Mostra evidencia chagas das ditaduras

“O conceito universal de vítima é um princípio arraigado no direito internacional e nos direitos humanos. Daí que a luta contra a impunidade seja obrigação de todos, porque todos somos afetados: a indiferença de uns poucos nos marca a todos”. Garzón, Baltazar, CONDOR.

Essa frase, escrita em uma das paredes da exposição “Operação Condor”, sintetiza bem o objetivo do evento. Realizada no Paço das Artes, dentro da Cidade Universitária, a mostra que reúne 113 imagens do fotógrafo João Pina visa retratar a dor, o desolamento e o descaso para com os que vivenciaram as ditaduras. São histórias de brasileiros e outros sul-americanos diretamente afetados, principalmente pela Operação Condor.

O evento apresenta fotografias de campos de concentração na América Latina, onde os presos políticos ficavam confinados sem direito a julgamento. No Brasil, Pina fotografou antigos centros de detenção, como a antiga sede do DOI-Codi em São Paulo, que hoje abriga a 36ª DP, na Vila Mariana.

Há também imagens de centros de tortura e interrogatórios, ossadas incompletas, cemitérios em que a identificação das valas consiste apenas em placas com números, ou que nem possuem identificação. Porém, o objetivo da mostra não é chocar o público com imagens fortes ou mórbidas. O tom de inconformidade e de abando é o que predomina nos corredores. Por isso, logo na entrada há uma seqüência de fotografias de individuos segurando uma placa com números, mas não há nenhum nome para identificá-las. São desconhecidos, cuja identidade se perdeu (ou lhes foi roubada) no processo político.

Em contraste, encontram-se famílias desoladas, incompletas. São filhos que buscam por seus pais, senhoras que esperam notícias de seus filhos – há mais de 40 anos. O fotógrafo consegue captar a dor que a ausência de um ritual tão comum como o funeral pode causar: é preciso superar o luto para seguir em frente. Porém, sem notícias dos desaparecidos é como se o luto não começasse, e ficasse só o vazio da espera.

É justamente pela sensibilização do público que o fotógrafo visa incentivar e humanizar a discussão sobre o tema. Na inauguração do evento, Pina afirmou que não vivenciou esse período, mas que os resquícios dele ainda estão presentes em todos os países. Entender e debater sobre esse passado sombrio é uma premissa para a concretização da democracia na América Latina.

A exposição fica aberta ao público até o dia 7 de dezembro, entrada gratuita.

A OPERAÇÃO CONDOR

União entre os governos ditatoriais da América do Sul e Estados Unidos, se deu entre 1970 e 1980. Era foi uma aliança político-militar entre os regimes militares da América do Sul — Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai com a CIA dos Estados Unidos.

O principal objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessese governos, que eles julgavam serem líderes de esquerda instalados nos países do Cone Sul. A maioria dos presos políticos não passava pelo processo judicial de acusação e tampouco tinham direito a defesa. Em sua maioria, as prisões nem eram documentadas — e muito menos os métodos de tortura utilizados nos interrogatórios.

Montada por iniciativa do governo chileno, a Operação Condor durou até a onda de redemocratização, na década de 1980. O nome foi inspirado no condor, abutre típico dos Andes que se alimenta de carniça, como os urubus.

por THAIS FREITAS DO VALE