JC: 500 edições de aprendizados, dificuldades e realizações

A cada 15 dias, sete mil exemplares são distribuídos pela USP. Conheça a produção do jornal 

Por Beatriz Gomes

Foto: Pedro Gabriel

Entramos no curso de jornalismo na USP e ficamos ansiosos pelo momento de fazer o Jornal do Campus (JC), publicação com 37 anos, que você deve estar lendo impresso ou virtualmente. Mas como o JC é feito?

É importante esclarecer: não somos um veículo institucional, como o Jornal da USP, mas uma publicação crítica e pedagógica. E erramos, trata-se de um jornal-laboratório.

Ele começa a ser pensado numa reunião de pauta em que sugestões são debatidas entre alunos e professores. Cansativas, as reuniões são fundamentais. Neste semestre, fizemos, em média, duas edições por mês – elas variam conforme a disponibilidade de verbas.

Além dos debates, nas reuniões são distribuídos os cargos. Então começa outra etapa fundamental: correr atrás de fontes. Inevitavelmente, pautas mudam até a versão final e os ajustes de agenda são complicadíssimos, muitos estudantes trabalham.

A história de uma foto

Heloísa Iaconis, do último ano de jornalismo, narra a realização de uma foto que demonstra as peripécias vividas por quem faz o JC. Ela precisou ir para Campinas no dia do fechamento para registrar o treino de uma atleta.

“No dia do fechamento, às 6h, eu e Isabel Seta nos encontramos próximo do metrô Faria Lima e, de lá, ela dirigiu até Campinas. Em um clube da cidade, encontramos Inaiá, a atleta, fizemos uma sessão de fotos e voltamos para São Paulo – tudo antes do almoço. Fomos compartilhando o passo a passo com a turma no grupo do Facebook e, quando fiz um post dizendo que estávamos voltando e as fotos tinham ficado boas, muita gente vibrou. Chegamos em São Paulo, corri para a ECA e, da faculdade, fui embora quase de madrugada: a edição foi terminada e, felizmente, a capa ficou linda, com uma atleta mulher e uma história de bastidor que me marcou bastante. Creio que essa coletividade e essa disposição são essenciais para um bom jornalismo e tive a sorte de vivenciar isso, na prática, no JC.”

Fechamento, ou desespero

Fechar a edição é o momento mais tenso, sobretudo porque não passa de meia-dúzia a quantidade de computadores com os programas necessários. E eles estão desatualizados, travam constantemente, alunos perdem páginas inteiras prontas. Um exemplo gritante: ficamos um ano sem impressora no laboratório.

Foto: Matheus Morgado

Não raro, terminamos a edição de madrugada, quando carros de aplicativos são acionados e quem mora perto, recebe os colegas em casa. Os jornais chegarão horas depois. Então começa a correria da distribuição.

Em todos os cantos da USP

Os fardos dos jornais são muito pesados. Quem tem carro, leva o JC para locais distantes. Um carrinho de mão é utilizado para entrega no campus.

Nessas ocasiões, escutamos críticas. Eu mesma ouvi um “por que a universidade está gastando dinheiro imprimindo jornal? alguém lê isso?”. São palavras que magoam porque quem fez e faz o JC sabe da sua importância para a sua formação.

Mas também há elogios: uma noite, no Instituto de Química (IQ), estudante informou que era leitor assíduo, pois o jornal o informava sobre o que estava ocorrendo na USP. Coisas assim fazem valer todo o esforço.

O jornal acaba sendo mais do que um papel impresso com milhares de palavras, é um aprendizado.

Experiências

Carolina Unzelte fez o JC em 2017. Foi, “de longe, o que mais gostou no curso porque mostra a realidade da redação, tanto pela estruturação do jornal ser próxima ao cotidiano do jornalismo, quanto pelos prazos exigidos”.

Ela continua: “no JC eu tive a oportunidade de fazer matérias que me forçaram a entender a burocracia da USP, e isso me ajuda até hoje, quando eu preciso escrever sobre um processo judiciário. Essa experiência me fez perder o medo de estatutos, burocracias e de como as instâncias funcionam”.

Formada em 2017, Victoria Salemi fez o JC no segundo semestre de 2014. Ela conta que foi uma das primeiras turmas que tiveram aula após a aposentadoria do professor José Coelho Sobrinho. Então, os docentes estavam pegando o ritmo do jornal. “Eu sentia que a gente não tinha assistência necessária para fazer o JC. Muitas vezes os próprios alunos corrigiam nossos textos. Apesar disso, aprendemos a nos virar. O JC é a nossa é a primeira grande experiência de fazer jornalismo na prática”.

Especial Edição 500

As constantes batalhas no jornalismo

Por Beatriz Gomes

“A luta pelos cursos de jornalismo”, matéria da edição 15, de setembro de 1985, informa a ida de estudantes de comunicação, incluindo os alunos da ECA, até Brasília, para entregar uma lista ao Ministro da Educação da época. O documento continha reivindicações para a melhorar a qualidade do ensino de Jornalismo no país. Entre as demandas estavam a falta de estrutura pedagógica e de equipamentos. Essa situação decorria e decorre da falta de recursos orçamentários.

JC 15 –Setembro/1985

Mas essa história é construída por conquistas, também. Na edição 229, de setembro de 2000, o jornal anuncia “JC ganha o prêmio de melhor jornal-laboratório do Brasil”. A matéria narra a vitória do Jornal do Campus no concurso promovido pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação). O jornal foi inscrito no concurso por uma aluna que fez a disciplina no segundo semestre de 1999.

As vitórias não impediram os retrocessos. Em julho de 2005, na edição 299, o JC publica a matéria “Redação que faz milagre: 15 máquinas para 5 publicações”. A reportagem denunciava a falta de máquinas e problemas técnicos no laboratório de informática do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE).

Já em novembro de 2017, na edição 482, a matéria “Acordo garante impressão dos jornais-laboratório da ECA” pautou mais um dos dilemas do jornal: a falta de recursos do departamento para a impressão do JC. Antes do acordo, uma das saídas dos estudantes foi fazer uma vaquinha online para garantir o futuro das publicações.