Vozes fortes nos chamam

Dulcilia Buitoni. Crédito: Arquivo Pessoal

A cada edição, mais vozes aparecem, veementes, contando cenários preocupantes e também algumas perspectivas animadoras: na 506, tudo veio com mais força, mostrando ações de luta por construir uma ciência e uma cultura solidárias. Um saber num caminho de liberdade e igualdade. A capa traz temas de grande peso: represálias sofridas por uma cientista do Instituto Butantan que mostrou os danos de agrotóxicos em testes com peixes (bem marcado no título a condição de ser uma pesquisadora mulher); denúncias de fraudes no uso de cotas para pretos, pardos e indígenas, documentos e mapas do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros que podem ser leiloados para pagamento de credores do falido Banco Santos e algum sopro de esperança nas falas de estudantes sobre fases da vida universitária. Todas essas matérias foram bem escolhidas para figurar na primeira página. A imagem do estudante ao lado do painel grafitado da EACH da USP Leste sai do lugar comum de referenciar a universidade.

O tempo é de política. Política em todas as páginas, nas linhas e entrelinhas, da capa à última página, sempre literária, mas atuante. Algumas mensagens: a oposição do DCE, mesmo criticando, ressalta que o momento é de buscar a unidade para enfrentar os desmontes da educação; agitações na América do Sul; obras paradas; capivaras vivas e mortas na raia olímpica; esportes. A cultura bem representada traz a novidade sobre a batalha de poesia do Slam Usperifa. Falta informação; a USP ainda é desconhecida de muitos. O aluno morava do lado da USP Leste e não sabia que universidades públicas existiam. As histórias dos três estudantes sugerem alento. Um estudo da pró-reitoria de graduação, nos anos 1990, propunha que, se fossem utilizados os períodos ociosos, muito mais vagas poderiam ser oferecidas, sem precisar construir novos prédios.

Neste meu último comentário, reforço que jornalismo tem que ter olhos, ouvidos e coração para educação, saúde, meio ambiente, infância, gênero, violência, desigualdade. Cara gente branca, cara gente negra, cara gente amarela, cara gente de todas as cores, precisamos tornar mais caras nossas relações, nossas universidades, nossas cidades, nossas vidas.

Por Dulcilia Buitoni, jornalista, pesquisadora e ex-professora da ECA