Descontos em eventos universitários ajudam na permanência estudantil

Iniciativa de alunos, o chamado “ingresso social” é uma tentativa de tornar a experiência universitária acessível a todos

Por Anny Oliveira

Depois de entrar na universidade é que os desafios começam. Para alunos de baixa renda, eles vêm em dose tripla: além de provas, seminários e trabalhos que levam à aprovação no fim do semestre, é preciso sobreviver. E mais do que isso, viver. Ter a experiência universitária completa. Essa, que extrapola os limites da sala de aula.  Nisso se incluem os eventos dentro e fora do campus. Seja para complementar a formação acadêmica e profissional, seja para simplesmente festejar. Viver e ser jovem também é festa. Mas toda festa tem um custo.

Na parte da sobrevivência, o auxílio financeiro oferecido pela USP ajuda. Higiene, alimentação, moradia, livros. O subsídio de eventos festivos não está incluso. Ao menos não por parte da Universidade. Já por parte das entidades estudantis, uma iniciativa vem crescendo nos últimos anos,:  o ingresso social. Trata-se de um desconto parcial ou total no valor desses eventos para aqueles que recebem apoio financeiro da Universidade.

Quem faz Na Atlética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), a política de descontos sociais começou em agosto de 2018 pela necessidade de acompanhar a mudança do perfil socioeconômico dos alunos. Essa mudança se tornou evidente, sobretudo, a partir de 2017, quando a FAU aderiu ao Sistema Único de Seleção (SISU).

Ainda no ano de inauguração, os preços reduzidos foram aplicados em dois campeonatos interesportivos dos quais a faculdade participa. Por questões financeiras, somente atletas receberam o desconto. “Infelizmente não recebemos apoio institucional nenhum e temos que promover essas políticas com dinheiro do nosso próprio caixa, conquistado com nossos eventos ao longo do ano”, explica Lucas Henrique, Diretor de Eventos da Atlética.

Ainda assim, a novidade foi comemorada. “Tivemos um número considerável de atletas que foram para competições por pelo menos metade do valor total. Atletas que antes tiravam um dinheiro que não tinham para pagar por esses eventos tiveram a oportunidade de representar a Atlética nos jogos. Para a gente, isso foi o máximo”.  

Quem usa Do outro lado da calçada, a história se repete. Na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), o ingresso social foi implantado pela Agência de Comunicações ECA Júnior, no início de 2019. Vitória Araújo, caloura de Publicidade e Propaganda, foi uma das contempladas. Graças ao projeto, a estudante pôde experimentar os óculos de realidade virtual do Veredas, evento anual de turismo.

É um valor que faz falta. Eu teria que deixar de comprar algo pro Crusp ou diminuir minha compra do supermercado para conseguir ir. A diferença é poder estar envolvida nos projetos e socializações que a USP proporciona”, ressalta.

Vitória relata a estranheza de estar em um espaço elitizado. Contudo, ela tem amigos que, na primeira festa do ano, fizeram uma vaquinha e compraram o ingresso dela.

“Não me importo de ser ajudada, não tenho orgulho nesse sentido. Mas imagino quem não tem amigos assim, como sofre exclusão. Muito da socialização na USP envolve gasto financeiro. E se você não tem poder aquisitivo para tal, deixa de estar por dentro”.