Prefeitura do Campus pede: Desacelera USP

Campanha “Desacelere” faz parte do projeto-piloto de mobilidade na Cidade Universitária, em parceria com a SGA

A Prefeitura do Campus USP da Capital, em uma parceria com a Superintendência de Gestão Ambiental da Universidade (SGA), lançou, no último dia 5 de junho, a campanha “Desacelere”, que incentiva os motoristas do campus a respeitarem o limite de velocidade de 40 quilômetros por hora, conforme o acordado pelo Código de Trânsito Brasileiro. Faixas localizadas nas entradas da USP e painéis de relógios digitais por toda a Universidade agora indicam a velocidade máxima e conscientizam quem conduz veículos dentro do campus.

A iniciativa foi lançada no Dia Mundial do Meio Ambiente em uma tentativa de priorizar e dar mais visibilidade ao pedestre. “As vias com velocidade máxima de 50 quilômetros por hora, como a Avenida Brasil, não permitem o estacionamento junto às calçadas. Diferentemente das vias da Cidade Universitária, onde o estabelecimento de 40 quilômetros por hora atende às necessidades daqueles que circulam a pé”, explica Patrícia Iglesias, chefe da SGA.

O prefeito do campus, Oswaldo Nakao, acredita que ainda é muito cedo para falar em diminuição dos acidentes de trânsito. “Entendemos que o foco principal deva estar na mudança de postura, com a priorização dos pedestres. Procura-se resgatar o respeito e o bom senso no convívio dos usuários dos diversos modais”, afirma. Ainda segundo ele, estão previstas para serem instaladas mais cem placas de sinalização de velocidade no modelo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).  

Até o fechamento desta edição, a  Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo (SPTrans) não havia fornecido informações a respeito de como funcionará a regulamentação e fiscalização do trânsito no perímetro da Cidade Universitária. Em 2014, o então prefeito do Campus Arlindo Phillipi Júnior se reuniu com a CET e com o Ministério Público Estadual para formular um convênio que permitiria a atuação da Companhia de Tráfego dentro do Campus. Essas informações também não foram disponibilizadas pela SPTrans.

Opiniões divergentes

Para Alexandre Delijaicov, professor do Departamento de Projetos da FAU, a veiculação da mensagem é muito importante na medida em que contribui para a mudança de mentalidade das pessoas. “Infelizmente, a maioria de nós está abduzida por um ‘urbanismo’ extremamente rodoviarista, que não respeita e não dá espaço e nem tempo aos pedestres e ciclistas. A nova campanha contribui para a mobilidade calma e lenta e para o percurso seguro e digno pela cidade universitária”, afirma.

O professor destaca ainda que as ruas e avenidas da USP constituem espaços muito utilizados para a prática de atividades esportivas, e o incentivo a uma diminuição da velocidade vai em concordância com esse objetivo. “Tendo em vista a quantidade de ciclistas e de pessoas que praticam esportes, um limite de velocidade menor impacta na mobilidade dentro da USP de modo positivo pois, além de reduzir o risco de acidentes, é um exemplo de educação e cultura urbana, humanista, social, pública e coletiva”.

Diego Martins trabalha durante a semana em uma oficina de bicicletas e aos sábados como motorista de uma van que leva corredores à USP para praticar o esporte. Enquanto espera o treino dos colegas terminar, ele conta que prefere andar de bicicleta nas principais rotatórias do campus, sempre prestando atenção nos carros e ônibus que passam ao seu lado.

Contudo, mesmo toda a cautela não foi suficiente para Diego evitar um acidente envolvendo ele e mais um ciclista no penúltimo sábado (3 de junho). Os dois foram derrubados de suas bicicletas por um veículo que realizou uma curva sem sinalizar antes, infração considerada grave pelo Código de Trânsito Brasileiro e que pode resultar em multa de 130 reais e a perda de 5 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Ninguém se feriu no incidente, e os amigos decidiram não prestar queixa contra a condutora do automóvel, que afirmou estar distraída por estar perdida. Para Diego, ficou a lição de que “todo cuidado é pouco”, e que o respeito mútuo entre motoristas e pedestres deve ser incentivado. “Tem que ter empatia. Eu, inclusive, quando dirijo aqui dentro não passo de 40 quilômetros/hora, até porque eu pratico esportes, e penso nos pedestres”.

Há quem não concorde com esse pensamento. Gildney Pereira de Sá, agente fiscal do terminal de ônibus do campus, levanta um problema enfrentado pelos motoristas devido ao limite de velocidade. “Nós trabalhamos com um sistema de horas, e se não circularmos uma certa quantidade de vezes dentro da USP em um período de tempo, somos penalizados com multas e descontos no salário”, afirma. Segundo ele, se todos os ônibus circulassem a 40 quilômetros por hora dentro da USP, os motoristas não conseguiriam bater a meta ao final do dia.

Gildney conta que alguns motoristas recorrem a soluções que muitas vezes os prejudicam para respeitar a lei. “Alguns colegas meus ficam tão apertados que pulam os intervalos de cinco minutos que têm direito”, explica. “Nós somos os prejudicados. Acredito que o certo seria reprogramar a tabela de horários dos motoristas, colocar mais ônibus para circular e contratar mais gente. Mas a empresa não se importa com isso”.

Arcedite de Oliveira é cobrador de ônibus e compartilha da opinião do colega. Ele confirma ter que pular as pausas devido ao tempo curto e reclama da jornada de trabalho, que diz ser muito longa (das 11h05 às 18h20) e sem horário para refeição.

Atualmente as linhas de ônibus circulares são geridas pelas empresas privadas Transpass e Gato Preto, que por sua vez respondem à Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo (SPTrans).

A campanha “Desacelere” está associada ao projeto-piloto de mobilidade e áreas de convivência na Cidade Universitária. No mesmo projeto, está incluído o “Concurso Cultural de Soluções de Mobilidade”, que permite que alunos e professores contribuam com trabalhos para a melhora da mobilidade no local. As inscrições para o Concurso podem ser feitas até o dia 30 deste mês, e mais informações constam na página do SGA no Facebook.