A história indígena contada por eles

Exposição que busca passar visão indígena sobre sua cultura é de extrema importância no período atual

Por Ane Cristina

Legendas dos objetos expostos trazem explicação indígena sem edição no modo de falar. Foto: Daniel Medina

“As narrativas da exposição são dos grupos indígenas. Baseados na ancestralidade, querem falar do presente: ‘Nós estamos aqui!’” com a frase escrita num cartaz que simula madeira, é assim a apresentação da exposição Resistência já! Fortalecimento e União das Culturas Indígenas sediada no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP.

Os objetos expostos contam muito do cotidiano das três etnias do Centro-Oeste de São Paulo: Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena. Os enfeites variam de um colar de ossos de ave a um brinco de pena parecido com os que encontramos em feiras. As peças de cerâmica utilizadas para cozinhar e todas as armadilhas para caçar pássaros nos colocam em contato com essa cultura que acreditamos não existir mais. Mas o ponto alto da mostra são as placas que ficam ao lado dos itens expostos. São “legendas” feitas pelos próprios indígenas sobre o que é o objeto, para o que ele era usado e até a sua relação pessoal com aquela peça. O relato não foi editado e está transcrito com as marcas de linguagem dos indígenas. O recurso torna toda a exposição muito mais fiel ao que quer passar: o indígena como protagonista.

Além das pequenas placas que servem como legenda, as placas fixadas também contam a relação dos indígenas não só com os objetos, mas com a sua cultura. Em uma delas, há um relato que explica porque a ema é um animal importante para a etnia Guarani Nhandewa e esclarece rituais realizados. Aliás, esse tipo de explicação fez falta na parte exposta da tribo Kaingang, que conta apenas com fotos que não falam muito.

A disposição dos objetos naquele espaço, que foi organizado de acordo com a preferência dos indígenas, faz bastante sentido e também ajuda a contar uma história. A caça. Os partos. Os rituais. Tudo coerente e de uma forma fácil de entender.

Nesse momento recém-saído de carnaval é quase impossível se deparar com vestimentas e objetos tipicamente indígenas e não se recordar da discussão “Índio é fantasia?” que tomou as redes sociais. Depois de adentrar no cotidiano e cultura das tribos, a resposta para essa pergunta se torna óbvia.

Resistência já! Fortalecimento e União das Culturas Indígenas é uma exposição que já seria importante outrora, mas se torna ainda mais especial em um momento de luta por reconhecimento e direitos. A visita, que é gratuita, é imperdível. O espaço está aberto ao público às segundas, quartas, quintas e sextas, das 9h às 17h; e aos sábados, das 10h às 16h.