Brechós são grande tendência na Universidade

Consumo consciente, exclusividade e preço baixo são atrativos

Foto: Nicole Hercosvici

Por Gustavo Drullis

Comprar e vender roupas usadas. A ideia é velha, mas agora é melhor aceita pelos brasileiros. O número de pequenos negócios varejistas de artigos usados – 75% são brechós – cresceu 10% no ano passado, de acordo com dados do Sinac (Simples Nacional). Na USP, só em 2017, foram promovidas feiras de brechós – pelo menos – na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), ECA (Escola de Comunicações e Artes) e na FE (Faculdade de Educação).

As feiras são abertas a quem quiser vender, trocar ou doar seus objetos variados. Hoje, eles não se restringem somente a roupas e acessórios. Perambulando pelas araras e cangas estendidas no chão, é possível encontrar também artesanato, livros, discos de vinil, cachimbos de argila e até comidas caseiras. A maioria dos expositores são uspianos, mas pessoas de fora da Universidade, principalmente brechós que já estão no ramo, também marcam presença.

No dia 17 de outubro (terça-feira), o CeUPES Ísis Dias de Oliveira (Centro Acadêmico de Ciências Sociais) promoveu o 1º Brejó + Tatu. O evento reuniu no Espaço Verde, vivência estudantil do “prédio do meio” (da Filosofia e Ciências Sociais) da FFLCH, uma feira de brechós e flash tattoos, pequenas tatuagens a preços mais acessíveis.

No Brechó do Olimpo, presente na feira, as roupas e os acessórios estavam dispostos em caixas, cabides e panos – o dinheiro arrecadado, em uma caneca universitária transparente. Essa era sua “inauguração”. Na opinião de Sofia Toledo, estudante de Ciências Sociais e uma das cinco integrantes do Olimpo, “um dos motivos pelos quais acontece essa onda de brechós é porque as roupas, nas lojas, são muito caras”. Ela ainda acrescenta: “também tem a questão de a peça ser única. O legal é isso, eu encontro roupas que eu sei que não vou ver outra pessoa usando.”

Duas saias, uma blusa e um brinco foi o que Sofia Paranhos comprou no intervalo de sua aula, no Brechó do Olimpo. Lá, as peças eram vendidas a partir de cinco reais. A maioria das roupas que usa são de presentes que ganhou, mas nesse dia não resistiu. “Tenho valorizado cada vez mais esse tipo de comércio, principalmente por questões ecológicas e consumo consciente”, diz a estudante de Ciências Sociais.

“Nós fizemos o brechó tanto para ocupar o espaço quanto por uma questão de permanência”, afirma Nicole Herscovici, membro da gestão atual do CeUPES e organizadora do evento. “Porque estamos com os espaços estudantis, tanto os físicos quanto os políticos, muito esvaziados”, explica. Por um lado, uspianos podem comprar roupas sem gastar muito; pelo outro, podem também fazer uma renda extra se livrando de roupas inutilizadas.

Assim como aconteceu com as feiras de brechó no vão do prédio da História e Geografia, o brechó no Verde sofreu retaliação. Uma reclamação sobre o evento foi levada à Congregação da FFLCH realizada no dia 19 (quinta-feira). Alega-se que ele configura privatização do espaço público, além de não ter lugar adequado para realização das flash tattoos. Após reunião com chefes de departamento da FFLCH realizada na segunda-feira (23) para discutir o assunto, Paulo Martins, diretor da Faculdade, convocará reunião com os centros acadêmicos das Ciências Sociais e da Filosofia. “Não é uma empresa que está querendo lucrar, são pessoas vendendo para se manter”, rebate Herscovici.