FAU suspende prova específica por mais cinco anos

A Prova de Habilidades Específicas (PHE) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) voltou a ser assunto na Universidade. Depois de ser suspensa nos vestibulares para os ingressantes de 2017, a prova de novo não será aplicada aos candidatos, desta vez por mais cinco anos. A decisão foi tomada pela Comissão de Graduação da FAU, presidida pela professora Dra.  Ana Lúcia Lanna.

A suspensão da prova no ano passado veio acompanhada de outra novidade, a adoção do SISU (Sistema de Seleção Unificada) como uma porta de entrada à USP. Em 2017, dos 150 alunos que entraram na FAU, 45 foram pelo SISU. A entrada desses alunos, em regra com menor renda, é a ponta do argumento para a não realização da prova, à medida que é uma ferramenta excludente à essa parcela da população. A aluna Gabrielle Nátalie Belluz caloura do curso de Arquitetura de 2017, considera determinante a ausência da prova para conseguir entrar na USP. “Sem a retirada da prova, eu não estaria aqui este ano, ou mesmo nos próximos”. Gabrielle reitera a necessidade de cursos específicos para a realização do exame, que reforçaria seu caráter excludente. “A prova era densa e exigia um preparo enorme dos alunos, com o auxílio de determinados cursos, para garantir uma nota razoável. Só que esses cursos são pagos apenas por aqueles que têm condições financeiras para isso”, completa a aluna.

Feres Lourenço Koury, professor do primeiro ano de Arquitetura,  reconhece que a discussão em torno da PHE tem em seu cerne o ensino público brasileiro, que deveria estimular em seus alunos, desde o ensino fundamental, a produção artística e a prática do desenho, para que se criasse um repertório nesse sentido. Algo que seria desenvolvido e ampliado na universidade. Por outro lado, Feres não chega a uma conclusão sobre a aplicação ou não da prova específica, e pondera que a sua ausência poderia trazer pessoas despreparadas, com uma lacuna na linguagem arquitetônica exigida nas aulas. Isso corrobora com alguns argumentos levantados nas dicussões da Comissão de Graduação, que enxergam na prova uma maneira de avaliar certas habilidades fundamentais ao curso. Habilidades essas que, atualmente, a graduação não teria como incluir na sua grade curricular.  E de acordo com o próprio professor, ainda não houve movimentação para alterá-la ou discuti-la. “Não existe aula de desenho, uma aula que ensine a desenhar e desenvolva esse lado do aluno. O que é ruim, pois limita a criatividade do aluno na hora das atividades propostas em sala. Você não escreve poesia só porque sabe português.”

Segundo Feres, ainda é cedo para fazer uma análise aprofundada sobre o tema ou o perfil dos alunos com essa mudança. A suspensão de mais cinco anos, contudo, reacende a discussão em torno da reformulação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo para uma problematização mais ampla: a atualização do ensino médio nas escolas públicas.

Em tempo, seguindo os passos da FAU, o curso de Audiovisual da Escola de Comunicações e Arte (ECA) decidiu, em reunião realizada por um grupo de trabalho, na última terça-feira, 30, que também suspenderá a PHE dos vestibular de 2018. A medida é provisória e será reavaliada após a próxima seleção.