A importância do esporte no protagonismo juvenil e na inclusão social

A pesquisadora Carla Luguetti, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), recebe neste mês de abril, um dos mais prestigiados prêmios na área de pedagogia do esporte. Seu doutorado “Moving from what is to what might be: developing a prototype pedagogical model of sport addressed to boys from socially vulnerable backgrounds in Brazil” gerou um artigo publicado na revista inglesa Physical Education and Sport Pedagogy, que foi escolhido o melhor do ano. A seleção foi na categoria Research on learning instruction in physical education, um dos grupos mais importantes, e foi feita por 93 doutores de todo o mundo. O prêmio é promovido pela American Educational Research Association (AERA) e será entregue em San Antonio, EUA, no congresso AERA 2017, entre 27 de abril e 1º de maio.

Carla estuda o esporte como importante meio de inclusão social para os jovens, principalmente os que se encontram em situação de vulnerabilidade em comunidades desfavorecidas. Através de um trabalho prático, a pesquisadora estudou a questão do protagonismo e empoderamento juvenil através do futebol, analisando treinos orientados e realizando rodas de conversa.

O estudo foi feito em uma das regiões mais carentes de Santos, onde ela acompanhou durante  2013 um grupo de 17 jovens, com rapazes de 13 a 15 anos de idade. Após os treinos, já promovidos no local, a pesquisadora conversava com eles abordando diversos assuntos e problemas sociais. Foram detectados principalmente o problema da violência e o consumo de drogas, inclusive durante o treinamento dentro de campo. A falta de estrutura e saneamento básico também foi apontado como um problema recorrente. “Os jovens estão na escola, mas sentem a falta de outras oportunidades e atividades no restante do dia”, afirma.

Ela ressalta que não é apenas o treino em si, mas todo o diálogo e pedagogia aplicada através dos encontros. “Comecei conversando com 5 jovens após o treino e no final todos os 17 estavam participando. Além disso houve todo um trabalho de aceitação, já que eu era de fora”, completa. Com os treinadores, ela conversava em outro momento, de forma separada.

Os resultados foram diversas melhorias de comportamento, perspectivas e a consciência de atitude, liderança e de ser exemplo, sobretudo quando os jovens passaram a contribuir com o treino dos mais novos a partir desses valores.

O estudo aponta cinco elementos críticos: a relevância do ensino com foco no educando, através da capacidade e atuação dos técnicos; o aspecto ativista, por meio do qual os jovens podem identificar suas próprias experiências e com a ajuda dos adultos buscar oportunidades; o papel do treinador e a questão da afetividade, escuta e incentivo, através da ética do cuidado e o contato de “olhar no olho” do jovem;  conhecimento da comunidade, de sua realidade e de seus problemas; trabalho em conjunto com pais e todo o grupo local, na perspectiva de mudanças e melhorias.

O estudo foi realizado no Brasil, mas Carla Luguetti precisou buscar recursos e literatura no exterior, pois não há muitos estudos nesta área no país. Ela foi orientada pelo professor Luiz Dantas, da EEFE, e coorientada pelo professor David Kirk, da Universidade de Bedfordshire, Inglaterra, onde ficou por seis meses, e pela professora Kimberly Olivier, da Universidade do Estado do Novo México, localizada nos EUA. Porém, somente no Brasil encontrou essas situações extremas de grupos marginalizados.

No momento, em seu pós-doutorado, ela dá continuidade ao estudo, em um novo projeto no Guarujá, agora no papel de treinadora também, uma vez que tudo está relacionado.