“Não parem nunca”

Desde que comecei a escrever neste espaço, tenho percebido a preocupação do Jornal do Campus em relatar e problematizar o tema da diversidade em suas edições. A questão permite várias abordagens, mas duas delas são fundamentais: representatividade e acolhimento. Podemos dizer que as edições foram sensíveis em relação a essas duas perspectivas.

Na edição anterior, temos, já na saída, uma bela entrevista com uma estudante de 76 anos, a mais velha entre 30 mil pós-graduandos, que acaba de concluir o mestrado na USP. Mais do que trazer o tema da terceira idade (não gosto desse termo, mas reconheço ser difícil escapar dele), a entrevista, a exemplo do balanço do programa da universidade para pessoas acima de 60 anos e do trabalho dos estudantes que ensinam matemática numa escola municipal, chega como uma lufada para os desafios retratados nas páginas seguintes. Causa aflição acompanhar a sequência de más notícias: taxa de evasão, suspensão de bolsas para intercâmbio, programa de demissão voluntária, falta de professores na Escola de Aplicação, avanço da PEC 241, pilar do governo Temer, no Congresso.

A abordagem sobre a PEC, aliás, chegou em ótima hora, embora só tenha ouvido críticos da proposta. Não parece, mas não faltam apoiadores das medidas entre especialistas em economia.

Ainda sobre o programa de demissão voluntária, foi importante contar a história da psicóloga Ana Maria de Araujo Mello, que trabalhava havia 30 anos na universidade. Ela é uma das seis profissionais da área a serem “aprovados” no programa. Ao ouvi-la, o Jornal do Campus ajuda a humanizar a pauta para além dos números.

Com tanto retrocesso pela frente, as palavras de Julieta Widman sobre vitalidade e persistência nos ajudam a recuperar o fôlego para valorizar as boas iniciativas das páginas finais, como o robô interativo, transplante de útero e o projeto Alice: “Não parem nunca”.

Se pudesse deixar um conselho – além de sugerir uma repercussão adequada sobre a eleição municipal que se encerrou entre uma edição e outra do jornal – faria das palavras da agora mestre Julieta as minhas.

* Matheus Pichionelli mantém uma coluna de cultura e comportamento na CartaCapital e escreve sobre política no Yahoo Brasil