Faculdades aderem ao uso do Enem no vestibular da Fuvest

Entre as instituções participantes estão a FFLCH e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Com o objetivo de que até 2018 a USP tenha metade de seus calouros vindos da rede pública, com 35% de PPI (pretos, pardos e indígenas), proporção equivalente à população paulista, a pró-reitoria de graduação propôs que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) seja aplicado como forma de preencher parte das vagas para o próximo vestibular. A ideia inicial era reservar, na média, 15% das vagas apenas para candidatos da rede pública pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), sendo que esse número variaria de acordo com cada curso e cada unidade. Nas carreiras mais concorridas da USP, como engenharia e direito, inicialmente foi recomendado que 10% das vagas fossem reservadas, podendo chegar até 20% no caso da São Francisco.

As respostas das unidades

No entanto, para que a nova medida possa ser colocada em prática, cada uma das unidades teria que definir até o dia 12 de junho se iriam aderir ou não ao uso do Enem e qual seria o número de vagas destinado a esses estudantes. A resposta de muitas das faculdades até agora não tem sido positiva. Entre as unidades que deliberaram a não adesão ao uso do Enem estão a Escola Politécnica, a Faculdade de Economia e Administração (FEA), e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que não irá dispensar o exame de habilidades específicas. Por outro lado, entre as faculdades que aprovaram a nova proposta está a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que possui o segundo curso mais concorrido da USP. Segundo a Presidente da Comissão de Graduação da FMRP, Lucila Elias, a diretoria decidiu manter a posição da Congregação e pretende destinar 10% das vagas para esses alunos. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) também deliberou o aproveitamento das notas do Enem na proporção de 20% das vagas dos cursos oferecidos e a Faculdade de Direito se mostrou favorável à medida, mas sinalizou que esse assunto ainda precisa ser melhor discutido pela Direção e pela Congregação da São Francisco.

A proposta inicial da Pró Reitoria previa que das 20 carreiras com maior nota de corte da USP, seis tivessem reserva de vagas para candidatos do Enem, como a Escola Politécnica e os curso de Medicina e de Psicologia, na capital, e em Ribeirão Preto, sendo que 241 das 2.625 vagas das carreiras mais difíceis seriam disputadas pelo exame federal. A questão ainda permanece em aberto e será discutida na próxima reunião do Conselho Universitário, que ainda não tem data prevista mas deve ocorrer ainda esse mês.

Medidas Insuficientes

Atualmente, a Fuvest usa um sistema de bônus, o Inclusp, que incrementa em até 25% da pontuação do candidato, caso ele se declare negro, pardo ou indígena e tenha cursado o ensino médio em escolas públicas. Na prática o sistema de bônus funciona de forma desigual, pois como dá pontos extras, e não reserva vagas, o modelo costuma ter efeito menor em carreiras disputadas, em que a nota de corte é alta. Usar o Enem como forma de acesso ao vestibular da USP, no entanto, tem sido considerada uma medida insuficiente por grande parte do movimento estudantil e muitas críticas têm surgido quanto à forma com que a reitoria tem proposto essas mudanças, sem levar em conta as demandas dos movimentos negros e da comunidade universitária. “Esse debate fundamental, do acesso à USP, está sendo feito às portas fechadas, nos órgãos da burocracia universitária. É um absurdo que essa discussão esteja sendo feita sem a presença do movimento negro organizado”, explica Giulia Castro, membro da atual gestão do DCE. “Acredito que o vestibular por si só já reflete e reforça a desigualdade presente no país, com o mito da meritocracia, o que acaba impelindo que alunos que vieram de escolas públicas tenham mais dificuldades de entrar nas universidades”, apontou Juliana Filgueiras, aluna de graduação de direito, que cursou todo o ensino médio em escola pública. “É uma coisa importante que deve ser pontuada e que vem acontecendo nas federais, onde já foram implantadas as cotas raciais é que só a cota é insuficiente. É preciso investir em permanência estudantil porque senão, o aluno beneficiado pela cota não consegue terminar o curso”, completou.

Segundo informações divulgadas pela Fuvest, no vestibular de 2015, nos cursos mais concorridos como medicina e direito, o número de alunos convocados para a primeira chamada que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas foi de 25,1% e 20,2% respectivamente. Já em cursos menos concorridos como marketing e biblioteconomia a presença de alunos vindos do ensino público aumenta significativamente, representando 40,8% e 60% respectivamente. A média geral da universidade é de 35,1%.

Por Isabelle Almeida