Tirando coelhos da cartola

Por André Romani

Foto: Larissa Santos

Foram 18 anos como único editor do Jornal do Campus, entre 1998 e 2016, e outros tantos editando com outros professores, em alguns momentos, eram cinco editores. Aluno da segunda turma de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1967, o professor José Coelho Sobrinho é, provavelmente, a pessoa que mais viveu a história do JC.

Aposentado, Coelho guarda lembranças e muitos aprendizados em mais de 44 anos de ECA, nos quais se virou para colocar o jornal em circulação. Ele conta um pouco dessas trajetória na entrevista a seguir.

Qual é a importância do JC?

O Jornal não é para o aluno aprender a escrever. Não é essa a intenção do jornal, mas, sim, aprender a pensar e fazer conexão com que está acontecendo na sociedade. Pelo menos nesses últimos 18 anos que fiquei no JC, a ideia era essa. O jornal não feito só para treinamento. Goldenberg quando foi reitor dizia: “Boa parte da minha administração eu faço lendo o Jornal do Campus, porque o jornal diz aquilo que os meus assessores não dizem.”

Alguma matéria te marcou?

Nós fizemos uma matéria sobre a Aids, quando falar sobre o assunto era proibido. Entrevistar um aidético foi um escândalo, as pessoas olhavam para a Mônica Teixeira (autora da matéria) e achavam que elas estava com Aids porque ela conversou com um portador da doença.

Mesmo sendo um Jornal do Campus, por muito tempo o JC deu ênfase ao mundo fora da USP. Por quê isso ocorria?

Nós não considerávamos fora da USP como fora da USP, porque a universidade está dentro da sociedade. Tudo que tivesse alguma conexão com a USP ou com seus alunos, era abordado. Chama Jornal do Campus porque ele dava preferência ao Campus. Mas não significa que ele se restringia geograficamente a ele. O jornal ia para frente, além do limites geográficos da própria USP.

E qual a importância de ser um jornal impresso?

Como jornal físico tem-se muito mais tempo para pensar e analisar. Existe um retorno. Em algumas turmas, o pessoa entregava o jornal e voltava com pauta. E também vinha com críticas ao jornal. Além disso, acho que a comunicação online tem uma grande deficiência. Eu defendo que a essência do jornalismo é a apuração, que é justamente o que o jornalismo online não faz. A apuração do jornalismo digital é correndo contra o tempo, vendo o jornal como o mercado e não como um direito da sociedade de ter uma informação correta.