Não faltam motivos para crise

Planejamento minimizaria a crise (Foto: Fabíola Nogueira)

A crise hídrica pela qual passamos é resultado da junção de vários fatores negativos, como falta de planejamento e gestão do uso de água por parte do governo, expansão urbana descontrolada, padrões de consumo que não evitam o desperdício em residências, indústrias e na agricultura. As perdas de água na distribuição e, é claro, o período de estiagem pelo qual passa não somente o estado de São Paulo como toda região sudeste também devem ser levados em consideração.

Para Benedito Braga, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP  e presidente do World Water Council, a crise tem três vertentes: uma situação climática anômala, um padrão de consumo não eficiente e a falta de investimento em infraestrutura. De acordo com Instituto Agronômico de Campinas, o último verão foi o de menor precipitação nos últimos 125 anos. Choveu somente 20% da média para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

O professor afirma afirma que desde janeiro deste ano vem alertando a respeito da iminência de uma crise hídrica em diversos veículos jornalísticos, a fim de que estes conscientizem a população sobre medidas de contenção de consumo. “É preciso que as pessoas entendam que, além de um determinado limite, a água vai ficar caríssima. Aí sim vão economizar. Ainda está em tempo de tomar essa medida, não sei por que não estão tomando”, questiona.

Atualmente, outras regiões também passam por escassez hídrica resultante de variações climáticas normais, como é o caso da Califórnia, do Texas, da Turquia, de Singapura e do próprio nordeste brasileiro. O professor ressalta a necessidade de um bom gerenciamento do recurso natural: “A classe política tem que entender que a água é um tema importante e precisa colocar recursos para gerenciá-la de forma adequada, construindo infraestrutura, barragens, reservatórios”.

COMO EVITAR?

Segundo Braga, a única maneira de evitar que crises semelhantes aconteçam novamente em São Paulo é alterar o padrão de consumo atual, como foi feito durante a crise de energia ocorrida no ano de 2001. Por conta do aumento excessivo das tarifas e diante da ameaça de corte de energia elétrica por parte do governo, as pessoas reduziram drasticamente o consumo. “A gente não deve esperar acontecer uma crise para tomar iniciativa, nós temos que pensar em médio e longo prazo”, ponderou Braga.

Segundo José Mierzwa, professor de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Poli, o estado não possui capacidade hídrica para suprir a crescente demanda por água de quase 22 milhões de pessoas. “A disponibilidade hídrica na Região Metropolitana de São Paulo é inferior à da região Nordeste”.

Mierzwa cita ainda a forma inadequada como é feito o uso e a ocupação do solo em áreas de expansão metropolitana, o que gera aumento das perdas na distribuição. Além disso, a falta de tratamento de esgotos polui as águas de rios, que poderiam abastecer as cidades em seu entorno. Essas populações passam a utilizar a água distribuída pelo estado, aumentando a demanda desta.

Para o professor, a resolução do problema deve se dar por meio de planejamento integrado. “É necessário que haja uma maior interação entre a sociedade, governo e universidade na busca de soluções que possam ser integradas e sustentáveis.”

AÇÕES GOVERNAMENTAIS

O governo estadual, além de já ter contabilizado a segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira, pretende pedir o fim do uso das represas Jaguari e Paraibuna para geração de energia elétrica. O objetivo é que essa água seja utilizada no abastecimento humano do Vale do Paraíba, Rio de Janeiro e Campinas. Há também intenção de pedir a desoneração de impostos das companhias de saneamento básico para aumentar o valor dos investimentos no setor.

Em Campinas, o pacote de medidas de enfrentamento da crise hídrica anunciado no último dia 31 inclui maior rigor na punição contra o desperdício, contratação de empresas para viabilizar a construção de uma represa, prorrogação do período de estiagem para 30 de novembro e utilização de água de esgoto tratado.