Os nomes do Rosa, fora da USP

Por Laura Molinari

Além de monumentos iluminados e do uso de gravatinhas cor-de-rosa, o movimento internacional do Outubro Rosa visa democratizar o debate sobre o câncer de mama há mais de quinze anos. Na USP, no entanto, a campanha quase passa despercebida.

A Pró-reitoria de Cultura e Extensão, por exemplo, não preparou nada em relação à campanha. E as mobilizações que existem são pouco divulgadas à comunidade universitária. Há uma campanha de arrecadação de cabelo e dinheiro. A partir dela, serão confeccionadas e doadas perucas a pacientes que perderam os fios durante o tratamento do câncer ou de outras doenças.

Promovida pelo Centro Acadêmico de Farmácia e Bioquímica e pela Farmácia Acadêmica Social, em parceria com a ONG Rapunzel Solidária, a iniciativa ocorrerá entre os dias 29 de outubro e 5 de novembro na Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

Além da USP

“Existem muitos médicos no Brasil que se negam a fazer o exame de palpação e a gente verificou isso principalmente com a população negra e mais pobre”, explica Vera Golik, jornalista e fundadora do projeto De Peito Aberto, iniciativa fotográfica em prol da autoestima da mulher com câncer de mama.

Junto do marido e também jornalista Hugo Lenzi, Vera atravessou o país visitando hospitais públicos e compreendendo a fundo o sentimento das mulheres, entrevistando-as e fazendo registros fotográficos.

“As fotos tiveram o papel de fazê-las recuperar a autoestima e declarar coisas que sequer imaginavam”, diz Vera. Ela destaca a importância de uma abordagem mais humanista acerca do câncer para gerar maior curiosidade e aderência à causa.

Foram centenas as fotografadas e milhões de pessoas atingidas pela iniciativa. “A ideia é levar a exposição para lugares onde as pessoas passam e são surpreendidas, como shopping centers e estações de metrô”, explica Vera.

Os retratos acontecem em quatro momentos diferentes da luta contra a doença, passando pela descoberta, o processo de transformação com as sequelas do tratamento, o apoio de conhecidos – ou a falta dele – e a superação, que não necessariamente vem com a cura, mas com a transformação da experiência em uma oportunidade de crescimento pessoal.

Gol de placa

Muitas mulheres que superaram o câncer acabam se envolvendo em iniciativas sociais, expandindo a rede de ajuda mútua. Nátali de Araújo, por exemplo, idealizou o projeto Marque Esse Gol. Trata-se de um serviço de mamografia gratuito e itinerante, instalado em um caminhão, que circula pelo estado de São Paulo durante o mês de outubro e oferece o diagnóstico do exame na porta de estádios de futebol.

“Eu tive câncer de mama em 2012 e sou torcedora do Corinthians. Na época, então, eu fazia quimio nas segundas e nas quartas eu ia para o estádio assistir aos jogos”, lembra Nátali. A sua história ganhou visibilidade e, com o passar dos anos, se transformou em uma iniciativa social com a Federação Paulista de Futebol e ONGs de combate ao câncer.

A equipe que atua no projeto é formada por voluntárias do Meninas de Peito, um grupo de pacientes oncológicas, mulheres que viveram o câncer, e isso facilita o retorno de um eventual diagnóstico positivo.

A dificuldade de se conseguir o exame pela rede pública é cada vez maior. Por consequência, muitas mulheres recorrem a campanhas para fazer os exames. “E todo ano a gente tem diagnóstico de câncer. Ano passado foram oito mulheres diagnosticadas”, conta Natali.

Uma questão relevante

Exceto o câncer de pele, o de mama é o tipo que atinge mais mulheres no mundo. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 58 mil brasileiras receberam o diagnóstico positivo no ano de 2017, o que corresponde a cerca de 28% dos casos totais.

A alta taxa de mortalidade desse tipo de câncer no Brasil é resultado, principalmente, da falta de acesso ao diagnóstico precoce da doença. Apesar de ser considerada de letalidade baixa, a taxa de portadores se mantém elevada em países de baixa e média renda por conta justamente da detecção tardia da alteração na mama.

Nesse contexto, inúmeras iniciativas de ONGs e projetos sociais se tornam uma saída que ameniza a falta de políticas públicas do governo: vão desde o oferecimento gratuito do exame de mamografia até o incentivo ao debate e à disseminação do conhecimento sobre o câncer.

O Outubro Rosa tem o fundamental papel de fazer com que as mulheres parem, ao menos uma vez por ano, para atentar à própria saúde e promover o autocuidado.