Evolução das baterias universitárias

Criadas para apoiar torcida da faculdade, baterias ganham espaço com competições próprias

Ensaios, torcida, inters, apresentações, festas, competições, balatucada, interbatuc: a rotina e os principais objetivos de uma bateria universitária em São Paulo nos dias de hoje podem ser resumidos com essas palavras.

Bandida na Seletiva Balatucada. Foto: Jin Yonezawa/Narumi Mi Tsuruta
Bandida na Seletiva Balatucada. Foto: Jin Yonezawa/Narumi Mi Tsuruta

O samba que alguns ouvem apenas no momento da torcida ou em festas passou por diversas transformações e por um forte aprimoramento técnico desde sua origem no mundo universitário. Assim, nos últimos anos, pode ser escutado também em competições próprias de baterias e apresentações em contextos externos à universidade.

A torcida

A razão pela qual muitas baterias universitárias (BUs) nasceram é a torcida. Nos jogos universitários elas são fundamentais para engrandecer o barulho que sai da arquibancada em apoio aos times. “A bateria é o coração da torcida e a principal atração da competição. Não dá pra imaginar uma torcida sem bateria, é possível viver sem a presença física do mascote (como faz a Metodista) mas não sem bateria”, afirma Marcos Paulo Hoff, o “Homem-Boleto” da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), que já foi a sete JUCAs como mascote e se envolve muito com a torcida da faculdade.

BaterECA no JUCA 2014. Foto: Mariana Pereira
BaterECA no JUCA 2014. Foto: Mariana Pereira

Segundo Luciana Capuano, conhecida como “Oi”, a Rateria, bateria da Poli, surgiu em 1997 justamente com o objetivo de apoiar a torcida, pois “A primeira bateria universitária que existiu aqui na USP foi a da Medicina, e por conta disso, no Interusp, a torcida da Poli não dava conta de encobrir a da Medicina”. A Cherateria, bateria da Física e do IAG, também foi criada “com o objetivo de representar a torcida do IFUSP em competições esportivas”, afirma o ex-mestre Vitor Sabio.

As apresentações

Apresentar-se em festas e cervejadas de suas respectivas faculdades também é um costume de diversas baterias e algo que exige preparação. Porém, as apresentações tomaram novas proporções e chegaram a eventos totalmente externos à USP.

Além de clássicos como casamentos e formaturas, a Bateria Bandida, da EACH, já tocou até em dinâmicas de empresa, enquanto a Rateria já esteve presente em maratonas e chegou a se apresentar na inauguração do Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos.

As competições

Hoje parte fundamental do universo das baterias universitárias, as competições passaram a ganhar força mais recentemente. Os principais campeonatos dos quais participam as BUs de São Paulo atualmente são o Balatucada e o Interbatuc, que surgiram em 2009 e 2010, respectivamente.

A primeira edição do Balatucada teve oito participantes e, hoje, o campeonato já conta com três etapas diferentes. A competição principal, que é uma espécie de “primeiro grupo”, uma seletiva e uma pré-seletiva. Segundo Orlando José Dal Secco, conhecido como Zeca, e um dos criadores da competição “a demanda para entrar no Balatucada foi crescendo espontaneamente, porque as baterias perceberam que participando do campeonato elas tinham uma evolução muito grande na parte técnica musical. Só o fato de estar participando já trazia um ânimo maior para os ritmistas e também uma melhoria técnica”.

O desempenho nos campeonatos tornou-se um dos principais objetivos de muitas baterias. Com um nível técnico que aumenta ao passar dos anos, as competições exigem uma dedicação cada vez maior.

Busca da harmonia entre competições e torcida

Diante desse novo foco, algumas baterias tiveram mais facilidade em conciliar todos os seus objetivos, enquanto outras continuam buscando um equilíbrio.

Rateria na VI Balatucada. Foto:
Rateria na VI Balatucada. Foto: Jin Yonezawa/Narumi Mi Tsuruta

De acordo com Luciana, a Rateria “tem várias prioridades no ano: Interusp, Balatucada e FFA”, além disso, outras apresentações importantes vão surgindo, como a inauguração do Aeroporto já citada. Segundo a ritmista, a presença na torcida não foi prejudicada ou deixada de lado, até porque hoje existe um esforço, por parte da atlética e da bateria, de se aproximar uma da outra e dos times. Ela acredita que a facilidade em conciliar tantos objetivos e estar sempre presente existe, pois “a gente não encara a Rateria como uma obrigação, pra gente é uma oportunidade de estar entre amigos”.

No caso da Cherateria, Vitor afirma que é dado um foco maior às competições entre baterias, mas sem deixar de dedicar tempo aos compromissos com o IFUSP, que envolvem atividades voltadas aos alunos e a presença nos campeonatos esportivos. Isso acontece também porque, atualmente, a Cherateria participa de três torneios de baterias ao longo do ano (Balatucada, Interbatuc e Tobabife), enquanto a única competição esportiva em que estão presentes regularmente é o BIFE, campeonato entre faculdades da USP. Segundo Vitor, “Nota-se uma grande importância dada pelos integrantes da Cherateria em competições entre baterias, devido principalmente ao desenvolvimento e visibilidade que elas proporcionam, o crescimento desta atividade no cenário universitário, fora a oportunidade de integrar e fazer novos amigos de baterias de outras faculdades, cidades e até mesmo estados”.

A Bateria Bandida, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) surgiu em 2007 e, segundo o antigo mestre Jonas Lessa, nasceu como um pequeno grupo que fazia barulho na arquibancada. Em 2010, começou a crescer e, em 2011 conquistou o 4º lugar no primeiro Interbatuc do qual participou. A partir disso, o crescimento veio naturalmente e a bateria tornou-se, desde então, uma forte concorrente nos campeonatos dos quais participa.

Com esse aprimoramento, Jonas afirma que “o lado da torcida foi muito negligenciado, a gente teve grande dificuldade em conciliar as coisas. Primeiro, porque tínhamos um grupo muito reduzido. Segundo, porque era muito evento pras pessoas, então, por exemplo, pagar o Interbatuc e pagar o Caipirusp era muito difícil. A gente chegou a não ir num Caipirusp e ser muito criticado por isso, e aceitamos as críticas. Mas é daquele jeito, as críticas vêm em metralhadora e ninguém quer saber os motivos”.

De qualquer modo, a Bandida busca crescer também no apoio à torcida; “hoje já estamos muito melhores nesse aspecto e conseguimos conciliar, pelo menos em termos de presença. Sabemos que ainda estamos longe do ideal em fazer arranjos, ritmos e dinâmicas que sejam interessantes em uma arquibancada sem perder o viés técnico”.

O futuro das BUs

Diante disso, fica claro o aprimoramento e a amplitude que as baterias universitárias vêm ganhando. Sem deixar de lado a torcida que é parte fundamental de sua origem, cada vez mais as BUs conquistam um tipo de vida própria e se dedicam a crescer dentro do universo que está sendo criado para elas.

Sobre o futuro, Zeca afirma que “é difícil prever o que vai acontecer, mas, pelo que observamos nesses sete anos do Balatucada, eu acho que o movimento é as baterias se profissionalizarem. Não no sentido das pessoas passarem a viver das baterias universitárias, mas das BUs terem uma atuação que extrapole um pouco essa questão da torcida. As baterias universitárias eram marginais e estão começando a ocupar um espaço que elas não tinham. No futuro elas podem assumir um papel de protagonista mesmo, sabe?”.

Por Bianca Caballero