Testemunhas relatam momento em que estudante é baleado na FFLCH

A reportagem do JC conversou com estudantes sobre caso de Alexandre Cardoso, ferido ontem na Cidade Universitária; SSP informa como identificou os suspeitos presos
Entrada do prédio da Letras, na FFLCH. Foto: Carolina Oliveira
Entrada do prédio da Letras, na FFLCH. Foto: Carolina Oliveira

O estudante Alexandre Cardoso, 28, foi baleado na FFLCH na noite da última terça-feira (1). Após sair de uma aula da graduação, o jovem se dirigiu a seu carro próximo ao ponto de ônibus da Letras e lá, sofreu uma tentativa de assalto. Relatos apontam que Cardoso tomou um tiro enquanto tentava fugir, e caiu em seguida na escadaria da Letras, onde foi socorrido por pessoas que passavam pelo local. O estudante, aluno do quarto ano de Letras, teria sido levado ao Hospital Universitário numa placa que serviu como maca improvisada, uma vez que tal equipamento não estava disponível.

Em entrevista ao Jornal do Campus na manhã de hoje, o professor Sérgio Adorno, diretor da FFLCH, confirmou a versão das testemunhas. Segundo Adorno, nenhum prédio da FFLCH dispunha de macas, apenas de cadeiras de roda. “Nunca ocorreu de ter macas; o órgão que cuida das questões de segurança no prédio nunca pediu”, afirma o professor. “Já tomei as providências agora cedo para cada prédio ter pelo menos uma maca. Essas coisas acontecem e a gente aprende com o acontecimento”. Além disso, ao contrário do que foi veiculado por alguns órgãos da imprensa, o estudante foi encaminhado ao hospital num veículo da Guarda Universitária, e não do Samu. “Imediatamente foi chamada a Guarda Universitária, que estava próxima, chamaram a polícia militar e contataram o HU. Como ele estava sangrando muito, acharam que talvez não desse para esperar, então a própria Guarda Universitária recolheu no carro deles e levou pro HU”, explica Adorno.

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De acordo com nota emitida pela USP, Alexandre passou por cirurgia, continua internado e em situação estável. O estudante ainda deve permanecer em observação por mais alguns dias. Adorno garantiu que Alexandre terá todo o apoio da unidade para que o tempo de recuperação não atrapalhe a continuação de seus estudos. “Estou verificando como é o procedimento para que ele possa retomar até poder recuperar o conteúdo das disciplinas, poder receber assistência acadêmica didática em função dos acontecimentos de que ele foi vítima”, diz. 

Prisão dos suspeitos

Segundo relatos, a Polícia Militar foi acionada logo após o ocorrido e três suspeitos foram presos, todos menores de idade. O Jornal do Campus entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e apurou que identificação dos detidos, segundo a assessoria, foi feita com base em testemunhos ouvidos pelos policiais no local do crime. Em seguida, ônibus que circulavam pela Cidade Universitária passaram a ser revistados. Dois suspeitos se encontravam no mesmo ônibus e o último estava sozinho num coletivo, além de portar uma arma calibre 22, que foi encontrada na revista.

O estudante Alexandre Ribeiro Miquilino descreveu o momento em que esse jovem foi abordado e preso: “Eu estava voltando para casa no circular 1, era por volta de 21:30 da noite. O suspeito veio correndo da rua do Matão em direção ao ônibus, que estava indo para o portão 3 e tinha acabado de parar no ponto logo antes da rotatória da avenida da prefeitura. Ele pediu para entrar no ônibus assim que o viu, o motorista parou e o rapaz entrou. Pouco tempo depois, a polícia cercou o ônibus, inicialmente com duas motos e logo mais os reforços chegaram. O rapaz tentou fazer que não era com ele, mas a polícia o retirou do ônibus”. Miquilino conta que, em seguida, a polícia revistou o jovem, encontrando um revólver; logo depois, segundo conta, o rapaz foi deitado no chão e algemado.


Estudantes no local

Um estudante, Le Paixão, ouviu da sala de aula um barulho que parecia ser de um disparo de arma de fogo. “Ouvimos um tiro na rua em frente ao prédio da Letras. Olhei as horas: 20h54”, conta. Junto com outros estudantes, desceu para ver o que acontecia e encontrou Alexandre caido no chão, com dezenas de pessoas acompanhando a movimentação das janelas do prédio. A Guarda Universitária e a PM logo chegaram ao local. De acordo com o aluno, às 21h12 não havia no local mais nenhum PM ou guarda, apenas alguns grupos de pessoas.

Isabella Carvalho, estudante de Letras, foi uma das primeiras pessoas a encontrar Alexandre ferido. Ela relata que estava descendo as escadas externas ao prédio quando viu o jovem: “Estava começando a descer o primeiro lance de escadas, quando vi o Alexandre correndo subindo o segundo lance de escadas, sendo segurado pelos ombros por um outro estudante, e gritando: ‘fui baleado, fui baleado, fui baleado’”. Isabella diz ter ouvido perguntarem se a polícia já havia sido chamada, quando Alexandre tirou o celular do bolso e ficou com ele nas mãos. Ele teria sido colocado no chão por outros estudantes ainda acordado.

O caso aconteceu em momento próximo ao intervalo entre aulas. O estudante Lucas Rafaldini saia da aula quando encontrou uma amiga, Maria Teresa, no telefone com o Samu, bastante desesperada, de acordo com ele. “Durante a ligação para o Samu, centenas de informações não essenciais para o resgate foram exigidas, como o número de telefone de quem estava ligando, o nome da pessoa baleada e os motivos do ocorrido. Enquanto ela tentava convencer o atendimento do Samu de que o caso era emergencial e que o garoto estava sangrando, a Guarda Universitária chegou e ‘examinou’ o corpo do rapaz”, relata Lucas. Com a demora, ele afirma que “os guardas resolveram remover uma placa indicativa da Lanchonete da Letras, que fica cravada em um pedaço de jardim na parte inferior do prédio. Essa placa tornou-se a maca improvisada para o rapaz baleado”. Depois de Alexandre ter sido levado ao Hospital Universitário, Maria Teresa teria avisado o Samu e ouvido como resposta “vai lá então, boa sorte”.

Hiago Vinícius, que faz parte do Centro Acadêmico da Letras, o CAELL, diz que ele e outros estudantes correram até o prédio em busca de uma maca, mas que o prédio não tem nenhuma. Por isso, eles tiveram que improvisar o socorro com uma placa. Ele ficou na Faculdade por mais algum tempo, informando às salas sobre o incidente. “A maioria das aulas do segundo horário foram canceladas e o pessoal foi para casa”, lembra. Após o primeiro atendimento, a PM teria partido para fazer a ronda no Campus.


Samu na Cidade Universitária

Em 29 de maio deste ano, a USP firmou convênio com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que previa a instalação de uma base móvel do Samu na Cidade Universitária, que possibilitaria, de acordo com a assessoria de imprensa da Universidade em nota divulgada em junho,  “um serviço de atendimento médico de urgência mais ágil e organizado, não apenas no campus, mas também em seu entorno”. Na época, o vice-prefeito do Campus, Tércio Ambrizzi disse que o atendimento de urgência estaria garantido às pessoas que transitam na região, com atendimentos rápidos.  Contudo, ontem, segundo relatos, o Samu demorou a agir, sendo necessário que a Guarda Universitária transportasse o ferido ao Hospital.

 

Por Carolina Oliveira e Letícia Paiva
Colaboração: Barbara Monfrinato e Juliana Meres