Preconceito por orientação sexual e gênero nas escolas

Preconceitos de gênero e de orientação sexual ainda são uma realidade nas escolas. Mas leis de conscientização ainda enfrentam muitas dificuldades

Quantos porcento são preconceituosos na escola?
(Arte: William Nunes)

Pedrinho brinca de comidinha durante um momento de recreação na escola. A professora da classe se preocupa. Este menino estava sendo desvirtuado e, certamente, ia acabar “virando” gay. O garoto, questionado do porquê gostava tanto de brincar de cozinha, responde: “é porque eu quero ser chapeiro igual ao meu pai. O papai trabalha na chapa da padaria. Ele faz cada bife, professora”! Apesar do nome fictício, o caso entre os professores e Pedrinho é real e ele se repete em outras escolas enquanto você lê esta matéria.

O olhar de preconceito de nossa sociedade está a espreita em todos os cantos, e as instituições de ensino nem sempre escapam dessa afirmação: 99,3% das pessoas em ambiente escolar são preconceituosas, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em parceria com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). No top 5 das discriminações estão os preconceitos de gênero e de orientação sexual. Uma parte da pesquisa se baseou em frases com as quais os entrevistados concordavam ou não:

“Professores que não são gays são mais respeitados” foi consentida por 44,9% dos alunos das escolas.

“Mulheres são mais habilidosas para cuidar da casa” somou 60% das afirmações feitas pelos estudantes.

Ainda segundo a mesma pesquisa, o preconceito não se limita apenas aos alunos, mas diretores, professores e pais também fazem parte dos números que compõe o preconceito no ambiente escolar, mesmo que em menores proporções. “O professor também tem que estar alerta para as discriminações que acontecem na escola. Mas ele não nasce sabendo isso. Ele também foi criado em uma sociedade que é desigual, então ele tem que aprender a abrir os olhos e a mente durante um processo de formação continuada”, afirma Cláudia Vianna, professora da Faculdade de Educação (FE) e líder do Grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (EdGES).

(Fonte: Cláudia Vianna / Arte: William Nunes)
(Fonte: Cláudia Vianna / Arte: William Nunes)

Como está na lei?
Apesar das estatísticas, a resposta através de políticas públicas voltadas para a conscientização sobre diversidade sexual e de gênero nas escolas ainda enfrentam muitas dificuldades. Na semana passada, um total de oito estados brasileiros vetaram termos que se referiam ao combate desses preconceitos. Dentre as metas barradas estavam programas para o esclarecimento sobre a situação de travestis, pessoas trans* e orientação sexual. Um dos principais argumentos que levou deputados estaduais a serem contra a adoção das medidas, pressionados por suas bancadas religiosas e conservadoras, é o de uma suposta imposição de “ideologia de gênero”, que, segundo eles, viria a desvirtuar o modelo tradicional de família.

“Seria muita ingenuidade a gente achar que toda lei seria aplicada por completo [se aprovada]. Mas é mais fácil fazer valer algum direito quando ele já está legitimado em alguma instância”, explica a professora Cláudia. Além de reduzir a violência, como diversas pesquisas mostram, uma vez que essas demandas para frear o preconceito são acolhidas, fica mais fácil conseguir educar uma criança mais respeitadora das diversidades. “Os vetos a essas políticas são vetos ao enfrentamento da discriminação, da violência e ao projeto de uma educação mais democrática. Quando nós não discutimos, nós discriminamos”, conclui a especialista.

(Fonte: Cláudia Vianna / Arte: William Nunes)
(Fonte: Cláudia Vianna / Arte: William Nunes)

Lado bom
Apesar da pressão dos grupos religiosos e de 30% dos planos estaduais de educação ainda estarem em debate, mesmo fora das metas ainda existe uma chance para mudar este cenário. O estado do Mato Grosso aprovou “medidas administrativas, pedagógicas e organizacionais necessárias para garantir ao estudante o acesso e a permanência na escola sem discriminação por motivo de identidade de gênero e orientação sexual”. Cláudia Vianna ainda acrescenta: “O fato de um plano municipal ter excluído essas metas também não significa que as escolas não vão poder trabalhar gênero e sexualidade. Também é muito importante que a mídia divulgue isso e que não são todos os debates que estão sucumbindo a essa pressão. Ninguém quer mudar as ideologias das igrejas. O que a gente precisa é mudar o papel da educação diante das desigualdades sociais.”

Por William Nunes