Das catracas à democracia orçamentária

Em assembleia realizada na FEA, estudantes e diretor conversam sobre gastos, reformas e prioridades

Catracas ou não catracas? Eis a questão? Estudantes da FEA USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) mostram que o assunto suscita mais questionamentos do que apenas uma interrogação binária. Em uma assembleia organizada pelo CAVC (Centro Acadêmico Visconde de Cairu), realizada no dia 2 de março, o diretor Adalberto Fischmann prestou contas acerca da vida financeira da unidade, falou sobre obras postas em prática e, instigado por alunos, abordou em temas como segurança e cotas. As catracas são o estopim para uma pergunta mais ampla: onde está a democracia orçamentária na Universidade?

Em 25 de fevereiro, a assistência administrativa comunicou o início das obras no fundo do complexo da FEA, as quais constituem a última etapa que antecede o funcionamento das catracas. A nota gerou indagações no corpo estudantil, visto que o cenário da USP como um todo apresenta recursos cada vez mais escassos. Para tornar público possíveis esclarecimentos, o espaço denominado meia-lua foi palco de um encontro entre graduandos e o diretor. Fischmann afirmou que a transparência em relação aos gastos é obrigatória.

Assembleia realizada na FEA, no dia 02 de março
Assembleia realizada na FEA no dia 02 de março (foto: Isabella Galante)

Em um primeiro momento, ele refletiu acerca dos destinos que o orçamento feano possui inevitavelmente, como o pagamento dos salários de terceirizados. Por ter uma saúde financeira regrada, a faculdade, salientou o diretor, precisaria ter cautela em seus pareceres monetários. Sobre as obras, Fischmann relembrou a passagem lateral entre o bolsão do estacionamento e a área da Vivência e do restaurante Sweden, além da reforma iniciada na portaria: “Pagamos, pelas seis catracas, 83 mil reais”, informou. De acordo com ele, o conjunto de construções tem como objetivo “poder ter o perímetro da FEA protegido”. “Nós temos um registro suficientemente extenso de eventos de subtração de pertences, principalmente de alunos, mas não só de alunos”, argumentou. Nesse contexto, a entrada no prédio seria permitida mediante apresentação da carteirinha. Para quem não é da comunidade uspiana e deseja passar pela barreira eletrônica, bastaria se identificar através de um cadastro na portaria, procedimento adotado em muitos edifícios públicos e privados, e, talvez, um documento e uma foto digital também seriam exigidos. “A ideia é, essencialmente, criar um mecanismo não de impedimento de qualquer pessoa que quer vir aqui. Desde que a pessoa se identifique, ela entra”, pontuou Fischmann.

A quem compete tomar decisões financeiras na Universidade? Quem determina os destinos de investimentos? Somente a Diretoria detém tais poderes? Estudantes deixaram claro que desejam ver as suas opiniões sendo consideradas e consultadas. “O momento de dificuldade impõe que prioridades sejam discutidas”, disse o aluno Guilherme Ribeiro. O grupo estudantil feano pede, por exemplo, o conserto do ar-condicionado da biblioteca e a renovação do programa Eviews, instrumento fundamental ao ensino. Abertura de contas e avanço na discussão de formas alternativas de ingresso nas graduações foram encaminhamentos da assembleia. Discutir prioridades: eis a questão.

 

Por Heloísa Iaconis