Por que os caminhos da Iniciação Científica são difíceis?

Estudantes encontram dificuldades em como começar; poucas aulas, por exemplo, tratam do assunto

Por Caio Santana

Crédito: Cecília Bastos/ USP Imagens

Neste ano, o Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP (SIICUSP) reuniu trabalhos de estudantes nas unidades de seus orientadores. Com inscrições em julho e agosto, as apresentações começaram em setembro e vão até o dia 11 de outubro. A última etapa é a internacional, que ocorrerá em 5 de novembro, selecionando 10 trabalhos para apresentações em universidades estrangeiras.

Embora as unidades da USP tenham recebido o SIICUSP 2019, ainda não há grande divulgação, sobretudo quanto ao pontapé inicial que um estudante tem que dar para essa primeira base de pesquisa acadêmica.

“As ICs são pouquíssimas divulgadas, o próprio SIICUSP tem um caráter muito formal”, afirma Flávio Velosquini, estudante da Letras. Ele também relatou a dificuldade em professores abrirem espaço em suas aulas para falarem sobre Iniciação Científica (IC). Cria-se um ciclo de exclusão: “Se você não estiver fazendo uma IC, você não vai saber como que faz uma IC”. Por esse motivo, ele diz que ter um amigo pode facilitar muito na hora de iniciar o projeto. “Se não fosse por isso, eu estaria 100% perdido.”

Outros alunos concordam com Flávio. Jéssica Rosa, que faz História na Unicamp e apresentou sua IC sobre a imprensa de São Tomé e Príncipe para entender as ambições e projetos da elite durante a primeira colonização portuguesa, no bloco Mídia e Política do SIICUSP na FFLCH, acrescenta que muitas das ICs são divulgadas apenas entre os pesquisadores. “Porém, isso não é um problema da IC em si, é uma questão da pesquisa no Brasil e de nós pesquisadores, que não temos um bom canal de comunicação para divulgar nossas pesquisas.”

Opressão?

Nem todos vivenciam boas relações entre o andamento de suas pesquisas e os orientadores, que deveriam estar presentes para auxílio, consultas e direcionamentos. Entrevistado que não quis ser identificado, por motivos óbvios, estudante de Letras-inglês, começou sua IC para dar continuidade aos trabalhos de pesquisa de seu amigo, que tinha ido para o intercâmbio. “Mas foi uma IC que posso chamá-la de criminosa, porque era muito mais eu ser assistente pessoal de uma madame do que realizar pesquisas.”

Antes dessa experiência, ele tinha uma ideia meio glamourizada e pouco realista sobre as ICs. ”Achava que era só fazer pesquisas de menor fôlego, com um caráter mais de mapear, sem aprofundar tanto questões teóricas.”

Bolsa-auxílio

Muitos que fazem ICs buscam o aprendizado, considerado a parte mais importante. Tiago Marciano, primeiranista de Economia na FEA acredita que as ICs são um bom caminho para se ter ideia de qual área seguir na carreira profissional, estando na faculdade. “Ainda há a questão das bolsas com remunerações, que apesar de baixas, ajudam em custeamentos, principalmente para alunos com menos condições financeiras”, acrescenta.

E foi justamente por isso que João Pedro Gusão, aluno de Geologia no IGc, decidiu fazer sua primeira IC. “Eu estava precisando de dinheiro, fui atrás de um professor que eu gostava muito e ele estava com um projeto aberto. Eu li, gostei muito e acabei fazendo duas ICs no final.” Segundo ele, dentro do IGC, os professores são muito receptivos à orientação de interessados.