Trans-formação: veremos o dia?

Temáticas de gênero têm crescido bastante na última década nas mídias. Feminismos e LGBTs ocupam páginas de jornais e revistas e espaço em rádio, televisão e internet. Podemos dizer que é uma bem-vinda tendência que caminha em direção de formas mais democráticas de convivência e de respeito à dignidade da pessoa humana. Aliás, cidadania e dignidade da pessoa humana são dois fundamentos do Estado Democrático de Direito, conforme o artigo 1º da Constituição. No preâmbulo da Constituição, a afirmação de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos é um chamado de consciência e ação nos dias que correm.

Dulcilia Buitoni. Crédito: Arquivo Pessoal

A edição 504 do JC fez uma cobertura bastante consistente sobre vivências transexuais na USP, com direito a chamada principal na capa, foto de uma aluna e título criativo (USP transformada). A matéria especial conta as trajetórias de três estudantes trans e suas formas de resistência, provocando identificação e reflexão em seus leitores. Traz ainda um link “hipertextual”, ao indicar num box a série Transexuais no Brasil, do Correio Braziliense Online. O JC apresenta uma boa entrevista com a professora Gabrielle Weber, docente trans da Escola de Engenharia de Lorena, uma matéria sobre esporte feminino e outra matéria sobre um time LGBT. Ainda há a reportagem sobre o Show Medicina que, no entanto, não deveria ter tido chamada na capa – outras matérias como os dois textos sobre Iniciação Científica, os professores seniores ou a reforma do anfiteatro mereceriam esse destaque.

Na editoria de cultura, as críticas cinematográficas deveriam ter incluído a ficha técnica de cada filme. Percebo um cuidado maior com a documentação fotográfica, especialmente a foto da capa. Revendo as quatro edições que examinei, sinto falta de matérias que enfoquem a infância: afinal, crianças também fazem parte do dia-a-dia da USP. Desde que nasceram, elas são cidadãs e precisam crescer em ambientes saudáveis, estimulantes e solidários. Ambientes de convivência e de respeito entre todos os gêneros, a grande transformação desejada e pela qual precisamos lutar.

 

Por Dulcilia Buitoni, jornalista, pesquisadora e ex-professora da ECA