Vacina contra a AIDS mais perto da realidade

Estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP obtém resultados positivos

Pesquisa de vacina contra HIV realizada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com o Instituto Butantã, apresentou, no começo de fevereiro, resultados positivos em testes realizados com macacos-rhesus.
Testada em quatro macacos, a vacina apresentou de 5 a 10 vezes mais reação do que nos testes feitos em camundongos anteriormente.
O teste realizado nos macacos buscou verificar o grau de imunogenicidade da vacina, ou seja, sua capacidade de desencadear uma reação do sistema imunológico ao vírus. Para cada um deles foram administradas 3 doses da vacina com intervalo de 15 dias cada. Após esse procedimento foram coletadas amostras de sangue dos animais e nelas foram introduzidos fragmentos do vírus, sendo essa a maior novidade da pesquisa.
Este é o primeiro experimento no mundo a trabalhar apenas com fragmentos do vírus. Até o momento, as pesquisas sobre o assunto utilizaram o vírus do HIV inteiro, mas por causa de sua alta taxa de mutação, a ação da vacina abarcaria uma parcela mínima da população, e ainda assim, seria incerta. A partir desse quadro, a pesquisa realizada pela FMUSP identificou 18 fragmentos de alta conservação, ou seja, que mais são encontrados em todos os vírus do HIV.

Próximas Fases

em um teste com 28 macacos, a partir de uma nova administração da vacina. Nela, pretende-se mesclar esses 18 fragmentos ao genoma de outros vírus atenuados anteriormente, afim de testar a melhor combinação para uma vacina voltada à população humana.
Após esse processo, será possível dar início à chamada Fase 1, na qual o experimento é repetido em um grupo de 50 pessoas soro-negativas – ou seja, não contaminadas pelo vírus –, para que assim seja testada a segurança e a reação imunológica das pessoas à vacina.

Testes em soro-positivos

O principal alvo do HIV é o leucócito T CD4, célula que organiza a resposta do sistema imunológico a alguns microorganismos, incluindo infecções por fungos, bactérias e vírus. É através do T CD4 que o vírus se reproduz e, uma vez que a vacina aumenta a quantidade dessas células de defesa, isso poderia acelerar o processo da doença em soro-positivos, pois o vírus teria mais alvos.
Por esse motivo, no estágio em que a pesquisa se encontra, a vacina não pode ser administrada a esse grupo. Assim, um dos próximos passos é testar se o aumento de T CD4 realmente prejudicaria pessoas já contaminadas com o vírus HIV. Caso seja provado que não, avançam os estudos para que a vacina possa ser aplicada em soro-positivos.

Pretensão

A vacina não tem pretensões curativas. No estágio em que a pesquisa se encontra, ela destina-se apenas à prevenção de pacientes não contaminados pelo vírus. “Trabalhamos agora em uma vacina que induz resposta imuneceluar, ou seja, ela pode diminuir muito a intensidade da infecção [quantidade de vírus no sangue]. Assim, ela torna bem menor as chances de contágio de uma pessoa para outra”, diz Edécio Cunha-Neto, um dos coordenadores da pesquisa.
Logo, a vacina seria capaz de diminuir bastante a quantidade, e consequentemente, a ação do vírus no organismo, retardando assim os sintomas, mas não o eliminaria. No momento, prevê-se que vacina seria ministrada a soro-negativos, e uma vez que esse grupo entrasse em contato com o vírus do HIV, demoraria a evoluir para um quadro completo de AIDS.