Peça expõe olhar histórico sobre autoritarismo

Cia do Tijolo apresenta musical baseado em texto do dramaturgo Federico Lorca no Tusp

Do dia 22 de maio a 22 de junho fica em cartaz no Tusp (Teatro da USP), o musical “Cantata para um Bastidor de Utopias” realizada pelo grupo Cia do Tijolo e baseado no texto Mariana Pineda, de Federico García Lorca.
A proposta da peça é dialogar com três momentos históricos diferentes, mas que de alguma forma se complementam por representar temas comuns, como a opressão e utopia.
Na montagem, mesclam-se a história da jovem Mariana Pineda Munõz, enforcada aos 26 anos por desafiar o poder do rei espanhol Fernando VII, em 1831, com o assassinato do dramaturgo e poeta Federico García Lorca em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola e também com a ditadura militar brasileira de 1964 a 1985 e as suas consequências.
“Um dos temas mais importantes abordados pela peça é a questão da ditadura no Brasil, mas não só. Partimos da ideia de amor, liberdade e revolução para questionar as possibilidades de uma revolução e as consequências da ditadura”, explica o diretor da peça, Rogério Tarifa.
O texto de Lorca foi então transformado pelo grupo em uma cantata, e durante os intervalos são feitas conexões com outros períodos históricos. “Porque até hoje não se sabe exatamente onde está o corpo da Mariana Pineda ou do Federico Lorca, os dois são considerados desaparecidos políticos. Na ditadura brasileira existe também essa questão, então nos intervalos cada ator interpreta um desaparecido político brasileiro, como forma de homenagem”, acrescentou Rogério.
A peça também inova ao convidar pessoas cujas histórias estão relacionadas à ditadura, criando uma mesa de debate durante o espetáculo. Foram chamados intelectuais, ex-militantes, filhos de desaparecidos políticos e artistas, que são incentivados a compartilhar sua relação com a ditadura na época e também o que esse período nos legou. “Se você olhar para nossa sociedade, muito do nosso atraso é consequência dessa época. Essas pessoas que vêm falar na mesa trazem no corpo toda essa história. E pelo debate ocorrer durante a peça, os relatos são muito mais potentes, porque está todo mundo ali tocado pelas atuações, pelas questões apresentadas. Então as falas e os depoimentos acabam sendo muito fortes”, diz Rogério.
O Cia do Tijolo, que não estava acostumada a realizar textos clássicos, gastou mais de um ano na preparação da peça e optou por adaptar o texto de Lorca no formato de uma cantata, devido à forte formação musical do grupo. “A Cia é formada por atores e cantores, então a questão da música é muito forte. Quando pegamos o texto da Mariana Pineda, ficamos pensando como poderíamos colocar música, como isso poderia ser feito em cima do texto. Então tivemos a ideia de transformar a peça em uma cantata, que é como se fosse uma ópera menor, só que sem as cenas dramáticas típicas de óperas. A cantata é muito mais narrativa”, explicou.
A peça foi premiada com um prêmio Shell de cenário e música e recebeu uma indicação ao prêmio de direção. A Cia do Tijolo em parceria com o Tusp, também pretende lançar até o final da temporada um CD com as músicas do espetáculo e um livro contendo grande partes das transcrições das falas colhidas durante os debates.

(Foto: Alécio César)

Bastidor de Utopias
Local: Teatro da USP – Rua Maria Antônia, 294
Data: de 22.5 a 22.6
Horário: Sextas, sábados e segundas, 19h30; Domingos, 18h30
Preço: R$20,00 (inteira)

Por Isabelle Almeida