MAC expõe obra do artista ítalo-brasileiro Alfredo Volpi

As obras de Alfredo Volpi marcaram a arte brasileira durante o século XX (Foto: Bruna Larotonda)

O italiano Alfredo Volpi foi certamente um dos mais importantes e emblemáticos artistas que marcaram presença na História da Arte do Brasil. Com 18 obras significativas da trajetória do pintor, o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) exibe seu acervo na exposição Os Volpis do MAC, organizada pelo artista plástico e curador Paulo Pasta. “A coleção de Volpis é muito representativa, justamente dessa passagem da natureza, do figurativo, para as formas, os esquemas figurados do real. Da figuração para a figura plana, se posso assim dizer. Ela flagra esse momento no qual Volpi conquista a autonomia do plano (…), entre o final da década de quarenta e o início da década de cinquenta”, conta Pasta em depoimento.

Para o curador, Volpi foi muito especial porque buscava em si mesmo a sua verdade, a sua resposta. O artista tinha um talento incrível para criar temas, elaborar formas e compor a cor, o grande atributo de suas obras. “Ele possuía um olho infernal, excepcional. A inteligência visual que sua obra revela compensa a escassez de suas palavras”, declara Pasta. Em suas composições, Volpi parece querer unir Matisse, seu pintor preferido, a Giorgio Morandi, uma vez que ambos exerceram grande influência artística sobre ele. “Esse aspecto que sua pintura tem de querer unir diferenças é muito ‘matisseano’. Buscar harmonia, criar beleza (…) o contraste de cor e de tonalidades”. Muitas vezes ele pinta o mesmo assunto, só elaborando, como mudança, uma permuta com as cores, como é o caso das composições de ‘bandeirinhas’. Volpi constrói o espaço pela cor. Quanto à forma, “parece-me que no seu trabalho, forma nasce de forma, como se a própria pintura nascesse das descobertas da pintura anterior”, explica o curador.

Volpi aborda de maneira igualmente ambígua também a figura e o fundo. Suas composições simétricas são corroídas quando esse espelhamento se depara com uma sutil assimetria. “O que está abordado como presença em uma área do quadro, na outra, aparece como vazio, ausência. Assim, Volpi consegue triunfar, e sua pintura parece não demandar muito esforço”, defende Pasta. O curador, como grande fã do trabalho de Volpi, não tem uma obra preferida, mas aponta “Barco com bandeirinhas e pássaros” como uma das mais completas e representativas do artista como um todo.

Biografia Nascido em abril de 1896 na cidade de Lucca, na Itália, Volpi veio para o Brasil no ano seguinte com os pais. Já em São Paulo, estudou na Escola Profissional Masculina do Brás e trabalhou como marceneiro, entalhador e encadernador. Aos 16 anos, Volpi pinta a sua primeira aquarela e, aos 18, sua primeira obra com tinta a óleo. Sua participação em mostras coletivas começa já em 1925.Porém, foi apenas em 1940 que ele consegue firmar-se como pintor e torna-se membro do Grupo Santa Helena, onde conheceu o pintor paulista Ernesto de Fiori. O grupo era formado por artistas paulistas que se reuniam e desenvolviam, durante as décadas de 30 e 40, pinturas que retratavam cenas da vida e da paisagem dos arredores de São Paulo. Entre eles estavam Bonadei, Rebolo, Clóvis Graciano e Pennacchi.

Em 1938, Volpi expôs no Salão de Maio e na 1ª Exposição da Família Artística Paulista, ambos em São Paulo. No ano seguinte, começou a pintar paisagens marinhas após uma viagem a Itanhaém e, em 1940, participou do 7º Salão Paulista de Belas-Artes. Somente 13 anos depois, no entanto, que Volpi se tornaria um pintor famoso, ganhando o prêmio de melhor pintor brasileiro na 2ª Bienal de São Paulo. Nos próximos anos, o artista participaria de muitas outras bienais, como a de Veneza; de retrospectivas em museus e galerias e da exposição Volpi 90 anos, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, em 1986. Alfredo Volpi morre em São Paulo, no dia 28 de maio de 1988, aos 92 anos.

por BRUNA LAROTONDA