Estudantes cobram contratações para o HU

Departamento de pediatria tem futuro incerto após saída de preceptora; alunos protestam

Foto: Natan Novelli Tu

Por João Victor Escovar e Natan Novelli Tu

Os estudantes da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) realizaram ato contra a sucateamento do internato (espécie de estágio) de pediatria no HU-USP. Ao fechar as avenidas Doutor Arnaldo e Rebouças na última quinta-feira, 19, os alunos reivindicaram um novo preceptor (médico que também auxilia com o ensino), após o pedido de demissão da professora Patricia Takahashi – então ocupante do cargo.

A demissão ocorreu em resposta à exigência do Ministério Público de que o horário do pronto-socorro  fosse estendido para a noite, o que foi acatado pela diretoria da faculdade, sem que para isso se fizessem novas contratações. Como a redução ocorrera justamente pela falta de profissionais para atender a todos os horários, Takahashi entendeu que seria inviável o atendimento noturno. Segundo os alunos, a pediatria do HU tem 22 profissionais, dos 32 necessários.

Segundo Renata Mencacci, estudante do quinto ano de Medicina, o horário reduzido foi instaurado originalmente porque, “no ano passado, duas crianças morreram na observação devido ao sobrecarregamento do pronto-socorro”, o que escancarou a inviabilidade de atender integralmente com uma equipe reduzida.

Ela explica que essa situação surgiu quando a carga horária dos preceptores passou de 40 para 20 horas semanais, acarretando também numa redução do salário e subsequente corte no quadro de funcionários. Com uma procura menor, a área pediátrica, por exemplo, ficou sem responsáveis. Foi nesse momento que “a Patrícia, além de médica assistente e coordenadora do estágio, passou também a ser preceptora de 15 estudantes ao mês. Todos os dias, além dos plantões da escala [de atendimento comum]”.

Com sua saída, a disciplina obrigatória para os quintos e sextos anos da graduação tem futuro incerto. “Não só a população fica sem atendimento, como os estudantes não podem desenvolver o estágio, já que alguns grupos ainda precisam fazê-lo esse ano”, comenta André Ruiz, também do quinto ano e numa das panelas que entraria agora no internato. E anuncia: “queremos uma resposta até dia 30, que é quando a Patrícia sai e é a próxima troca de grupo. Se não, é indicativo de greve”.

Renata fala de uma reunião da FMUSP com a Pediatria em que foi sugerido o deslocamento de pessoal do Hospital das Clínicas (HC), mas julga a proposta como irreal: “queremos uma contratação de médicos assistentes via USP, não simplesmente assistentes para tapar buracos”. Também no quinto ano, Fernanda Justo explica que HU e HC possuem demandas diferentes: “Discutimos a abertura de um novo curso de Medicina, em Bauru, onde está sendo montada toda uma estrutura, com contratação de profissionais via USP. É estranho abrir todo um curso lá, sendo que aqui não há dinheiro para nada”, analisa Fernanda. Contatado pelo JC, a Assessoria da USP não respondeu a pergunta.

Por fim, os estudantes acreditam que esse é apenas um passo para o sucateamento do HU. “Hoje é a pediatria do HU, amanhã pode ser outra unidade”, diz Renata. “Antes de expandir a universidade à qualquer custo, por que não manter a qualidade dos cursos que já existem?”, questiona Renata.

Contatada pelo Jornal do Campus, a médica e professora Patrícia Takahashi disse não ter interesse em dar declarações sobre o tema.

Alcance do HU

A socióloga Rachel Moreno, do Instituto Opinião, apresentou uma pesquisa sobre o uso e a satisfação dos usuários do HU residentes na região do Butantã (Rio Pequeno e São Domingos) no auditório da História da FFLCH. Contabilizando também alguns funcionários filiados ao Sintusp, o estudo entrevistou mais de 300 pessoas de diversas faixas de salário, gênero e escolaridade. Nela, atestou-se que mais de 50% da população não possui convênio médico, buscando também em 50% das vezes o HU em casos de emergência.

Daqueles que utilizam o hospital, 40% o procura por sua proximidade. Já da parcela dos que apontaram alguma reclamação, em 40% das vezes o motivo é a demora, o não-atendimento, apenas encaminhar e não atender à noite. De qualquer forma, ela descobriu que muitos gostam do atendimento por se tratar de um hospital-escola, onde os alunos são bem mais receptivos que médicos já formados.

Por conta disso, os convidados que compuseram a mesa criticaram o posicionamento da Reitoria pela desvinculação e redução do quadro de funcionários do HU.