Trajeto do novo Circular foi sugerido por estudantes da Poli

Frota das outras duas linhas foi remanejada, impulsionando lotações

Por Jonas Santana

Reprodução do Trabalho de Formatura “Estudo das linhas de ônibus circulares que atendem à CUASO”

Há cerca de um mês, a comunidade USP era informada sobre a criação da linha Circular 8032-10 que prometia diminuir a lotação cotidiana das outras duas linhas (8012 e 8022) e melhorar a mobilidade na Cidade Universitária.

Segundo a nota oficial da SPTrans ao Jornal do Campus, a linha foi implantada após a realização de estudos técnicos, considerando a movimentação da demanda/passageiros em pontos específicos e nível de ocupação dos veículos dos outros dois circulares. Além disso, houve solicitação da USP, que subsidiou com pesquisa realizada por estudantes e aplicadas em Trabalhos de Formatura da Escola Politécnica (Poli).

A companhia afirmou também que o trajeto da linha 8032 foi definido para atender prioritariamente aos usuários que embarcam no Terminal Butantã e se destinam aos pontos que ficam na avenida Professor Luciano Gualberto, ou próximos dela.

O Circular 3, que opera somente nos dias úteis, passou a utilizar parte da frota operacional dos outros dois circulares. As linhas 8012 e 8022 operavam com nove veículos cada. Agora, a primeira passou a operar com cinco veículos e a segunda, com oito. Portanto, não houve alteração no custo para a USP com a nova linha. Em março, por exemplo, o valor repassado pela Universidade para a operação das linhas circulares foi de R$ 640.530,60.

Análise

Reprodução do Trabalho de Formatura mencionado

O Trabalho de Formatura intitulado “Estudo das linhas de ônibus circulares que atendem à Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira”, de Amanda Kussano, Gabriel Dias, Roberto Salles e Victor Ferreira, foi base para a criação da linha 8032. O documento conta com uma análise detalhada sobre a operação das linhas circulares e propõe o trecho utilizado atualmente pelo Circular 3. No entanto, era proposto que o ônibus, chamado no documento de “linha circular expressa”, operasse somente no pico da manhã (entre 6h e 8h), período no qual os ônibus saem lotados do Terminal, de acordo com a Pesquisa de Embarque-Desembarque coordenada pelo Professor Orlando Strambi do Departamento de Engenharia de Transportes (DET) da Poli.

“Quanto maior a frota total dedicada à operação das linhas circulares, notou-se que maiores são os benefícios aos usuários”, consta no documento, que também explica que o aumento da frota resultaria no aumento dos custos da operação. Mesmo assim, analisando-se as possibilidades sem alterar a frota do cenário atual, o trabalho concluiu que um remanejamento interno da frota dentre as linhas circulares e a linha expressa já apresentaria melhorias significativas na operação.

Reflexos

A linha 8032 alterou a mobilidade em toda Cidade Universitária, principalmente pelo fato de sua frota ter sido resultado de um remanejamento dos ônibus de outras duas linhas. A Pesquisa de Embarque-Desembarque mostrou, por exemplo, que no pico da manhã os pontos com maior quantidade de passageiros embarcando são os do Terminal Butantã e da Portaria 3 para as duas linhas circulares. Com o novo Circular, este último ponto teve uma redução de cinco ônibus, cerca de um quarto a menos de seu total.

O estudante de geografia João Gabriel comemorou a criação da nova linha pelo fato da FFLCH ser uma das beneficiadas. Ele lembra que está mais vazio e rápido na hora de embarcar no Terminal Butantã, mas reconhece que para retornar está mais complicado: “No ponto do outro lado da FFLCH, para ir ao metrô, agora todos os circulares estão muito mais cheios”.

A graduanda de física Micaela Salim também afirma ter sido mais prejudicada na hora de voltar ao Terminal Butantã. Mesmo não gostando de andar à noite pelo campus, às vezes ela opta por caminhar até a Avenida Luciano Gualberto para pegar o Circular 3 à frente do Poli Biênio pelo fato dos pontos da Rua do Matão, onde fica o Instituto de Física, estarem lotados.

Neste primeiro mês da nova linha, a estudante de fonoaudiologia Monique Soares quase perdeu uma prova por ficar esperando no ponto próximo à Portaria 2 a linha 8022 que iria à Fofito, próximo à Portaria 3. O ponto que normalmente ficava vazio no período da manhã, estava lotado, e o Circular 2 havia passado duas vezes, mas completamente cheio, impedindo-a de embarcar. Para não perder a prova, Monique precisou acionar um motorista de aplicativo.

Fonte: SPTrans | Arte: Larissa Vitória

DCE

No dia 13 de abril, a página no Facebook oficial do Diretório Central dos Estudantes Alexandre Vannucchi Leme, o DCE Livre da USP, publicou a informação de que a SPTrans havia criado uma nova linha de ônibus na Cidade Universitária.

Intitulado “Vitória dos Estudantes: Criação de um novo Circular (8032-10)”, o post foi editado pelo menos três vezes depois de publicado, mas na sua primeira versão afirmava que o DCE participou do projeto que resultou na nova linha. “Oficiamos a SPTrans ainda no dia 18 de janeiro de 2018 solicitando a criação de uma rota de ônibus Circular 3, que passa agora a ser oferecida”, dizia parte do post.

No entanto, após a questão do remanejamento da frota ser levantada pelos seguidores da página, o DCE editou a publicação afirmando que “o acréscimo de uma nova linha, se não acompanhada de cortes ou redução de frota, pode ser positiva ao se pesar prós e contras”. Além disso, foi alterado o trecho que confirmava sua relação com a criação do Circular 3: “O trajeto desta nova linha é diferente do que foi sugerido por nós na época”.

Segundo Thiago Mitushima, estudante de arquitetura e urbanismo e coordenador do Grupo de Trabalho de Mobilidade do DCE, o diretório ficou sabendo do novo Circular junto com os outros estudantes. Ele lembra que no começo do ano passado, o diretório se reuniu com a Prefeitura do Campus, após as especulações de que o prefeito da época, João Doria, cortaria linhas de ônibus municipais que circulam próximas à Cidade Universitária. À época, a proposta do DCE era criar um Circular que complementasse as outras duas linhas e que fosse até o Terminal Pinheiros, principal terminal da região. Mas a reunião em si não obteve resultados.

Agora, com um mês de operação e polêmicas que rondam a nova linha, Thiago afirma que os próximos passos do DCE é tentar construir argumentos por meio dos próprios trabalhos que influenciaram na criação da linha para dialogar com a Prefeitura do Campus e com a SPTrans: “A gente vai reunir os dados para tentar fazer uma reunião, se posicionar e tentar reverter essa situação ou fazer um rearranjo”, explicou.

Versões oficiais

Foto: Jasmine Olga

Sobre as reclamações geradas após a criação do Circular 3, a SPTrans afirmou que as linhas do sistema municipal de transporte são avaliadas continuamente para atender critérios de conforto, segurança e eficiência, sendo sujeitas a ajustes operacionais sempre que necessário. Questionada sobre como essa avaliação é realizada, a companhia afirmou que monitora o desempenho das linhas em tempo real por meio do Sistema Integrado de Monitoramento (SIM), que reúne informações sobre a localização de todos os veículos da frota, equipados com GPS em sua totalidade, e por meio dos técnicos de campo que atuam em todas as regiões da cidade.

Em relação a possíveis mudanças nas linhas, a companhia afirmou que “nada será alterado da noite para o dia, sem um amplo debate com a comunidade”. Além disso, disse que as mudanças que forem efetivadas serão implantadas a partir de 12 meses da assinatura dos contratos e seguem por mais 36 meses.

A Prefeitura do Campus da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira afirmou ao Jornal do Campus que o comportamento do serviço, sua acomodação e todas as manifestações, negativas e positivas, da implantação da nova linha de circulares estão sendo analisadas e repassadas para a SPTrans. Perguntada sobre a viabilidade no aumento da frota das linhas circulares, a Prefeitura do Campus alegou acreditar que seja possível equilibrar as linhas com o número de ônibus existentes. “Ainda estamos em fase de adequação e testes. Mudanças estão previstas para atender, da melhor maneira possível, a comunidade USP”, finalizou.