Mad Alegria e a importância da empatia na medicina hospitalar

Grupo traz alegria a pacientes hospitalares por meio de contação de histórias e interações bem-humoradas

Bianca Kirklewski

Nas noites de quarta-feira, os corredores assépticos dos hospitais das Clínicas e do Câncer são invadidos por cores. Nesse momento, professores e alunos de saúde desprendem-se de qualquer academicismo e incorporam o mesmo papel: o de palhaços e contadores de história. O grupo Mad Alegria é um projeto de extensão formado por voluntários discentes e docentes da USP. Criado em 2010, a equipe é financiada pela diretoria da Medicina, fundação da faculdade de medicina e pró-reitoria de cultura e extensão.

Apesar da semelhança, “Mad” não é uma abreviação (com a grafia incorreta) da palavra Medicina. “Vem de loucura, em inglês. É a louca alegria”, explica Elizabeth Ferreira, coordenadora docente do projeto. A professora de fisioterapia revela os objetivos do grupo: “é importante que um profissional de saúde se aproxime do universo do hospital sem uma obrigação de curar”. Trata-se de uma iniciativa de humanização, na qual alunos descobrem na prática a importância da empatia nos atendimentos. “É uma aula sem ser uma aula”, elucida Ligia Mariani, estudante de Medicina e vice-coordenadora discente do Mad Alegria.

Foto: Facebook Mad Alegria
Foto: Facebook Mad Alegria

Para ingressar na equipe, é feito processo seletivo, que ocorre anualmente em março . “A gente tem um curso introdutório de dois dias. Depois, os candidatos escrevem uma carta de intenção. E, na segunda fase, é feita uma entrevista”, conta Ligia. São 50 vagas no total, 30 para palhaços e 20 para contadores de história. “Uma vez selecionados, os alunos têm um ano de treinamento. Na metade do ano, eles começam a ir para o hospital junto dos veteranos”, completa Elizabeth. “As vagas são abertas para a comunidade, com o objetivo de também trazer o olhar do usuário do sistema de saúde para dentro do grupo”.

De acordo com a docente, existem dois públicos-alvos: os pacientes atendidos no Instituto Central do Hospital das Clínicas e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, e os próprios estudantes. “Queremos fazer com que eles se tornem mais humanizados e sensíveis, capazes de perceber e ser mais alinhados com o sentimento do outro”.

Giulia Wang está no 2º ano de fonoaudiologia e faz parte do grupo de contadores de história desde que entrou na faculdade. Ela conta que, com o Mad Alegria, aprendeu a ouvir. “Normalmente ficamos falando, não escutamos o outro. Aqui a gente descobre o quão bem está fazendo só de ouvir o paciente. O quanto ele se sente aliviado de poder se expressar”, diz. Ligia acrescenta: “no curso, eu aprendi muito a olhar no olho das pessoas. É uma palhaçada, mas tem todo o lado humano”.

A reportagem do JC foi convidada para acompanhar uma visita do Mad Alegria. Elizabeth e Ligia, agora transformadas nas palhaças Dra. Felícia e Penélope, optam pela “ala obstétrica, por ser mais leve” . Chegando lá, somos aconselhadas pela faxineira a ir ao quarto no fim do corredor, pois a paciente que lá se encontrava “estava muito tristinha”. Com cordialidade, as palhaças abrem a porta e são recepcionadas por uma mulher deitada em seu leito, recém-operada. Após cumprimentos alegres por parte das palhaças, a paciente anuncia: “Hoje é um dia muito feliz”. A senhora, com cerca de quarenta anos, continua: “Hoje é um dia feliz, pois meu filho foi conhecer Jesus Cristo no céu”. A revelação não parece abalar as voluntárias, que mantêm a compostura. Ao fim da visita, a paciente agradece: “Vocês conseguiram me fazer sorrir. Muito obrigada”.