Pesquisa da Esalq aponta benefícios de adubação orgânica

Arte: Giovanna Wolf
Arte: Giovanna Wolf

Estudo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da USP, sugere vantagens econômicas, ambientais e sociais do uso de insumos orgânicos na adubação, em detrimento do convencional tratamento mineral.

Conduzida por João Paulo Apolari, a tese de doutorado “Efeito da aplicação de composto orgânico sobre a qualidade do solo cultivado com cana-de-açúcar (Saccharum spp.)” propõe a fertilização orgânica como alternativa para o atual destino inadequado dos resíduos agroindustriais. A orientação da pesquisa tem a assinatura da Profª. Drª. Regina Teresa Rosim Monteiro.

Historicamente relevante para o País, a cana-de-açúcar é a terceira cultura temporária nacional em termos de ocupação de área. Essencial para a economia colonial dos séculos XVI e XVII por conta do açúcar, um de seus derivados, o vegetal mostra, hoje, sua versatilidade ao servir de matéria-prima para o etanol – a principal fonte renovável de energia atual.

Com boa parte de seu território ocupado por plantações de cana-de-açúcar, a cidade de Araras, no interior de São Paulo, figurou como palco perfeito para esse experimento, empreendido no campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

As variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) utilizadas foram as chamadas RB, escolhidas por serem as mais cultivadas em canaviais de São Paulo, estado responsável por cerca de 60% da produção nacional.

Para mensurar a eficácia da adubação orgânica, Apolari se valeu da proliferação e atividades da comunidade microbiana do solo (fungos e bactérias). Segundo ele, “essas populações são rapidamente afetadas por alterações no ambiente e, deste modo, podem ser utilizados como indicadores”.

 

Por que não usar adubo sintético?

Conhecida no universo agropecuário como “agricultura convencional”, a adubação mineral sintética tem sido questionada nos últimos anos por diversas ONGs e órgãos nacionais que propõem um cultivo com responsabilidade social. Segundo o Grupo de Agricultura Orgânica “Amaranthus”, da Esalq, o mal uso de adubos minerais pode ocasionar um desequilíbrio mineral do solo.

Além disso, boa parte dos insumos sintéticos são derivados do petróleo. Não bastasse o impacto ambiental da extração de petróleo, há também o econômico. Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), apontam que a importação desses insumos respondeu por quase 25% do déficit de US$ 8 bilhões na balança comercial de produtos químicos em 2005. Em 2015, o Brasil importou mais de 21 milhões de toneladas de fertilizantes.

Impacto Nacional

Norteado pela preocupação com o descarte incorreto dos resíduos agroindustriais do país, o estudo indica uma saída economicamente viável e sustentável: reusá-los como adubo em uma das principais culturas brasileiras. A repercussão não se restringe à cana-de-açúcar, mas também colabora para a nutrição do solo como um todo.

A baixa preparação do solo, manejo incorreto de fertilizantes e a prática constante de queimadas demonstram que muitos produtores ainda estão despreparados para o cultivo da cana-de-açúcar; o resultado é um empobrecimento crônico do terreno. “Pensando nesses indícios de exaustão, esse aporte de fertilizante rico em matéria orgânica viria a contribuir para melhoria da qualidade do solo”, exemplifica Apolari.

Instituída em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê não só o fim dos chamados “lixões”, como a implementação de políticas municipais de redução da geração de resíduos sólidos. A importância do programa é sentida na medida em que diminuiria a contaminação dos solos e a poluição das cidades. Suas metas, no entanto, não têm sido cumpridas rigorosamente por diversos municípios Brasil a fora. De acordo com Apolari, o estudo foi uma tentativa de mostrar os benefícios do uso dos insumos orgânicos e tornar solução o problema do seu descarte incorreto.