Mudança de regulamento no BichUSP elimina EACH

Time da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) (Foto: Giovanna Lucarelli)

O BichUSP é um campeonato que busca integrar calouros de toda a Universidade que ocorre nos primeiros fins de semana do ano letivo. Apesar do clima festivo, uma acusação de descumprimento do regulamento por parte da Atlética da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) resultou na desclassificação da faculdade do campeonato de 2017.

A Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP), organizadora do campeonato, realizou uma reunião de regulamento na terça-feira, 14 de março, e aprovou uma mudança na regra que tornava proibida a participação de rebixos, ou seja, estudantes que já pertenceram a alguma das instituições que participavam do campeonato. Ao saber da alteração, Rebecca Malachias, presidente da Atlética EACH, percebeu que ela tornava alguns de seus atletas irregulares e mandou mensagem para membros das atléticas do campeonato para tentar marcar uma reunião do Conselho de Presidentes, órgão que determina as regras que precisam ser seguidas pela LAAUSP.

Como resposta, disseram a Rebecca que a reunião só poderia ser marcada com 72 horas de antecedência e, como não tinham mais esse tempo, não conseguiram marcar uma data. “A reunião do regulamento foi na terça-feira e o BichUSP era no sábado. Para ter tempo hábil de marcar, eu teria que ter mandado o e-mail na própria terça-feira. Ou seja, não tinha nem como isso acontecer antes do BichUSP”, afirma a presidente. Para explicar a controvérsia, Bruna Hara, Diretora Geral de Esportes da LAAUSP, diz que apesar de estar nas regras que uma mudança no regulamento precisa passar pelo Conselho de Presidentes, não é isso que ocorre há muitos anos e que todos sabem disso.

Segundo Rebecca, a EACH jogou com dois rebixos: uma menina que tinha entrado na faculdade pela primeira vez em 2008, mas que não tinha jogado o BichUSP naquele ano, e outro menino que não poderia jogar de acordo com o novo regulamento. “Nós decidimos bancar a decisão por não concordar com a forma como o regulamento foi mudado”. O Bichusp começou no sábado, dia 18 de março, às 8h30, sem que a alteração tivesse sido enviada formalmente às atléticas.

Em comunicado em sua página no Facebook, a LAAUSP afirma que “por problemas de comunicação, no entanto, o regulamento foi apenas enviado ao e-mail oficial das atléticas no sábado de manhã”, quando o campeonato já estava sendo realizado. Eles ainda afirmam que todas as atléticas estavam cientes desde terça-feira que os atletas rebixos seriam considerados irregulares.

A LAAUSP ainda afirmou que parte das entidades levaram competidores irregulares no sábado e que, “dentro do princípio da boa-fé, não os colocaram em quadra”. De acordo com o comunicado, a Liga decidiu não punir a EACH nem as outras atléticas no primeiro dia do torneio e avisou que isso não poderia se repetir no domingo. A presidente da Atlética EACH afirma que não foi informada dessa decisão.

No sábado à noite, Rebecca mandou mensagem para outras atléticas para saber quem mais jogaria com competidores que poderiam ser considerados irregulares. “Conversando com eles, eu percebi que todo mundo concordava que era absurdo o modo como o regulamento foi mudado, mas estavam receosos”.

“Percebi que a gente tinha duas opções: seguir o regulamento de 2016, em que rebixos podem jogar, ou seguir o de 2017, mas que ainda não está em vigência porque não foi aprovado pelo Conselho de Presidentes”, afirma. Então, decidiram jogar com os atletas no domingo. Segundo Bruna Hara, da LAAUSP, “houve má-fé por parte da EACH por terem jogado com os atletas irregulares no segundo dia mesmo sabendo da alteração na regra”.

Com o basquete feminino, a EACH ganhou o primeiro jogo por 24×0 e o segundo por WO, de forma que seriam classificadas para a semi-final. Quando a tabela foi atualizada com o horário dos jogos seguintes, Rebecca viu que a EACH não estava mais lá e estranhou o fato de ninguém ter ido falar com ela.

“Mandei uma mensagem no grupo com a LAAUSP perguntando porque nós não estávamos na tabela e ninguém me respondeu. Fomos atrás e eles disseram que fomos desclassificados por descumprir o regulamento”, afirma. Além disso, ela explica que o correto seria os jogos acontecerem com a EACH e, se fosse comprovado descumprimento das regras, a faculdade seria desclassificada.

Sem concordarem com as medidas tomadas, atletas e torcedores da EACH invadiram a quadra para impedir a continuação do campeonato até que a situação deles fosse discutida. De acordo a nota divulgada pela LAAUSP, os estudantes da EACH “agrediram verbalmente os membros da LAAUSP de forma violenta (fato relatado em súmula pela arbitragem), invadiram uma das quadras na qual havia um jogo marcado e, contrariando todas as exigências da LAAUSP e todas as suas Atléticas, bem como da arbitragem do campeonato, recusaram-se a sair da quadra e cooptaram seus calouros a participar do festival de anti-desportividade que estavam promovendo”.

De acordo com Rebecca, a Liga também foi agressiva e fez ameaças, mas ela concorda que os dois lados exageraram nesse aspecto. Depois de uma conversa, as quadras foram desocupadas e os jogos foram realizados sem a presença da EACH e, caso a inocência da escola fosse provada, os jogos da fase final seriam refeitos. Rebecca afirma que essa não seria a melhor alternativa porque a premiação dos times já seria naquele dia e seria díficil revertê-la depois.

No domingo à noite, foi marcada a reunião do Conselho de Presidentes em que seria discutida a situação da EACH no BichUSP e o regulamento. No dia seguinte, saiu o edital de convocação da Comissão Disciplinar, o poder judiciário da LAAUSP que julga os acontecimentos e define punições. A comissão convocou dois atletas da EACH e outros atletas da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e do Instituto de Matemática e Estatística (IME) que jogaram no sábado.

Mesmo antes de fazer as reuniões para discutir a situação da EACH, era preciso fazer a inscrição para os jogos do próximo fim de semana. Rebecca realizou a inscrição da faculdade e a LAAUSP montou dois tipos de chaveamento com horários de jogos: um com a EACH e outro sem ela. Segundo a presidente, isso já era uma forma de contar que sua equipe seria desclassificada.

Para a reunião do Conselho de Presidentes, a LAAUSP adicionou uma pauta sobre a aprovação das novas regras. “Porque aprovar a mudança se a EACH já estava sendo punida?”, questiona Rebecca. Na votação para a aprovação do regulamento, apenas a EACH se posicionou contra. “Estava um clima meio negativo na reunião e parecia que qualquer um que se posicionasse contra a Liga seria apedrejado”, diz a presidente.

Apesar de o motivo inicial ter sido o descumprimento do regulamento, não foi essa a razão pela qual a EACH foi desclassificada do campeonato. “Quando a gente não se encaixou mais nesse quesito, começaram a encontrar outros motivos para a punição. Começaram a falar das ameaças à LAAUSP e invasão de quadras. Disseram que a gente tem um histórico de conflitos e não ‘sabemos brincar de BichUSP porque entramos para ganhar’”, afirma Rebecca. De acordo com ela, ocorreram ofensas até ao mascote da faculdade, um touro bandido.

Como resultado, a EACH foi desclassificada do BichUSP,  perdeu o direito a voto por um ano no Conselho de Presidentes e terá que pagar multa de 1,5 salário mínimo. Segundo Rebecca, ficou claro que independentemente do que fosse falado pela EACH na reunião, já estava definido que eles seriam punidos.