Fusão de cursos na Unesp é improviso que agrava crise

Até 15 de outubro, 40 unidades deverão apresentar propostas de modificações que poderão fundir outras graduações

Por Giovanna Stael

Estudantes protestam contra as fusões de cursos na Unesp. Crédito: Daniel Terra

No último dia 10 de setembro, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária (CEPE) da UNESP aprovou resolução que propõe a reformulação dos departamentos que não se adequam ao estatuto da universidade, segundo o qual um departamento de ensino deve contar com no mínimo 10 docentes para existir. Em São Paulo, o Departamento de Artes Cênicas, Educação e Fundamentos da Comunicação (DACEFC) e o Departamento de Artes Plásticas (DAP) serão fundidos por terem, respectivamente, sete e nove professores. 

O baixo número de docentes provém de aposentadorias, falecimentos ou saídas, e faz com que o pessoal da ativa suporte um quadro de sobrecarga, entre aulas e orientação de pesquisas. O panorama é ainda pior se visto de longe: em 2015, a Unesp contava com 3.826 docentes. Com perda de 20%, encara 2019 contabilizando 3.051. 

A situação é ainda mais grave com as tentativas de corrigir o problema com professores temporários ou estudantes de doutorado – que ministram aulas ganhando uma bolsa de aproximadamente R$ 400,00 -, ao invés da abertura de editais efetivos. A Unesp não contrata novos docentes desde 2014.

A reestruturação, porém, não se restringe aos departamentos do Instituto de Artes na capital paulista. Até 15 de outubro, cerca de 40 outras unidades deverão apresentar propostas de regularização, de acordo com a resolução aprovada.

FInanciamento

As universidades estaduais paulistas se sustentam com repasses de uma mesma fonte: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, cuja arrecadação varia de acordo com o consumo da população. Ou seja, tende a diminuir em períodos de crise. 

O repasse destinado à Unesp é o mesmo desde 1995, e não acompanha a expansão da Universidade. Quase a totalidade do orçamento é destinado para o pagamento de salários dos ativos e aposentados. Por conta dessa situação insustentável, a Unesp vem discutindo projetos de sustentabilidade financeira.

A medida que funde cursos em São Paulo provém de discussão iniciada em 2018, que envolve reformas administrativas, acadêmicas e um teto de gastos com salários. O texto do plano de reestruturação, divulgado em outubro do ano passado, também sugeria “avaliar a pertinência de manutenção de oferecimento de cursos com baixa procura e de altos índices históricos de evasão”. 

Uma outra medida prevista foi a extinção do vestibular de inverno, suspenso a partir deste ano. Em nota, a Unesp informou apenas que as reformulações departamentais devem “estimular que docentes com diferentes expertises se aproximem, aumentando a multidisciplinaridade”.

O que a fusão significa, na prática?

A fusão de departamentos pode não parecer grave. Porém, com a reestruturação, surgem diversos problemas. Na análise do professor Antônio Carlos Mazzeo, a fusão de departamentos objetiva um corte de gastos. Isso se daria por meio da diminuição de funcionários e da distribuição da carga de trabalho entre os professores, evitando contratação de docentes – o que não acontece há cinco anos. 

Outro problema seria a redução da oferta de vagas. Em entrevista ao JC, Mazzeo comenta que “nem mesmo o número de  professores substitutos tem sido suficiente”. Como consequência, alguns cursos estão propondo a redução do número de vagas. A unificação de departamentos, por mascarar a demanda de contratações, aprofunda ainda mais esse problema. 

Além disso, a minuta do projeto de reestruturação deixa em aberto questões como a divisão da escassa verba, que será disputada internamente em cada departamento, entre cursos com diferentes demandas. 

Vitor Gimenez, estudante de Música e membro do Diretório Acadêmico Manuel Bandeira, exprime o posicionamento dos alunos do Instituto de Artes, que protestaram em frente à reitoria na última quinta-feira: “Teremos um único departamento para cuidar de mais cursos, menos corpo administrativo para cuidar de mais coisas. O que acontece é um sucateamento mesmo, não resolve o problema real, apenas o agrava a longo prazo.”