Intercambistas se vêem prejudicados por greve

Muitos estudantes estrangeiros não terão a possibilidade de completar suas disciplinas caso o semestre seja cancelado ou haja uma extensão do calendário para os meses de férias por causa da greve. O não cumprimento do plano de estudos pode levar, além da perda dos créditos, à devolução de todo o dinheiro da bolsa adquirida dependendo do programa.
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), mesmo com os esforços do Grêmio em discutir essa situação em conjunto, os alunos de intercâmbio decidiram, em mobilização própria, furar a greve numa reunião no Piso do Museu (espaço gerido pelo grêmio).
“Todos estavam de acordo que as aulas, para nós, deveriam continuar pois temos de apresentar resultados nas nossas faculdades de origem e o prazo não pode ultrapassar o calendário das aulas estabelecido pela USP, 10 de dezembro”, comenta J.C., aluna de intercâmbio de Portugal que cursa arquitetura. “Não somos contra a greve, acho que devem lutar por vossos direitos. Só não queremos ser prejudicados pelo que está acontecendo na USP”, completa. A estudante não é bolsista, mas sem créditos para ganhar equivalência terá de custear novamente o semestre em sua universidade.
Fabian Scholz, estudante de Jornalismo vindo da Espanha, concorda. “Não participei das atividades de greve porque não cabe a mim decidir o futuro da universidade de outro país onde ficarei apenas seis meses”. Fabian perdeu cerca de um mês de aulas por causa da greve com piquete do jornalismo, mas isso não afetou significativamente o calendário ou sua bolsa do Santander.
Enquanto Román Garcia, estudante de Ciências Sociais também vindo da Espanha, tem outra opinião. “Creio que fazer um intercâmbio significa uma imersão cultural em todos os aspectos. A greve é uma realidade deste momento da USP e, também, de um momento político concreto que está vivendo o Brasil. Acredito que todo aluno de intercâmbio tem a obrigação de se informar e participar da greve para compreender o que acontece no país e como poderia ajudar. Por exemplo, pelas experiências que tive na Espanha em mobilizações sociais, posso destacar algumas ideias de funcionamento de assembléias ou ações”. Román ainda corre risco de ter que restituir o dinheiro da bolsa caso não complete os créditos assinados em contrato.
Contudo, todos os entrevistados acreditam que alunos estrangeiros não deveriam ter direito ao voto para reitor por suas estadias breves na universidade. “Eu voto para reitor na Espanha, mas acredito que os estrangeiros lá, não. Aqui deveria ser igual. Não conhecemos a realidade da universidade logo que chegamos”, defende Fabian. Entretanto, segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), as eleições diretas propostas teriam a participação dos intercambistas. Mesmo esse assunto não sendo detalhadamente discutido, os estudantes que fazem intercâmbio detêm um número USP e são considerados parte do corpo discente, portanto teriam esse direito assim como nas eleições de chapas para o DCE.
Os intercambistas relatam que foram orientados a tentar acordos com os professores em uma reunião com os orgãos responsáveis pelos intercâmbios (CCint, Santander e própria bolsa da USP). No entanto, a Vice-Reitoria de Relações Internacionais ainda não respondeu ao jornal sobre os procedimentos adotados.