Cepe clama por reformas estruturais

Falta de manutenção faz surgir buracos, rachaduras e abandono no centro esportivo uspiano
Foto: Paula Mesquita
Foto: Paula Mesquita

Construído para sediar os Jogos Pan Americanos de 1975, o Centro de Práticas Esportivas da USP oferece aos alunos e funcionários uma infraestrutura impressionante a primeira vista. Porém, os mais de 500 mil metros quadrados do maior centro esportivo da América Latina ainda geram frequentes queixas sobre as condições em que os espaços se encontram.

Apesar de contar com três piscinas (uma olímpica e duas semi-olímpicas), um tanque para saltos, um estádio com dois campos de futebol e mais três campos gramados, além de um campo para futebol society, dez quadras poliesportivas descobertas, quatro cobertas, uma pista de atletismo, um velódromo, uma academia, nove quadras de tênis, uma raia olímpica e mais duas quadras cobertas destinadas à prática de artes marciais e ginástica, algumas das Associações Atléticas Acadêmicas da USP, principais usuárias do Cepe, apontam a falta de manutenção aliada à subutilização de algumas dependências e a alta demanda dos times das diversas faculdades como os principais problemas que os usuários do centro enfrentam.

Ligia Manguino, aluna da FEA e Diretora Geral de Esportes da Atlética Visconde de Cairu, explica: “Dois dos quatro módulos cobertos destinados às modalidades coletivas estão em reforma há muito tempo. Sobram as quadras externas, para serem divididas entre todas as faculdades, sendo que duas delas têm piso de asfalto, que escorrega e é muito ruim. O treino não rende”.

Para tentar organizar a distribuição das quadras da maneira mais igualitária entre as atléticas, a Liga das Atléticas Acadêmicas da USP (LAAUSP) monta um esquema de reservas e rodízio. Mas nem sempre ele funciona como esperado. “O horário das 18h30 até as 20h30 é muito procurado pela maioria dos times. Então, se seu time treina nesse horário, você acaba ficando com uma reserva de apenas uma hora na semana e isso é muito pouco” continua Manguino.

Lucca Nunes Zidan, presidente da Associação Atlética Politécnica e Mariana Fujimura Ferreira, secretária, contam que muitos times da Poli não treinam no Cepe, justamente por não possuírem garantia de que conseguirão reservas ou de que não chova no horário das atividades. Essa medida, por conseguinte, prejudica financeiramente a entidade. A solução, muitas vezes, é a chamada “caixinha”, isto é, pedir uma contribuição dos atletas para custear os treinos.

Foto: Isabela Augusto
Foto: Isabela Augusto
Problemas nas piscinas

Mas as dificuldades estão muito além das quadras. Victória Soto e Matheus Morais, diretores de modalidade da Natação do Catadão – equipe formada por atletas de nove faculdades da USP – contam sobre os problemas de treinar no conjunto aquático do Cepe. “Desde que nossa equipe se formou, treinamos no Cepe durante o verão, já que a piscina fecha no inverno” explica Morais.

Ele conta que, antigamente, durante a estação mais fria do ano, os atletas da natação que utilizavam o Cepe costumavam ir para uma academia próxima da USP e não muito cara. “Mas a academia faliu e nós continuamos tendo que sair da universidade para treinar. Isso implica em redução de pessoas no treino, porque não existem mais piscinas nas redondezas. Além disso, temos um maior gasto, porque aluguel de piscina não é nenhum pouco barato”.

Soto completa que os problemas não se restringem ao ‘Catadão’. “Por causa desse custo de aluguel, a FAU não treinou por três meses seguidos. A POLI treinou só até o InterUSP. Ninguém tem condições financeiras para bancar esse gasto, ainda mais com a proibição das festas, que cortou muito a entrada de dinheiro nas atléticas”, disse.

Soto, que também é Diretora de Patrimônio da LAAUSP, e mais algumas pessoas da Liga chegaram a formar um Grupo de Trabalho para orçar os custos de aquecer as piscinas. “Só o aquecimento da piscina olímpica já seria muito caro e, atualmente, nem o CEPE e nem a Pró-reitoria de Graduação têm como bancar isso. Corremos atrás de patrocínios e da Lei de Incentivo ao Esporte, mas é tudo muito complicado”.

Eles apontam ainda outras dificuldades na estrutura das piscinas. “No Cepe, os blocos de salto são muito ruins e não tem manutenção. Além disso, não temos nem bandeirinhas de sinalização [que servem para avisar quem nada costas de que se está chegando na borda] e as raias não cortam as marolas da piscina, o que faz com que a gente acabe engolindo água. Tudo isso prejudica muito o desempenho”.

Velódromo sem vida

Outra questão problemática é a subutilização do velódromo. Para Gustavo Sandin, vice presidente da ECAtlética, é necessário que o espaço seja revitalizado, de modo que volte a realizar competições de bicicleta. Ele ainda chama atenção para a academia, localizada em baixo da construção: “O apelido que ela ganhou, ‘Tétanus’, diz muito sobre a qualidade dos aparelhos do local”. Ainda sobre a acadêmia, Ligia Manguino completa: “Ela está sempre cheia e sobrecarregada, sempre tem fila de espera. Isso prejudica não só quem faz musculação, mas o pessoal do atletismo, por exemplo”.

Júlia Moura, diretora de modalidade do atletismo da ECA ressalta que essa não é, no entanto, a única dificuldade do esporte “A borracha da pista do Cepe é muito boa, mas as linhas de marcação delas são erradas. Por exemplo, quando fazemos provas de 100m, a chegada acaba sendo depois dos números das linhas e, na realidade, teria que ser antes”.

Ela ainda relata que já fez várias solicitações para o Cepe, principalmente no que diz respeito as coberturas das caixas de areia “As caixas precisam de cobertura porque, quando chove, a areia fica pesada e isso machuca, não dá para treinar. Já falamos com a Laausp e com o Cepe para que fossem colocadas lonas em cima delas, mas isso ainda não aconteceu. Outro problema é que nosso colchão para salto em altura é do Pinheiros, porque o Cepe não tem um. Uma vez, próximo a data de uma competição, eles pegaram de volta e nós ficamos sem poder treinar!”, afirma.

Foto: Paula Mesquita
Foto: Paula Mesquita
De quem é a responsabilidade?

As obras de infraestrutura da Cidade Universitária ficam a cargo da Superintendência do Espaço físico da USP (SEF), órgão vinculado à Reitoria. É com a SEF, portanto, que a diretoria do CepeUSP divide a responsabilidade sobre a condição das instalações esportivas do local. Segundo Gemma Pons Vilardell Agnelli, arquiteta Chefe da Divisão de Planejamento da Sef, “já houve solicitação por parte do CepeUSP para instalação de sistema de aquecimento da piscina, porém por parte da SEF não há previsão de instalação do mesmo.”

Quanto aos módulos, Gemma explica que “há uma licitação em andamento na SEF para a contratação da empresa que realizará a reforma da cobertura dos módulos poliesportivos. Se tudo correr conforme o previsto, as obras serão iniciadas até janeiro próximo.”

A arquiteta afirma que a reforma tem por finalidade sanar as infiltrações de água de chuva e, para tanto, será feita a substituição da cobertura por uma nova. O período previsto no cronograma é de um ano a partir da data de início das mesmas. Segundo Gemma, “o projeto da reforma da cobertura está inserido num projeto maior de ampliação dos módulos do Cepeusp, que por questões de restrição orçamentária foi postergado, tendo sido limitado à reforma da cobertura. As obras em andamento no local para a troca do piso foram contratadas pelo próprio Cepeusp e serão protegidas e compatibilizadas com as obras de reforma da cobertura”, finaliza.

Por Leonardo Milano e Isabela Augusto