Associação do CRUSP reclama do ruído de ensaio de baterias

(Por: Daniel Miyazato)

Por Daniel Miyazato e André Cardoso

Moradores do CRUSP se queixam da música vinda dos ensaios de bateria na Praça do Relógio. Os grupos costumam começar a praticar no final da tarde e terminam tarde da noite. Os residentes especialmente atingidos são os da pós-graduação, que trabalham em suas teses e dissertações e, não raro, realizam serviços de revisão de texto e tradução durante a noite e madrugada, aponta Leandro Paixão, diretor da Amorcrusp, associação de moradores do Crusp.

A associação enviou um ofício às baterias em junho deste ano. O documento lamenta a falta de espaços de vivência no Campus e a coerção de espaços estudantis pela Reitoria, mas pede que os ensaios não ocorram nas vizinhanças.

“Uma das poucas, senão a única bateria que parou de ensaiar na Praça do Relógio, foi a Cherateria [dos Institutos de Física e de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas]. Eles estão próximos aos portão de entrada da CPTM”, afirma Paixão.

A isso, foram somadas reclamações semelhantes por parte de professores. A administração do Campus encomendou uma avaliação acústica sobre os efeitos dos ensaios de bateria. O estudo, assinado pelo engenheiro Eduardo Murgel, foi feito em maio deste ano e tomou como base as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Segundo a ABNT, o limite de ruído externo de áreas predominantemente residenciais é de 55 dB no período diurno e 50 dB no período noturno. A medição da intensidade sonora gerada pelas baterias em oito espaços do Campus concluiu que os ensaios podem ultrapassar o “padrão normativo para área de ensino – 50 dB(A), a até cerca de 400 m de distância”. Já que existem prédios acadêmicos a menos de 400 m de qualquer um dos espaços utilizados pelas baterias no Campus, a norma é quebrada invariavelmente.

A análise ressalva que, no ambiente urbano, por conta do fluxo de veículos, dificilmente o padrão ABNT é respeitado. Assim, segundo o estudo, flexibilizar o limite para 60 dB seria razoável. Neste sentido, a Praça do Relógio poderia ser palco dos ensaios eventualmente, porém o uso rotineiro não seria recomendado.

Adriana Carrer, a Crystal, diretora geral externa da bateria da Escola de Comunicações e Artes,  conta que os ensaios não passam das 20h. Para ela, por se tratar do período entre aulas, os ensaios não atrapalhariam os moradores do Crusp.

Embora o documento aponte a raia olímpica como um local ideal para os ensaios, conforme veiculado na edição 468 do JC, a bateria Opção Primeira de Pinheiros, da Faculdade de Medicina da USP, que tinha um ofício que permitia a entrada em horários pré-determinados, foi impedida de acessar o espaço nos primeiros dias de 2017. Sobre a situação, Azeitona, mestre da Bateria S/A, da Faculdade de Economia e Administração (FEA), foi enfático. “Fomos expulsos sem aviso prévio nem justificativa plausível’’, disse.

Ainda segundo a edição 468, a raia seria fechada para a realização de um projeto de castração das capivaras. Azeitona lembra que, apesar de questionarem se poderiam retornar após o procedimento, nada lhes foi garantido. Crystal conta que as baterias se engajaram para buscar um lugar oficial e designado exclusivamente para os ensaios. “Esse lugar não veio e, com essa questão da raia, o fluxo próximo ao Crusp aumentou’’, disse. Ela acrescenta que foi informada por Emílio Miranda, diretor do Cepe, que a ideia não seria impedir os ensaios, porém intervenções da Guarda Universitária são frequentes.

Azeitona considera o posicionamento da Amorcrusp válido e avalia que faltam espaços tanto para os moradores estudarem quanto para as baterias ensaiarem. O mestre de bateria reconhece que não deveriam praticar na Praça do Relógio, mas não vê saída para a falta de infraestrutura.