Professor contesta eficácia de vigilância

Documentos ultrassecretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) revelaram que a presidente Dilma Rousseff, seus assessores e a Petrobrás foram alvos da espionagem americana. A apresentação foi vazada por Edward Snowden para o jornalista americano Glenn Greenwald e transmitida no Brasil pelo Fantástico. A presidente ainda espera respostas da Casa Branca que se comprometeu a investigar o caso.

Para o professor Kai Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI), o que chocou a sociedade não foi a existência de um sistema de espionagem nacional em si, mas sim que os alvos eram países considerados “amigos” como o Japão e o México. Ele imagina que todos os países tenham serviços de espionagem, mas questiona a sua eficácia. “Na minha opinião, esses programas, além de uma quebra absurda da privacidade do Estado e do indivíduo, também não são eficientes. Eles [a NSA] buscam um controle para evitar ataques terroristas, o que é um objetivo inatingível, e, para isso, acabam violando os direitos humanos”, argumenta Lehmann.

A partir da divulgação das denúncias, a presidente Dilma Rousseff cobrou uma resposta do presidente americano, Barack Obama. Em conferência com a imprensa, ela declarou que pediu pessoalmente ao presidente para saber tudo o que havia sido investigado sobre o país. “Eu quero saber o que há. Se tem ou não tem, eu quero saber. Tem ou não tem? (…) Eu quero saber tudo que há em relação ao Brasil”.

Para Lehmann, a reação da presidente não foge das expectativas da política externa brasileira. Ele diz que Dilma está certa em mostrar indignação e cobrar respostas, já que não seria possível tomar medidas mais extremas, como cortar relações com os EUA, uma vez que nossa política e economia estão muito atreladas às deles.

Motivos
As razões para a espionagem ainda não são bem conhecidas. Segundo nota oficial da presidente, os objetivos eram econômicos e estratégicos, principalmente na investigação da Petrobrás. Para ela, a empresa representa um grande potencial na indústria do petróleo e não uma ameaça à segurança de outros países, o que invalidaria a justificativa de investigação antiterrorista. “Se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos”, foi a declaração de Dilma aos jornalistas.

Para Glenn Greenwald, as investigações são um reflexo do crescimento econômico brasileiro. “Quando o país fica mais independente, mais forte, como o Brasil está (…), competindo com os Estados Unidos, empresas americanas, (…) o governo americano pensa diferente sobre o Brasil”. Já para Kai Lehmann, as razões econômicas são apenas uma das causas de espionagem e ele imagina que podem haver outras.

Limites
As interceptações dos canais de comunicação da presidente e de seus assessores levantou questões sobre até onde é possível monitorar uma pessoa. Lehmann acredita que, se interessar, os EUA tem a capacidade de violar a comunicação e códigos de segurança de qualquer pessoa no mundo. Para que isso não ocorra, ele acha que é necessário uma movimentação política contrária, o que não existe nesse momento. “Não vejo uma indignação política sobre essas medidas e nem indignação da sociedade. Creio que em muitos países essas políticas são vistas como normais ou até como necessárias”.

Ilustração: Fábio Cavaton