Os inumeráveis da USP (Edição 518)

 

 

por Ana Beatriz Rodrigues, André Amorim e Mariana Carrara

Arte: Luana Franzão

 

Com o passar dos meses, a pandemia do coronavírus gerou uma reação apática aos números diários de mortos e infectados, uma sensação de banalidade. Seguindo a iniciativa do site Inumeráveis, para nos lembrar da história e significado de cada vida levada durante esse período, o JC entrou em contato com todas as unidades da USP para homenagear os membros da nossa comunidade que nos deixaram em decorrência da covid-19 ou por outras complicações.

 

Airton José de Albuquerque

Airton era funcionário da Seção de Protocolo da Faculdade de Saúde Pública da USP. Faleceu em 12 de março de 2021, aos 54 anos.


Alex da Silva Alves 

Alex era Professor Associado da Esalq, com mais de quinze anos de experiência acadêmica e de consultoria. Atuava nas áreas de avaliação de ciência, tecnologia e inovação, análise financeira e “valuation” de empresas e projetos, atendendo a pequenas e médias empresas, assim como a organizações nacionais e internacionais. Desde o seu ingresso na universidade, foi reconhecido por seus colegas docentes e, em especial por seus alunos, pela sua dedicação ao conhecimento, criatividade, e, sobretudo, pela sua capacidade de comunicação. Seu falecimento ocorreu no dia 3 de Junho de 2021.


Antonio Pescarini

Antonio foi aluno da primeira turma da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP). “Engenheiro que projetou seguras pontes, estaçòes de tratamento, a própria fábrica e prédios com a mesma habilidade de quem resolvia a maioria dos problemas de casa com um alicate e um pedaço de arame caso faltassem as ferramentas apropriadas”, contou seu filho em homenagem na Folha de S.Paulo. Pescarini faleceu dia 21 de Maio, aos 90 anos.


Benedicto Heloiz Nascimento

Benedicto era professor titular aposentado do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, com graduação em economia e doutorado em história econômica. Obteve sua livre-docência em 1991, com a tese “Nova ordem, outro progresso: o nacionalismo como política brasileira no desenvolvimento”, tornando-se professor titular em 2005.

Realizou estudos e pesquisas em política e desenvolvimento econômico, em especial os processos de industrialização e modernização da economia e sociedade brasileiras. Nascimento publicou diversas obras ao longo de sua carreira acadêmica, entre elas “A Ordem Nacionalista Brasileira” (2002), “O Desenvolvimento e seu Modelo” (1986) e “Formação da Indústria Automobilística Brasileira” (1976). Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, o Prof. Benedicto orientou discípulos no desenvolvimento tanto de pesquisas de mestrado quanto de doutorado. O IEB emitiu nota de pesar, manifestando solidariedade “aos familiares, colegas e inúmeros estudantes do grande professor”.


Carolina de Oliveira Rocha

Carolina era aluna da Faculdade de Saúde Pública da USP e cursava o Bacharelado em Saúde Pública, pertencendo à Turma 7 do curso. Carolina faleceu no dia 02 de junho de 2021, aos 37 anos recém-completados, em decorrência de complicações da COVID-19.

Em nota de pesar, assinada pela Comissão Organizadora do Curso de Saúde Pública, a Comissão de Graduação e a Diretoria, a FSP manifestou-se afirmando que “toda a comunidade da Faculdade de Saúde Pública da USP está se mobilizando de forma a lembrar que foi mais uma vida preciosa perdida por essa doença que assola nosso país”.


Clara Batista Lorigados

A Dra. Clara Batista Lorigados era médica supervisora da UTI do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A Dra. Christina G. Novaes, em nome da FMUSP, prestou homenagem:  “Médica, mãe, irmã, mulher de grande força, coerência, empenho e generosidade. […] Segundo colegas, era muito determinada e focada no paciente. Evoluía um de cada vez, de maneira concentrada, completa e profunda. A função de coordenadora, agregou muito em termos de união e incentivo, preocupando-se com todas as equipes: de médicos, da enfermagem, da limpeza.” O texto completo pode ser acessado aqui. Clara faleceu no dia 5 de Junho de 2021.


Enivaldo Nunes Vieira

Enivaldo era funcionário da Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C), da Seção de Áreas Verdes. A PUSP-C comunicou com pesar a perda e escreveu “Transmitimos nossas condolências à família e amigos.” O servidor faleceu em 20 de junho de 2021. 


Helaine Martins

Carioca, mas de família do Belém do Pará, Helaine se tornou conhecida pelo plano de tornar o jornalismo plural e diverso, principalmente com o seu projeto “Entreviste um Negro”, fundado em 2005 com parceria entre a jornalista e o veículo Mundo Negro, que estimula a escolha de profissionais negros como fontes de pautas diversas do meio jornalistíco independente do assunto e do tema. Em 2014, impulsionada pelo seu interesse em estudos sobre feminismo e questões raciais, fez pós-graduação em Cultura, Educação e Relações Étnico-Raciais, na ECA/USP, onde nasceram as ideias de seus principais projetos: Entrevista um Negro e Idánimo. Fora do ambiente jornalístico, escreveu três livros, sendo um deles como participante da coletânea “Eu amo correr”, da série “Eu amo…”, da editora Mol. Helaine faleceu no dia 3 de Julho após uma parada cardiorrespiratória, aos 41 anos. 


José Carlos Serrano

José Carlos foi contratado em agosto de 1973 como auxiliar de laboratório no Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. A partir de 1975, colaborou, principalmente, com os docentes do Setor de Ecologia, auxiliando-os nas atividades, disciplinas de graduação, e em suas pesquisas com abelhas e vespas. Conforme alunos de pós-graduação se associavam ao laboratório, José Carlos passou a ter novos desafios. Pela experiência e conhecimentos acumulados ao longo do tempo, ele passou a ser o “primeiro orientador” dos alunos que a ele recorriam em busca de soluções para as dificuldades que surgiam. Embora, às vezes, ele parecesse “rabugento”, sua disposição em ajudar o próximo e seu bom-humor contagiante acabavam conquistando a simpatia dos alunos, colegas e amigos. Ele faleceu no dia 30 de Janeiro de 2021. “Assim perdemos um amigo de quarenta e cinco anos de convivência e colaboração, e o Departamento de Biologia e a FFCLRP perderam um excelente funcionário digno de ser indicado como ‘um exemplo a ser seguido'”, disse a Faculdade em nota. 


Luiz Humberto Gomes

O Sr. Luiz era funcionário do Departamento de Ciências Exatas (LCE) da Esalq, atuando na área de Química. Seu falecimento ocorreu no dia 28 de Maio de 2021.


 Mario Thadeu Leme de Barros

Mario foi Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHA) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo em 1976, onde continuou seus estudos adquirindo os títulos de Mestre em Recursos Hídricos (1984) e Doutor em Sistemas de Recursos Hídricos (1989) e se tornou professor. Tamanha era sua ligação com a Universidade, que representava a USP no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e no Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Mario faleceu dia 2 de julho de 2021.


Ricardo Antunes Andreucci

Docente desde os anos 1960, Ricardo sagrou-se Professor Titular do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia (DPM) da Faculdade de Direito da USP em 1980. Sua contribuição foi para além da Academia, tendo também sido Advogado e Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, além de membro da Comissão de Reforma do Código Penal de 1984 e grande poeta. Consultor e confidente de tantos e muitos hoje ainda professores, deixa marcas profundas. Ricardo faleceu no dia 21 de Junho de 2021.


Sérgio Mascarenhas

Natural do Rio de Janeiro, o Professor Sérgio Mascarenhas trabalhou como professor visitante em diversas instituições do mundo, e, ao chegar a São Carlos com o intuito de contribuir para a criação da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), também reuniu um grupo de professores que viabilizou a criação do Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC), em 1968, dando início à interiorização das ciências básicas no Estado de São Paulo. O instituto foi tão bem sucedido que acabou por originar duas das unidades mais produtivas da Universidade de São Paulo: o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e o Instituto de Química de São Carlos (IQSC).

O Prof. Mascarenhas também contribuiu para a aplicabilidade do conhecimento nas áreas, dando início a laboratórios experimentais que promoveram o avanço da chamada Física da Matéria Condensada, e em áreas interdisciplinares, como a biofísica. Ele também formou a Unidade de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação (UAPDIA), da Embrapa, em São Carlos, que desenvolveu a aplicação de física, química e engenharia à agricultura e pecuária.

Em colaboração com o deputado federal Ernesto Pereira Lopes, também foi fundamental para a formulação e início das atividades da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo aí criado o curso de Engenharia de Materiais – o primeiro na América Latina. Defendia a ciência como um dos pilares do desenvolvimento da nação, almejando um país que avançasse com autonomia no caminho da ciência, da computação, Inteligência Artificial, robótica e nanotecnologia, evitando a colonização por tecnologia estrangeira.

Em nota, o IFSC expressou a admiração pelo professor e o pesar pela sua passagem, afirmando que “Sérgio Mascarenhas tratou a todos com dignidade e, com isso, fez uma infinidade de amigos, sempre dizendo que os alunos tinham que superar seus mestres. Essa postura e simplicidade motivaram que um grande número de jovens se dedicasse à ciência e superasse seus próprios limites”, e pontuando uma frase célebre do professor, de que “Um cientista deve sempre exercer uma função social“. O instituto afirmou ainda que “Seus feitos e sucessos motivarão, certamente, diversas instituições brasileiras”, e que a “grande responsabilidade deixada para aqueles que ficam é imensa, já que levar adiante e ampliar os feitos do professor Sérgio Mascarenhas exigem fortes habilidades intelectuais, energia imensa e, principalmente, coragem de leão”. O professor faleceu no dia 31 de maio de 2021, aos 93 anos.


Zelia Ladeira Veras de Almeida Cardoso

A Profa. Zelia foi a primeira formanda do Programa de Pós-Graduação Letras Clássicas da FFLCH, o qual acaba de completar 50 anos de existência. Atuou no DLCV/FFLCH entre 1973 e 1998, aposentando-se como Professora Titular de Língua e Literatura Latina. Listar todas as atividades que desempenhou na Faculdade é quase impossível, tamanha a sua contribuição. Fora da FFLCH, sua atuação não foi menos notável. Participou, em 1985, da criação da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, de que foi sócia honorária e também presidente (1995-1997). No âmbito privado, a Profa. Zelia foi presença constante na vida de seus familiares, amiga querida de seus conhecidos, frequentadora assídua das salas de teatro, já que este era para ela objeto de pesquisa, bem como de fruição. Ela faleceu na madrugada do dia 10 de julho de 2021, dois dias após completar 87 anos de vida.

Está faltando alguém?
Caso tenha conhecimento de alguma pessoa a ser homenageada, que fazia parte da comunidade uspiana e veio a falecer por conta do novo coronavírus ou outras decorrências, entre em contato com o JC.