USP anda falando mal em inglês

Disciplinas e bibliografias do idioma são pouco frequentes e geram barreiras para internacionalização

Por Isabella velleda

Crédito: Cecília Bastos/Usp Imagem

Na maioria das universidades de elite de países de língua não-inglesa, disciplinas em inglês são oferecidas para promover internacionalização. Até para um aluno estrangeiro estudar na Universidade de Varsóvia, na Polônia, ele não precisa saber falar polonês, mas precisa ter um nível intermediário de inglês. E na USP, esse idioma ainda apresenta uma presença tímida, menor do que se pode imaginar.

“É muito mais fácil eu atrair alunos estrangeiros oferecendo disciplinas em inglês do que em português”, explica Kavita Hamza, professora da Faculdade de Administração e Economia (FEA-USP). “E esses alunos, em seus países de origem, têm muita oferta de onde eles podem fazer intercâmbio. Então quanto mais barreiras eles enfrentam para ir a um país, menor a atratividade desse país.”

A criação de disciplinas em inglês na USP só foi permitida a partir de 2015 — antes disso, uma disciplina só poderia existir em língua estrangeira se ela também fosse oferecida em português. Os esforços foram bem-sucedidos em algumas unidades. Na FEA, por exemplo, atualmente 10% das disciplinas da graduação e 30% da pós-graduação são ministradas em inglês — antes de 2015, esses números eram próximos de zero.

Dificuldades e expectativas 

Contudo, como explica Valmor Tricoli, presidente da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI), “devido ao tamanho da universidade, sua diversidade e volume de disciplinas, a presença do inglês ainda é limitada. Não temos dados do impacto desta ação na presença internacional na universidade.”

Implantar essas disciplinas na graduação ofereceu uma dificuldade adicional. Enquanto, na pós-graduação, a bibliografia de base da maioria das disciplinas é em inglês, na graduação costuma ser em português. Além de mudar o idioma das aulas, os professores teriam que mudar a referência.

Ainda assim, Kavita argumenta que os esforços valem a pena: “Para o nosso aluno se tornar competitivo no mercado de trabalho e no mundo, que está cada vez mais globalizado, ele vai precisar aprender inglês.” Isso, porém, requer uma discussão mais profunda: “Já existe uma série de fatores de exclusão na universidade, e nós precisamos pensar em como eliminá-los, não acrescentar mais um.”