É só uma opinião sobre o medo, tá?

Letícia Tanaka

Esta é a quinta edição do Jornal do Campus da minha turma eu fiquei encarregada de fazer a crônica. Desde que o semestre começou, eu sabia que queria fazer uma crônica e tentei várias vezes conseguir ser sorteada para executar tal atividade. Isso porque a crônica é um texto literário, mas primordialmente crítico, e digamos que eu tenho muitas críticas a serem feitas.

Diversos temas passaram pela minha mente, todos eles sobre os quais eu gostaria muito de desabafar: a falta de comunicação entre os jovens, ansiedade quanto ao futuro, drogas e escapismo, a cultura alossexual da faculdade, entre muitos outros assuntos.

Eu tinha duas semanas para escrever esse texto e pensei “nossa, tranquilo demais, vai dar super certo”. Já adianto que não deu. O texto é para hoje 23:59 e são 15h42. Se você leu até aqui, deve estar pensando “claramente o universitário médio deixa tudo para a última hora”, e eu não julgo porque é quase sempre verdade. Mas não foi isso que aconteceu.

Nessas duas semanas tentei de verdade escrever alguma coisa. Como deu para perceber, eu tinha  bons temas (modéstia à parte) que poderiam ser desenvolvidos, todos vocês leriam e pensariam “nossa, verdade né, talvez eu me encaixe nisso”.

Sentava para escrever, começava e parava no meio. Acho que escrevi uns quatro textos diferentes, cada um com um assunto. Eu escrevia, reescrevia, apagava e o papel continuava em branco. Frustrante.

Eu ia dormir e fazia as minhas coisas e tentava não pensar nisso. Mas quando o prazo começou a apertar hoje, eu tinha que fazer. E foi só pelo segundo parágrafo que percebi: eu tava com medo.

Ainda estou, pois olha só: eu comecei a escrever por volta de 16 horas, são quase 18 horas. Poderia ter terminado, mas nesse meio tempo fui lavar louça, tomei um banho extra, vi os novos clipes da Anitta e cá estou eu perdendo o foco de novo. Tudo para não ter que enfrentar este texto.

Voltando: Medo. “Medo do que?” você pode perguntar e eu ainda não sei responder muito bem, mas creio que seja o medo mais comum que um jovem pode ter: medo de se expor, mas não só do ato de se expor pro mundo e sim dos julgamentos que virão.

Veja bem, a crônica carrega uma opinião. Opinião é aquela coisa, não é mesmo? Cada um tem a sua. Isso significa que sempre haverá pessoas para discordarem de mim, de você, de qualquer um e isso é ótimo! A diversidade de opiniões é o que gera o debate, nos faz crescer e todos concordamos com isso. Ótimo.

Agora, falar as suas opiniões, crenças e impressões sobre qualquer coisa é mostrar pro mundo o quê e quem você é. Como não se pode controlar a opinião, a reação alheia, é aí que o medo reside: o que os outros vão pensar depois de você dizer como se sente com relação a qualquer coisa?

Expor minhas ideias em um jornal é aterrorizante, mas olha só que loucura: o medo poderia unir todos os temas que pensei. Se eu fosse escrever sobre qualquer um deles, falaria do que estou tentando dizer aqui.

A falta de comunicação entre os jovens, ansiedade quanto ao futuro, drogas e escapismo, a cultura alossexual da faculdade, acho que tudo isso são reflexos do medo que temos em nos abrir ao outro.

A gente não fala o que sente ou o que pensa, estamos todos sempre bem. Vai que eu conto os meus problemas e assusto a pessoa? E se me acharem maluca? Fazemos o que temos que fazer, cumprimos obrigações e esperamos que nossos projetos deem certo. Se surtamos de ansiedade? Ninguém precisa saber, vão achar que eu sou louca. Festa? Vamos encher a cara, droppar um docinho só pra esquecer um pouco dos problemas e curtir. Ficar com alguém? Claro! Mas só isso, não pode ser muito, vai que fica sério. E se ficar sério, como conversar que tá ficando sério demais? Melhor só cortar relações. E se ela sumir, o que eu faço? Melhor não ir atrás, vai que me acha doida? E se você ler esse texto, como vai me ver daqui para frente?

Não estou interessada em procurar soluções para esses problemas individualmente, muito menos dar lição de moral, até porque não tenho moral nenhuma em todas as situações. Só acho que esses medos são como os clipes da Anitta que eu vi, o banho extra e a louça que poderia lavar depois: são artifícios que usamos para não termos que nos expor e não enfrentar situações que terão julgamentos externos.

Acho que isso é comum. Mas talvez estejamos chegando em um nível que está começando a ficar tóxico nesta gaiola de medo e inseguranças. Ninguém deveria ter medo de ser o que é.

Se todos nós concordamos que o debate é o que nos faz crescer e nos enriquece, por que não enfrentar o medo e se expor um pouco mais? Se abrir é crescer, levar críticas é crescer, lidar com os embates nos faz crescer e nós somos jovens, precisamos crescer. É difícil, não estou dizendo que não, mas acho que está mais do que na hora de termos coragem.

Ah, só para informar: texto oficialmente terminado às 20h30.