Estudantes criam nova Vivência no CRUSP

Iniciativa foi tomada após ação da PM e acolhe alunos que não conseguiram vaga no prédio
Foto: Alexandre Amaral
Foto: Alexandre Amaral

 

Na noite de 16 de junho, estudantes ocuparam o armazém no espaço do antigo DCE, ao lado do bandejão central, e o transformaram em uma vivência com foco em eventos culturais. Com o lucro gerado pelo festival “Acorda CRUSP: fora PM da nossa casa”, que se passou durante a semana de 12 de julho, os alunos investiram em melhorias no espaço do prédio. O festival contou com debates sobre temas sociais, além de apresentações de música, dança e cinema, que deram início à tentativa de criação de um polo cultural por parte dos estudantes.

A ideia da criação do espaço surgiu depois da noite de 16 de junho, quando a Tropa de Choque da Polícia Militar avançou com bombas de gás lacrimogêneo pelos corredores do Conjunto Residencial da USP (CRUSP). “Achamos que não era possível nos silenciarmos depois daquele acontecimento, e fazer um festival foi a melhor maneira que encontramos de nos mobilizar,” relata uma estudante do Coletivo da Vivência.

A Vivência também é utilizada como moradia de estudantes que não conseguiram vagas no CRUSP. Os estudantes trocaram tomadas, torneiras e chuveiros e reativaram três banheiros do espaço, mas relatam que isso ainda não é suficiente. O espaço conta com resquícios do uso como armazém, como uma grande quantidade de lixo e materiais eletrônicos quebrados, que aguardam um destino adequado.

Além disso, o espaço continha um grande quantidade de livros e publicações da EDUSP, armazenados temporariamente. Após o retorno dos livros para a editora, esta emitiu uma carta de agradecimento aos estudantes, e foi a primeira instituição a reconhecer oficialmente o Coletivo presente na Vivência.  

Entre as diversas propostas do espaço, se destaca o cuidado especial com a maternidade. O Coletivo estabelece rodas de apoio para estudantes e funcionárias que são mães ou que estão grávidas, pais e cuidadores. Com jogos e outras atividades, os estudantes esperam proporcionar espaços, que foram perdidos nas unidades, com um ambiente criativo para que as crianças possam se desenvolver, como alternativa para mitigar o fechamento de vagas em creches.

Como o Coletivo possui sua própria autogestão, os estudantes ainda estão tentando formar uma programação fixa de eventos culturais, mas já concentram oficinas, rodas e debates em muitas quartas e sextas do mês. Na próxima quarta-feira, 24, haverá um evento de introdução à Permacultura Vegana.

Quem passa ao lado do bandejão central pode notar também uma horta próxima à Vivência. A plantação ainda está no começo, mas os estudantes esperam que os frutos de seu trabalho sejam aproveitados por eles mesmos. Não somente na questão prática, o Coletivo expressa o conteúdo simbólico do ato, sendo que assim como as plantas, os estudantes podem “ocupar espaços que estão largados e ressurgir,” conta uma estudante.

A reportagem do JC entrou em contato com a Superintendência do Espaço Físico da USP, responsável por responder sobre a situação oficial e burocrática do espaço, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.