Morte na raia traz dúvidas sobre segurança

Afogamento ocorreu durante prática de stand-up paddle e vitimou empresário que treinava sem acompanhamento

Por Fernando Pivetti e Rogério Geraldo

Corpo de Everaldo Miranda foi encontrado por volta das 10 horas no dia 25 de fevereiro (Foto: Gabriella Feola)
Corpo de Everaldo Miranda foi encontrado por volta das 10 horas no dia 25 de fevereiro (Foto: Gabriella Feola)

A recente morte do empresário Everaldo Paulo de Miranda, 42, que praticava uma modalidade de remo na Raia Olímpica da Cidade Universitária, levantou controvérsias sobre a responsabilidade pela segurança dos praticantes de esportes em um local administrado pela universidade.
Everaldo era aluno de stand-up paddle, modalidade praticada em pé sobre uma prancha e desapareceu durante um treino na noite de 24 de fevereiro. Esportistas que estavam no local notaram a prancha flutuando sozinha e chamaram o resgate. Um praticante de remo, que não quis se identificar, afirmou que os próprios alunos ajudaram os bombeiros na procura pelo empresário. As buscas se seguiram até por volta das 23 horas, mas o corpo foi encontrado somente na manhã do dia seguinte. Elci Miranda, mãe do empresário, afirmou que ele treinava há apenas quinze dias.
O capitão Alexandre Antunes, que participou dos trabalhos de resgate, afirmou que o empresário não utilizava colete salva-vidas quando seu corpo foi encontrado e que a causa da morte não poderia ser confirmada em um primeiro momento. Também relatou que ocorrências de afogamento na Raia Olímpica não são comuns.
Carlos Bezerra de Albuquerque, diretor do Centro de Práticas Esportivas (Cepe), apontou que desde a sua construção, em 1975, o centro mantém convênios com clubes que utilizam a Raia para práticas de remo. São quatro entidades que, atualmente, pagam uma mensalidade, revertida para manutenção da estrutura local. Os clubes têm a prerrogativa e a responsabilidade pela indicação dos usuários, feita através da emissão de um ofício no qual apresentam os nomes daqueles que irão utilizá-la. A partir dessa relação, são emitidas as carteirinhas para liberar o acesso ao local. Bezerra declarou que, tanto o empresário envolvido no acidente, quanto o professor de stand-up paddle, Luiz Guida, são credenciados através do Sport Clube Corinthians Paulista.
Os responsáveis pela divisão de remo do clube não concederam entrevista sobre o caso. Em nota emitida no dia em que o corpo foi encontrado, eles afirmaram que não possuem uma equipe de stand-up paddle e que esta modalidade é de responsabilidade do professor Luiz Guida, sendo que a entidade apenas cede espaço no vestiário e fornece o acesso à Raia. Também disseram que não têm contato com o professor e que qualquer informação sobre ele deveria ser obtida na USP. O professor Bezerra, que é praticante de remo, afirmou que Luiz Guida é habilitado para dar aulas nesta modalidade. Na Raia, pessoas ligadas ao Corinthians disseram que o professor não ministra mais aulas no local.
Sobre as medidas de segurança, Bezerra declarou que o uso de coletes não é frequente em práticas de remo e no caso específico da prancha, o uso do leash, uma espécie de cordão que prende a prancha à perna do usuário, é dispensável no local, uma vez que não há qualquer correnteza que possa levá-la para longe do praticante. O diretor do Cepe justificou a ausência de salva-vidas na Raia devido a sua dimensão, sendo necessário um planejamento para se colocar uma equipe. Ele afirmou também que essas ocorrências são raras e, geralmente, os próprios clubes fazem o acompanhamento das atividades. “As modalidades de remo iniciam-se tradicionalmente em horários de pouca iluminação e a Raia da Universidade é segura nesses horários”.
Para avaliar o caso, há um inquérito policial aberto no 93° Delegacia de Polícia Civil do Jaguaré que visa levantar as circunstâncias da morte de Everaldo. O delegado Paulo Bittencourt informou que as investigações dependem do laudo do Instituto Médico Legal (IML) que deverá apontar as causas da morte do empresário.A partir dos resultados, poderá ser dado andamento ao inquérito, mas o delegado não antecipou informações para não atrapalhar as investigações. Apenas relatou que a avaliação poderá estar centrada na aptidão do professor Luiz Guida para dar aulas, assim como as responsabilidades pela segurança dos alunos.