Escócia diz ‘não’ e fica no Reino Unido

(Infográfico: Arthur Aleixo)

A Escócia votou, no dia 18 de setembro, para se tornar um Estado independente ao Reino Unido. Enquanto o sentimento nacionalista pesava pela separação, o fator econômico pendia para a permanência da união. O “não”, que respondia a pergunta “A Escócia deve ser um país independente?”, venceu nas urnas escocesas com apoio de 55% dos eleitores contra 45% do “sim” à cisão — foram 2.001.926 votos frente a 1.617.989.

A vitória mostra que os separatistas não conseguiram convencer que o país teria mais a ganhar do que a perder com a separação.“O fato de não ter uma moeda própria foi decisivo. Nem a libra esterlina nem o euro poderiam ser adotados. No discurso econômico da questão por parte dos separatistas, o maior benefício seria as riquezas petrolíferas do Mar do Norte, que acreditam os nacionalistas.

“Uma Escócia independente teria maiores vantagens, mas isso não foi suficiente para convencer”, explica Edilson Adão, geógrafo e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Relações Internacionais da Faculdade de Campinas (Facamp).
A tentativa escocesa de independência foi falha, porém deu mais notoriedade aos movimentos dissidentes que populam pela Europa há anos.

O sentimento nacional-separatista europeu pode ser observado, pelo menos, desde o fim da Guerra Fria, mas, com a recente crise econômica, houve um agravamento desse desejo por independência. “Entendo que o retorno desses movimentos está atrelado à crise do neoliberalismo, pois a perspectiva da globalização neoliberal prega certa homogeneização e a cooperação em comunidades e blocos de integração, e tudo isso está sendo questionado hoje”, comenta Edilson.

OUTROS MOVIMENTOS

De forma geral, os movimentos separatistas europeus se apóiam em dois pilares. Em primeiro plano está uma demanda histórica por mais autonomia, que é amparada em questões de caráter social e cultural. O segundo aspecto é a perspectiva desses lugares de um futuro mais próspero, considerando que conseguem manter certo sucesso econômico em meio à crise europeia ou possuem riquezas que alimentam essa visão, como é o caso do petróleo do Mar do Norte que banha a Escócia, do rico território de Flandres e da indústria catalã.

Essa é uma região localizada ao norte da Bélgica. Lá o idioma é similar ao holandês, enquanto em Valônica, região sul, a língua falada é francês, o que faz com que a capital, Bruxelas, seja oficialmente bilíngue. Os flamengos reivindicam por sua autonomia não somente baseados no fator linguístico do país, mas em suas diferenças culturais e sociais. A região também é responsável por mais da metade da economia belga, e reclama de estar subsidiando economicamente a Valônia. A força política da região está na Nova Aliança Flamenga sob o comando de Bart De Wever.

Se a Bélgica já se comprometeria com a perda de Flandres, a Espanha tem catalães e bascos com fortes tendências separatistas, sendo ambos de regiões ricas do país. E essa briga é muito antiga. “Se você realizar uma varredura da Espanha desde o início do século XX, especialmente no período de Franco, verá que o separatismo sempre esteve ativo em catalães, tal qual em bascos”, afirma Edilson.

ESPANHA DIVIDIDA

No País Basco, a luta separatista ficou famosa pela organização militante clandestina ETA (Euskadi Ta Askatasuna – Pátria Basca e Liberdade) que em 50 anos de tentativas separatistas causou mais de 800 mortes. O grupo, porém, há três anos abdicou formalmente da violência. Em outubro do ano passado o Partido Nacionalista Basco venceu as eleições regionais, fortalecendo a aspiração separatista da área.

Na região catalã, a luta possui mais chances de ser vitoriosa. Atualmente, o lugar possui uma certa autonomia cultural e política, além de ter seu próprio parlamento regional. Porém isso ainda não é suficiente. “A Catalunha é uma região rica, assim como o País Basco, mas a identidade nacional nessas duas regiões é fortíssima; eles não se sentem espanhóis, simples assim”, explica o geógrafo.

O parlamento catalão havia aprovado no último dia 19 um plebiscito consultivo acerca a independência da região, porém o Tribunal Constitucional da Espanha adiou por cinco meses essa consulta, que passará agora por um período de avaliação no órgão espanhol.
“Eu não apostava na independência da Escócia, mas aposto na independência da Catalunha. Vamos ver em novembro, isso se Madri permitir que o referendo ocorra. Caso ocorra, a Espanha corre sérios riscos de se desmanchar, pois seria difícil (de) segurar os separatistas bascos e galegos”, comenta Edilson.

por ANA LUISA ABDALLA