, o que não é uma verdade. Embora o Fórum ainda não tenha decidido que posição irá tomar, nem, inicialmente, se colocado contra nenhum dos nomes escolhidos, a entidade pretende divulgar e chamar atenção para a forma com que foi criada essa Comissão.

O professor Adrián Pablo Fanjul, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, acredita que essa nomeação reflete a atual situação antidemocrática da própria universidade. “A proposta não se vincula apenas ao passado, mas ao presente, já que, na USP, subsiste um regimento disciplinar herdado da ditadura.”

Fanjul ainda disse que foi o Fórum Aberto pela Democratização da Universidade, e não a reitoria, que conseguiu apoio e reconhecimento da Comissão Nacional da Verdade, que chegou a mandar um ofício ao reitor manifestando esse apoio à iniciativa do movimento. “É um contrassenso e uma falta de respeito que esta reitoria se aproprie de algo tão sentido pelos que lutam pela democracia na Universidade de São Paulo”. A assessoria de imprensa da reitoria não quis se pronunciar sobre o assunto.