Jargão não ajuda ninguém

É bem-vinda a ideia de reunir em uma mesma edição várias pautas sobre racismo e discriminação de gênero. Alguns cuidados, porém, evitariam passar ativismo por jornalismo. O ativismo é saudável, mas as páginas de um veículo de informação não são o lugar para exercê-lo.

Evitar o jargão é fundamental. Na reportagem sobre machismo nos jogos universitários, a palavra “opressão” –extraída do léxico dos ativistas sem contextualização nem explicação– é usada diversas vezes sem lógica semântica (do que falamos ao dizer “estar preocupado com opressões”? Assédio? Agressão? Humilhação? Não seria melhor usar o termo preciso?

A pasteurização de alguns termos tem efeito nocivo para quem deseja chamar a atenção para um problema. Uma pessoa desconectada do tema – e é a atenção delas que precisa ser evocada– tem muito mais clareza do que está sendo descrito se o jargão for evitado. A probabilidade de ela se interessar pelo assunto será maior.

Defensores de causas têm o mesmo trabalho na mão contrária: nos EUA, campanhas pró-imigrantes, por exemplo, se esforçam para orientar jornalistas a evitarem o termo “imigrantes ilegais”, também uma pasteurização preguiçosa, já que estes não violaram a lei, e preferirem “imigrantes sem documentos”.

Precisão e a clareza são aliadas tanto do bom jornalista quanto daqueles que pretendem educar os demais sobre um tópico.

Em tempo: ótima entrevista com o professor Vinícius Romanini, mas faltou cuidado na edição – o “professor Laurindo” (Leal Filho, suponho) é citado sem menção a sobrenome, como se todos os leitores o conhecessem.

Luciana Coelho, 37 anos, é editora de “Mundo” da Folha de S.Paulo e ex-correspondente nos EUA e Europa.