Nephilas clavipes estão por toda a USP

Pesquisador estima que cerca de 70 espécies de aranhas vivam na Cidade Universitária
Autor: André Meirelles

Passando pelos jardins do Restaurante Central ou pelo caminho que liga o Instituto de Psicologia (IP) à Escola de Comunicações de Artes (ECA) é possível encontrar alguns pequenos habitantes da Cidade Universitária. Pousadas sobre teias geométricas construídas entre árvores, as aranhas já dividem espaço com os frequentadores da USP.

“Apesar do campus estar inserido hoje em uma área quase urbana, sobrou muita área de mata, com uma bem típica do que era a Mata Atlântica. Então realmente tem muito bicho aqui”, explica Antonio Domingos Brescovit, aracnólogo e pesquisador do Instituto do Butantan. Segundo seus cálculos, aproximadamente 70 espécies de aranhas devem viver no campus, entre as que vivem no ambiente externo e dentro de prédios, chamadas de sinantrópicas.

Sua presença no meio-ambiente da Cidade Universitária é de grande importância pois elas são predadoras do topo da cadeia alimentar. Isso significa que com a presença das aranhas, existe um bom controle da população de insetos. “As pessoas reclamam muito que tem aranha em casa, mas certas aranhas de teia podem ter em casa, pois elas ajudam no controle. Se nós não tivéssemos um predador, imagina a quantidade de insetos que ia ter, desde moscas, mosquitos e gafanhotos?”, exemplifica.

Entre as espécies que habitam as áreas verdes da USP, uma das mais comuns de se ver é a Nephila clavipes, também conhecidas como aranha do fio-de-ouro. O nome é devido à coloração de suas teias, que apresentam um tom amarelado. “Elas são sazonais e passam o período de chuva desaparecidas. Quando começa a seca, começam a aparecer, constroem teias e ficam de três a quatro meses”. A fêmea da Nephila costuma ser bem maior que o macho, que fica andando pelas teias como parasitas. Não são aranhas agressivas e nem apresentam perigo ao ser humano. Os aracnídeos constroem suas teias principalmente para refúgio e obtenção de alimento. As aranhas que predam usando as teias representam cerca de 40% das espécies. “As mais conhecidas são estas que fazem as teias orbiculares em plantas”, diz.

“Existe uma fobia em relação às aranhas. Se as pessoas soubessem que não tem 2% de aranhas no mundo perigosas para o homem, talvez ficassem mais calmas. Porque a grande maioria não tem veneno que é ativo contra as pessoas. Muitas picam, se defendem, causam uma irritação local, mas em geral é isso”, afirma Brescovit. Das quase 4 mil espécies de aranhas presentes no Brasil, cerca de 10 podem ocasionar problemas mais graves ao ser humano, apesar da maioria delas possuírem glândulas de veneno e serem consideradas venenosas.

Essas são chamadas de peçonhentas. As quatro mais perigosas que existem hoje no Brasil são a aranha armadeira (Phoneutria), a aranha marrom (Loxosceles), a caranguejeira (Lasiodora) e a viúva-negra (Latrodectus). “A armadeira e a marrom são as duas perigosas que temos aqui em São Paulo e que ocorrem aqui no campus. Aliás, semana passada recebi um material morto que veio do IPT. Era um macho da Loxosceles gaucho”.

 Acervo de aranhas

O Instituto Butantan é um dos principais centros de pesquisa de animais do país. A coleção compõe material não só do Brasil, mas também da América do Sul e Central. Além da coleta dos pesquisadores e das trocas com intercambistas, o Instituto também recebe muitos animais entregues pela população, que os encontram pela cidade.

Atualmente, o acervo do Instituto conta com cerca de três mil espécies de aranhas e 300 mil exemplares. Em maio de 2010, um incêndio ocorrido em um dos laboratórios destruiu parte dos animais da instituição. Segundo Brescovit, a estimativa é que foram perdidos cerca de 30% dos exemplares de aranhas.

Hospital Vital Brazil – Instituto Butantan
Onde? Av. Vital Brazil, 1500 — São Paulo (SP)
Telefones (11) 3723-6969 / 2627-9529 / 2627-9530

 Por André Meirelles