Sim! A matemática é coisa de menina

Duas exposições nos institutos de Matemática de São Paulo e São Carlos querem quebrar tabus

Por Beatriz Gatti

Foto: Beatriz Gatti

No dia 12 de maio foi celebrado o primeiro Dia da Mulher na Matemática. A data, estabelecida em julho de 2018 durante o Encontro Mundial de Mulheres em Matemática, remete ao aniversário da iraniana Maryam Mirzakhani, única mulher a receber a Medalha Fields, ou o “Nobel da Matemática”.

A cientista está sendo homenageada em São Carlos, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, através da exposição Remember Maryam Mirzakhani. São 17 pôsteres com fotos e frases que mostram aspectos da vida pessoal e familiar de Maryam, que faleceu em 2017 em decorrência de um câncer.

“O objetivo era desconstruir a imagem de pessoa inalcançável e colocá-la em um patamar mais humano, sem desmerecer sua genialidade matemática”, conta Thaís Jordão, curadora da exposição e professora do ICMC.

O 12 de maio também trouxe de volta ao Instituto de Matemática e Estatística (IME) um projeto de 2017. “Ela está em tudo” brinca com o mote da Semana de Ciência e Tecnologia da USP daquele ano – “A Matemática está em tudo”.

Em 14 quadros, a exposição revela a trajetória de diferentes mulheres ligadas de alguma forma a essa ciência exata, além de explicar um conceito matemático de forma acessível ao público geral. Conjunto dos números reais, a curva gaussiana e até o infinito são alguns dos exemplos.

Longe do ideal

As duas iniciativas buscam desconstruir a ideia de que a Matemática não é coisa de mulher, e têm em comum o objetivo de inspirar esse público a seguir na área, ainda predominantemente ocupada por homens – principalmente nos postos mais altos da pesquisa.

No departamento de Matemática do ICMC, são sete professores titulares homens e uma mulher, segundo o site do Instituto. Quanto à direção, somente depois de 14 homens, uma mulher – a professora Maria Cristina Ferreira de Oliveira – assumiu o cargo.

No IME, a situação é ainda pior: dos oito professores titulares de Matemática, nenhum é do gênero feminino. E, na história do Instituto, que tem agora seu 13º diretor, jamais uma mulher ocupou a diretoria.

Acolhimento

No IME, além do Coletivo formado por funcionárias, professoras e alunas, existe também a Comissão de Acolhimento da Mulher (CAM), aprovada pela Congregação da faculdade por unanimidade em 2016.

Formada por 6 mulheres das três categorias, a CAM ouve vítimas e age somente de acordo com a vontade da mulher agredida, oferecendo desde uma conversa até a solicitação de processo administrativo contra o agressor.

Em São Carlos, as meninas ainda buscam um apoio oficial da universidade. Tauane Ybarra, aluna do terceiro ano de química, conta que o Coletivo Feminista do campus também se movimenta para a formação de um órgão de acolhimento. O próximo passo é a entrega de um documento com as propostas do grupo.

As mulheres seguirão lutando. Além do legado matemático, Maryam Mirzakahni compartilhou também a esperança de um dia ser somente a primeira mulher, mas não a única.