Alunos concorrem a prêmio de 10 mil dólares

Plantação em baldes é alternativa para lugares pequenos (Foto: Daniel Ricci)

Como alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050? Para um grupo de alunos da USP, a solução é criar um sistema de hortas urbanas que envolvam a comunidade local de forma sustentável e a baixos custos.

A pergunta foi lançada pelo Thought for Food Challenge, competição internacional que busca respostas para o problema mundial da fome através de universitários em projetos inovadores.

ROOTY ROOFS

Essa edição tem 336 times inscritos de 51 países. Um deles, o Rooty Roofs, é composto por alunos brasileiros das escolas Politécnica (Poli) e Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ambas da USP.

Sua intenção é “proporcionar o uso integrado da cobertura de prédios e estabelecimentos para a prática de agricultura sustentável em cidades, para garantir segurança alimentar e nutricional”.

Para o Rooty Roofs, esta seria uma alternativa para diminuir os custos na produção de alimentos saudáveis e estreitar a distância entre produtores e consumidores – um real complicador na taxação de produtos orgânicos, por exemplo -, além de prover melhores condições no clima do espaço urbano, marcado por problemas como poluição e ilhas de calor (fenômeno que aumenta a temperatura de áreas urbanas pela alta concentração de edificações).

A cidade se transformaria num grande parque em que as pessoas poderiam interagir com o ambiente de forma sustentável e cíclica. A participação da comunidade não seria direta e colaborativa. Por exemplo, os moradores de um prédio com a plantação do Rooty Roofs não se tornariam responsáveis pela gestão do negócio e pelos cuidados com a manutenção do plantio, todas essas incumbências dos idealizadores.

No entanto, eles se beneficiariam diretamente da ideia sendo consumidores da agricultura praticada em seu próprio prédio, mais limpa, barata e próxima. Também seriam instalados espaços de convivência para os consumidores interagiram entre si.
Apesar da iniciativa ter sido pensada para São Paulo, o projeto pode ser praticado em qualquer outra cidade do mundo, sem a exigência de custos elevados e alterações muito drásticas.

Para o time, esta é uma “nova tendência em administração pública no que se refere à obtenção de selos e certificações ambientais na construção civil, podendo gerar incentivos fiscais”.

Eloi Ferracioli, aluno de Engenharia Ambiental da Poli e integrante do Rooty Roofs, já produziu alimentos no estilo do que se propõe com o projeto dentro de sua casa. Ele cultivou uma área de 9 m² e chegou a comercializar a produção entre seus vizinhos, gerando gerar lucros.

DIFICULDADES

Porém, quando questionado o porquê da descontinuidade da plantação em casa, Ferracioli revela um problema que o projeto ainda não consegue solucionar: como aplicar as ideias do Rooty Roofs em cidades que sofrem com a falta d’água? A região em que o estudante mora tem sofrido com o racionamento desse recurso, o que comprometeu a agricultura doméstica que era praticada até o início deste ano.

Outra dificuldade é a falta de um planejamento financeiro específico. Os alunos ainda não sabem dizer quanto vão precisar para começar a tirar as ideias do papel. Eles contam com a premiação final do Thought for Food Challenge, de U$10 mil, e com a possibilidade de receber apoio de outras empresas, caso não ganhem a competição.

Na verdade, o grupo ainda não se organizou como uma startup (tipo de empresa nova, com baixo custo inicial e ideias inovadoras) e espera o desenrolar da competição, com apoio financeiro e de tutoria profissional, para que isso aconteça.

Além de Daniel Ricci e Eloi Ferracioli, também integram o Rooty Roofs Guilherme Arvate Álvares, da Engenharia de Produção, e Igor Ciambelli, da Engenharia Agronômica.
Há outros projetos brasileiros inscritos na competição da Universidade Federal de Lavras (MG) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS)

Segundo Marcelo Pires, um dos responsáveis pelo desafio no país, a intenção é “derrubar o status quo atual em termos de disponibilidade da distribuição de alimentos em todo o mundo e estamos felizes por contar com diversos times do Brasil”.

Os projetos serão submetidos a 10 jurados e, em 15 de dezembro, serão anunciados os 10 finalistas mundiais, que apresentarão seus trabalhos entre 13 e 14 de fevereiro, em Lisboa. O vencedor receberá um prêmio de U$10 mil para realizá-lo.

por JOÃO PAULO FREIRE